Num giro de fusca até Itapuã com Ivan Motossserra Surf & Trash a gente vai!

Itapuã Surf Beat, uma brisa sonora onírica de deslocamento vintage por uma Itapuã anti-Vina.

 

“Um velho calção de banho

O dia pra vadiar

Um mar que não tem tamanho

E um arco-íris no ar

 

Depois na Praça Caymmi

Sentir preguiça no corpo

E numa esteira de vime

Beber uma água de coco é bom

 

Passar uma tarde em Itapuã

Ao sol que arde em Itapuã

Ouvindo o mar de Itapuã

Falar de amor em Itapuã”

 Trecho de Tarde em Itapuã de Vinicius de Moraes e Toquinho

Eu duvido que você tenha conseguido ler estes versos sem cantarolar, mesmo que mentalmente, a melodia dessa que é uma das músicas mais conhecidas do repertório da assim rotulada MPB. Contudo, a Itapuã descrita nos versos de Vinicius de Moraes, calma e idílica, não existe mais. Aliás, deixou de existir há algumas décadas já. 

Tarde em Itapuã tem uma inserção tal no imaginário popular, que acabou consolidando a imagem da Itapuã viniciana. Quando as pessoas visitam Salvador pela primeira vez, querem conhecer Itapuã e acabam se decepcionando ao perceberem haver um grande descompasso entre aquilo que veem diante de si e a imagem mental construída pela música de Toquinho e Vinicius de Moraes. 

Para conhecer a Itapuã atual é melhor embarcarmos no fusquinha da Ivan Motosserra Surf & Trash. Conduzido pelo guitarrista da banda, Rogério Gagliano, somos levados de carona pela orla soteropolitana em direção a Itapuã anti-Vina. Pela janela nossos olhos acompanham as belezas naturais típicas de cidades litorâneas, porém, a aproximação de Itapuã vai revelando os contornos urbanos característicos das grandes cidades. 

A contradição geográfica que compõem o atual bairro de Itapuã, conjugando elementos naturais e urbanos, é o que dá a especificidade do local e o destaque dentro de Salvador. Não é por acaso que os punks de Itapuã também possuem essa “contradição” no seu visual e na sua música.  O surf & trash da Ivan Motosserra agrega esses dois mundos responsáveis por caracterizar a sonoridade da banda.

Por isso mesmo Itapuã Surf Beat reflete tão bem o espírito e a personalidade da banda. Através desta música entramos em contato com a dualidade que liga de forma íntima a banda e o seu bairro, o seu território. Quando botamos a música pra rolar entramos em contato tanto com a suavidade da brisa marítima, quanto às tensões provenientes do caos de se viver num bairro popular e populoso de uma capital das dimensões de Salvador. 

Outra marca registrada da banda são as boas escolhas de efeitos sonoros e os temperos timbrísticos da guitarra para diferentes situações contidas na música. Rogério Gagliano, sempre cuidadoso e muito preciso ao escolher os matizes sonoros que irão estruturar a música. 

No clipe vemos a ligação entre Rogério e seu fusquinha. O preâmbulo nos mostra o rolé de Rogério e seu fusquinha pela orla soteropolitana. Uma música bem cadenciada ao fundo cria uma atmosfera suave. Um clima intimista surge, mostrando que o motorista está feliz por desfrutar de um momento compartilhado com quem lhe faz tão bem. Temos um clima tranquilo, suave, de relaxamento e completo bem estar. Podemos notar todo prazer de Rogério por estar roleando por aí no seu fusquinha.

Chega a noite e Rogério vai dormir feliz da vida por ter curtido o dia com seu fusquinha. A cena que se segue é do guitarrista se preparando para dormir. Quando o sono chega e o derruba, tudo mudo de repente. Isso porque entra uma música mais rápida, cheia de tensões e de repente temos a imagem de fuscas aos pedaços disputando uma corrida num circuito lameado, irregular, no qual os carros colidem uns contra os outros, batem em ondulações na pista, em montes de terra, danificando ainda mais os veículos. 

Quando a câmera traz de volta à cena Rogério dormindo, percebemos que o sono não é mais tranquilo e o cara está agitado na cama. Isso porque um pesadelo o atormenta. E aí nos damos conta do porque das cenas da corrida dos fuscas. O rally dos fuscas é o próprio pesadelo!

Imagine você, depois de um dia compartilhado com seu bem, quando você recosta sua cabeça no travesseiro para finalizar aquele dia radiante, das profundezas do seu inconsciente sai, por uma fresta surgida durante o sono, a representação do seu companheiro amado diante de uma situação de perigo extrema como aquela.

Este clipe não é outra coisa senão a declaração de amor de Rogério Gagliano ao seu fusquinha bege. Amor este revelado através do pesadelo no qual o fusquinha aparece numa situação de extremoso perigo. Quem disse que punks não sabem ser românticos?! Eles o são, ao seu modo, mas o são. A maior prova de amor vem quando surge o medo de perder a quem se ama, ou vê-lo ou vê-la em perigo ou acometida por algum mal.

E foi isso que testemunhamos no clipe, essa verdadeira declaração de amor!!

Concepção e produção: Clipopems Rock/ Arthur Caria com Rogério Gagliano e Rodrigo Gagliano.

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Rogério Gagliano – guitarras

Rodrigo Gagliano – bateria

Galf “Aspecto” – baixo

Gravada em 2020 por Arthur Caria/ Clipoems Rock.

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Crédito do vídeo do Rally de Fuscas:

“Sockcar-races in the rain” – 

Polygoon – Profilti (producer)

Netherlands Institute for Sound and Vision (curator) 1973

Licença Creative Commons – Attribution-Share Alike CC – BY – SA openbeelde

 

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