Você sabia que o É o Tchan já tocou no Montreux Jazz Festival?

Você sabia que o grupo É o Tchan já tocou no maior festival da história do Jazz? Isso aconteceu na edição de 1997 do Montreux Jazz Festival.

Brasil e Montreux Jazz Festival

O Brasil e o Festival de Jazz de Montreux – que fica localizado na Suiça – possuem uma relação duradoura e que diz muito sobre a pluralidade da música brasileira. Fundado em 1967 pelo produtor suiço Claude Nobs, junto com seus compatriotas, o pianista Géo Voumard e o saxofonista e jornalista René Langel, o festival (que ocorre anualmente), se mantém com vitalidade até os dias atuais, tendo sido cancelado apenas uma vez, em 2020, em função da pandemia do Coronavírus.

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São quase 60 anos de história. Para se ter uma ideia do tamanho do legado audiovisual desse evento – que é o maior e mais tradicional festival de Jazz do mundo – todo o material de gravação que foi registrado durantes todos esses anos foi declarado como patrimônio da humanidade pela UNESCO. Com apresentações icônicas de artistas como o guitarrista irlandez Rory Gallagher e o gigante do Soul, James Brown (aka Mr. Dynamite), também já exibiu muitos artistas brasileiros.

A importância de Gilberto Gil para a história do Festival

Gilberto Gil tocou pela primeira vez no festival em 1978 (com a Cor do Som). Por falar em Gil, vale lembrar que ele é o artista brasileiro que mais vezes figorou no line up de Claude Nobs, desde que o festival foi criado, em 1967. Ao todo, Gil soma 13 apresentações, realizadas entre 1978 e 2015, o que o coloca ao lado de lendas como John Scofield, Stanley Clarke e Wayne Shorter.

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Uma de suas gravações antológicas (“Gilberto Gil: ao vivo em Montreux“), é fruto dessa já citada passagem pelo encantador festival, que começou com sede no Cassino Montreux e depois foi se expadindo – em espaço e duração – às margens do lago Geneva.

Azymuth no Cassino Montreux

A primeira banda nacional que tocou no Montreux Jazz Festival foi o Azymuth, que fez suas estréia no festival em 1977. De lá pra cá, muitos músicos brasileiros passaram por lá, mas vale ressaltar que o público europeu já estava bastante ciente do que estava acontecendo na música brasileira, pois muitos artistas brasileiros já tinham ido se apresentar no festival do MIDEM, que acontece em Cannes. 

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Numa das entrevistas que nos concedeu, Marcos Vale comenta sobre o caso:

“Você sabe como o “Vento Sul” nasceu? Havia um grupo chamado o Terço, na verdade ele existe ainda, mas originalmente era o Vinicius Cantuária (bateria), Sérgio Hinds (baixo), Jorge Amiden (guitarra) e César Mercês (voz). Num certo momento, eles sabiam que eu ia para o Midem em 1971, que é um festival que acontece em Cannes.
Não é um festival competitivo, é um festival que eles trazem atrações do mundo inteiro e aí me chamaram, fui eu e a Maria Bethânia representar o Brasil. O Terço, sabendo que eu ia, eles vieram se oferecer pra ser a minha banda”.

Isso explica o fato do evento ter recebido artistas como Hermeto Pascoal, Gal Costa, Milton Nascimento, Jorge Ben Jor e Ney Matogrosso, por exemplo, depois que o Azymuth abriu a porteira em 1977. Citei essa questão do Festival do MIDEM, pois o produtor musical André Midani que era responsável por ambas as pontes: tanto para Montruex, quanto para Cannes.

André Midani era amigo de Claude Nobs e já revelou em entrevista que chamou diversos artistas brasileiros que tinha conhecido no mesmo festival, que acontece desde 1968 e funciona como um grande encontro dos grandes empresários do ramo da indústria musical.

É o Tchan do Brasil

e-o-tchan-do-brasilNo entanto, uma das passagens de bandas nacionais pouco relembrada por jornalistas é o show do É o Tchan. O grupo se apresentou no festival na edição de 1997, com uma formação composta por Beto Jamaica, Compadre Washington, Carla Perez, Jacaré e banda (que infelizmente não pude creditar, pois não achei registro dos músicos que fizeram o show).

Vale lembrar que em 1997 o É o Tchan figurou na mesma programação que contou com mestres como Chick Corea, Herbie Hancock, Joshua Redman e Ahmad Jamaal, por exemplo. Entre os artistas brasileiros que também tocaram nessa edição, é possível mencionar Djavan, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

O show do É o Tchan é um dos espetáculos mais eletrizantes que o palco do Montreux Jazz Festival já recebeu. A parede do instrumental é densa e retrata com uma precisão digna de motrônomo, todo o swing do Pagode Baiano. A rítmica justifica o motivo pelo qual Carla Perez e Jacaré dançam com tanto vigor.

A percussão, os metais, backing vocals, enfim, todos os elementos estão muito bem entrosados, marcando o tempo com muita pressão e o resultado é um set fulminante.

Compadre Washington e Beto Jamaica estão no mínimo à vontade nesse show. Ambos conversam com a plateia como se estivessem na Bahia, tocando para o público da terra natal do grupo, Salvador. Falando Português em alto e bom som, depois da abertura do espetáculo – com “Paquerei”, bastou uma faixa para os europeus começarem a dançar com o mesmo swing de um cone.

Quando chega em “Pau Que Nasce Torto/Melô do Tchan” todo o público está completamente descontrolado. É possível conferir essa pérola no YouTube. O show está com uma qualidade aceitável, o suficiente para mostrar a potência e o quê irresistível dos ritmos nordestinos.

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