Bolodoido Musical Vol. 11 – Rap BA, Respeito aos que vieram antes pois “Um povo sem memória é um povo sem história” (Emília Viotti da Costa).
Não é novidade pra ninguém que o rap soteropolitano, ao menos dentro das fronteiras de São Salvador, está no “hype”. São festas e mais festas, marcas bombando e uma quantidade imensa de material sendo produzido e lançado quase que diariamente. A divulgação desses artistas também cresceu nos últimos anos, aqui mesmo no Oganpazan, se você der uma passeio rápido pelo site vai ver diversas publicações referentes ao estilo, destaco aqui a coluna Panorama do Rap Baiano, do chefe Danilo.
Ok, mas isso não surgiu do nada, e o que vejo muito por ai é não se buscar a raiz desse movimento todo. Não sou, nem de longe, a melhor pessoa pra falar de rap, meu bagulho é hardcore e do rap quem é do rap cuida, mas é de cair o cu ouvir por ai que moleque de pouco mais de 20 anos de idade é a revolução do rap soteropolitano, pior, quem geralmente diz isso começou a ouvir rap de uns 03 anos pra cá. Vey, na boa… você não sabe de porra niuma da caminhada árdua até o rap chegar nesse nível, muitos e muitas vieram antes desse hype todo, desbravando, lançando trampos excelentes ou fazendo apresentações memoráveis, em épocas que ninguém queria olhar ou dar visibilidade ao estilo.
Então, sem papo de nostalgia ou pagação de pau pra “velha escola”, vou apenas apresentar a vocês um pouco do que se fazia a trancos e barrancos nessa cidade, quem semeou o que muitos estão colhendo agora.
Vale destacar que a situação era de tanta luta, os tempos eram outros, que até pra achar materiais de certos grupos na internet foi complicado. Muitos grupos importantes sequer lançaram material, outros lançaram mas se perderam pela internet ou jamais foram jogados nas redes, destaco aqui Sr. Raneo, que busquei nas redes e não achei.
Esse post eu dedico a dois selos que foram bem importantes para os lançamentos de artistas locais, Positivoz do pessoal da Versu2 e Frequência de Nouve, que fazia um trampo total Do it Yourself e funcionava como distro, permitindo o acesso de vários materiais que saiam pelo Brasil. Também dedico a Tiago Ramses que encabeçou o projeto #Euapoiorapba, que serviu pra dar visibilidade aos artistas locais.
Vamos aos grupos:
– Testemunhaz
Decidi iniciar com o Testemunhaz, ou Testemunhaz da Periféria, não por ser o grupo mais importante da cidade, todos dessa lista e muitos outros que não couberam aqui são igualmente importantes, mas sim pelo fato de ser um grupo de rap com instrumentos, quando pouco se fazia isso no país, e pelo fato de integrantes do Testemunhaz terem prestado grande contribuição para o rap local.
O Testemunhaz foi idealizado por Fall Clássico, tendo sido o grupo na sua formação mais clássica formado por: Branxer (Guitarra), Rangel A.K.A. Blequimobiu (Baixo), Soneca (Bateria), Manchinha (Trombone), Papi (Trompete), DJ Índio (scratchs) e nos vocais o próprio Fall Clássico, Dimak e Daganja.
Como dito em linhas anteriores, os componentes do Testemunhaz foram bem importantes para a cena local. Fall Clássico além de ter sido um dos idealizadores do CDR – Clube do Ragga, importante festa que rolou em Salvador, fez carreira solo e lançou em 2012 o disco “A Virtude do Inútil”.
DJ Índio montou o Vitrola71, ao lado do seu parceiro DJ Leandro, onde ambos discotecavam freneticamente juntos nos bailes da cidade.
Os demais vocês verão mais abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=HRjA9ya-1MM
– Afrogueto
A Tropa do Afro, como era comumente denominada, tinha como seus guerreiros Preto Seda, DJ Indio, Oz, Kiko e Daganja, e eles botavam pra fuder!
Maluco, Afrogueto era sinônimo de bate cabeça e de shows lotados! Revolucionaram de fato o cenário, arrastando uma legião de outros guerreiros e guerreiras paras suas apresentações.
Em diversos locais era comum ouvir falar da Afrogueto. Shows de hardcore, estádio de futebol, sempre alguém comentava que tinha visto um show dos caras ou que tinha ouvido falar que tinha um grupo na cidade que botava pra fuder, esse grupo eram eles.
– Daganja
Falar em rap soteropolitano e não citar Daganja é até um sacrilégio. O cara fez parte dos grupos Testemunhaz e Afrogueto, fez diversas participações com outros grupos e artista, em especial um trampo foda ao lado de Dimak, bem como em sua carreira solo lançou dois álbuns maravilhosos, sendo um deles o bem produzido “Tá no Ar”.
Daganja segue na cena, com diversas participações e lançando singles. Em 2017 lançou o EP “Bonde36”, pelo selo Santa Fé e ano passado, no finalzinho do ano, lançou um single em parceria com Janaina Noblah, “O mundo da voltas”.
– Dimak
Outra figura importante para cena rap de Salvador é o MC, tatuador e Grafiteiro Dimak.
Dimak além de ter participado dos grupos Testemunhaz e OQuadro (Ilhéus/BA), foi membro da crew mais louca de grafite que essa cidade já teve, Zeroseteumcrew. A Zeroseteumcrew organizava o Mutirão Metemão, evento de grafite que ia nos bairros da cidade para fazer diversas pinturas e, claro, rolava muito som bom com o sistema de som perambulante Ministereopublico, o qual Dimak também fez parte.
Para além disso, Dimak foi Mestre de Cerimônias da batalha de MC’s mais clássicas de Salvador, Fora de Órbita Rap, idealizada pelo selo Positivoz e que rolava na Casa Muv (ex Espaço Insurgente).
– Versu2
Esse grupo foi um dos divisores de água da cena local, aqui passamos de como as coisas eram feitas e como passaram a ser feitas. O Versu2 teve em sua formação Dj Gug e Dj Jarrão, e era composto por Rangel “Blequimobiu” e André “Coscarque”, ambos também faziam parte da Positivoz, selo soteropolitano que foi responsável por lançamentos importantes para o rap local, que organizavam eventos como o Fora de Órbita Rap, criando assim a cultura de batalha de MC’s na cidade e trazendo diversos artistas do país para cidade, tais como Kamau, Marechal, Gutierrez e Emicida, que tocou a primeira vez em Salvador via Positivoz.
Assim sendo, com toda essa correria dos caras, a Versu2 sempre estava lançando clipes, produzindo algo e abrindo os caminhos para o progresso do rap baiano.
– RBF
Outro grupo bem badalado na época era o RBF (Rapaziada da Baixa Fria) graças a música “Cabelo da disgraça”, um clássico no rap local.
– Spock
Spock fazia parte do grupo SCP (Sentimento Coletivo entre Pensadores) ao lado do MC e Grafiteiro Bagga. Um grupo original do bairro de São Caetano e que causou muito barulho na cidade.
Aproveitando as boas apresentações e um nome já firmado na cena, graças ao SCP, Spock lançou seu EP solo intitulado “Literatura interior…”.
https://www.youtube.com/watch?v=l8xJnFAJV4I
– Oddish
Podemos chamar esse moleque aqui de velha escola? Primeiro, nem moleque o cara é mais, cheio de barba na cara, depois idade nunca foi porra niuma pra esse pivety que chegou impondo seu estilo e levando diversas vezes o prêmio nas batalhas de mc’s do Fora de Órbita Rap.
Com seu estilo sarcástico, seu jeito todo largado, Oddish trouxe toda essa postura para as batalhas de rap, servindo de inspiração para muitos outros freestylêros que vieram depois dele.
E como não só de freestyle vive o MC, Oddish lançou uma álbum excelente em 2014, o “Ponteiros voam feito jatos”, que contém uma faixa com outros dois artistas locais Banha e Neto Bicho $olto, a “Discrepância”.
– 157 Nervoso
Em 2009, ou seja, a 10 anos atrás o grupo 157 Nervoso lançava seu primeiro álbum, “Cria Rebelde”.
Detalhe que o álbum foi lançado após 10 anos de grupo, ou seja, se ainda estivesse na ativa o 157 Nervoso estaria com duas décadas de carreira. Né pouca coisa não.
https://www.youtube.com/watch?v=HJRuJvBkAdk&t=125s
– Diego 157
O 157 Nervoso não está na ativa, mas um dos seus membros é simplesmente um dos melhores beatmakers do país, Diego 157.
Além do 157 Nervoso, Diego fez parte da Família Ugangue e da Fraternidade Maus Elementos, duas bancas pesadas de Salvador.
Diego, ainda, vem lançando EPs e permanece ativo na cena, auxiliando outros rappers e artistas da cidade, sobretudo com suas excelentes produções.
Pra finalizar, cabe deixar o link dessa coletânea intitulada Coletânea Rap Baiano, que serve também para minimizar possíveis injustiças de nomes importantes pra cena rap que não foram citados nessa matéria. Na coleta tem nomes como Opanijé, AfroJhow, Simples Rap’ortagem, In.Vés, entre outros.
Sobre o autor:
Dudu é Straight Edge, Membro do coletivo Saco de Vacilo , vocalista da banda Antiporcos, Rubro Negro e viciado em música