Yung Buda, uma lírica única e ambiências singulares, Entrevista!

Yung Buda vai soltar Músicas para Drift Vol. 3 (2021) e conversamos sobre suas influências, a experiência de produzir na pandemia e mais!

Yung Buda

Inserir-se em um cenário muitas vezes saturado de repetições vazias não é um trabalho fácil, a autenticidade é um esforço contínuo em nossa sociedade e não apenas na arte. A reprodução de padrões, de atitudes, de ideias e de hábitos produzem subjetividades “prêt-à-porter”. que por sua vez retroalimentam tudo gerando um círculo vicioso. A indústria cultural obviamente possui muito interesse em produzir músicas iguais em escala industrial. E obviamente com o rap nacional não seria diferente, romper esse ciclo é talvez o maior desafio e implica um ethos desafiador e corajoso o suficiente para romper com tudo isso.

Yung Buda é um artista que chama atenção exatamente por ter inserido algo que não possui nada igual dentro do cenário, em termos de lírica e ambiências, suas músicas propõem outras visões da realidade. Com músicas para Drift Vol. 1 (2017), Halloween o Ano Todo (2018), Músicas para Drift Vol. 2 (2019) e True Religion (2019), o artista conseguiu demarcar um terreno apenas seu, algo que não tem concorrência e nem reflexos aparentes. E certamente, muito disso tem haver com a forma como ele trabalha as referências que lhes são caras, algo que é amplamente conhecido na história da arte. Referenciais da cultura pop japonesa, games, drogas compõem sua paisagem sonora, porém estão longe de encerrar sua arte, não se configuram nesse sentido numa caixinha capaz de lhe conter.

A questão que para nós é importante ressaltar é que se os referenciais são parte de sua formação subjetiva, fica bastante claro que a principal virtude do Yung Buda é a forma e o sentido que ele lhes atribui. Personagens, sons, ideias, se definem não pela significação inerentes aos seus contextos, mas antes de dentro da própria obra do artista. São como cores, timbres, linhas, melodias, harmonias alienígenas que o artista consegue determinar ao seu próprio modo. Longe de ser rap sobre animes, mangás ou drift, são essas mesmas referências nos raps do Yung Buda, que desloca, atualiza e situa essas referências no seu próprio mundo.

Na sexta feira dia 26 de março, vem às ruas o Músicas para Drift Vol. 2 (2021) e aproveitando a oportunidade trocamos uma ideia com o membro da Soundfood Gang, sobre essas e outras questões! Se liga:

Yung Buda Oganpazan –  Cara, ainda lembro do espanto que senti ouvindo seu som pela primeira vez com o Música para Drift Vol. 1. Eu ouvia, me amarrava em cada faixa e não entendia nada com nada, pois as referências todas me eram estranhas. Acho que seu trabalho não precisa de nenhuma referência prévia para ser curtido e inclusive entendido, o que você pensa sobre isso?

Yung Buda – Bom, eu acho que além da lírica, da escrita, os elementos musicais e a estética, por exemplo o sample, que é um fator que eu gosto muito de usar na minha música, é um dos fatores mais importantes, pois o sample traz ambiência. Muitas vezes, a escolha de um sample bom, mesmo que você esteja falando de um assunto que a pessoa não entende, se você de alguma forma tenta aproximar ela da sua música, de sua arte, isso deixa mais simples o entendimento da intenção da música!  

Oganpazan – Dentro dessa perspectiva, como você pensa o seu esquema de rimas e a criação das batidas dentro do que acho que já podemos chamar de estilo Yung Buda? 

Yung Buda – Eu acho que o que seria o estilo Yung Buda, é a questão de unir a produção do beat, escrevendo a letra, enquanto pensa na estética já, como ela seria visualmente, pensando na música visualmente. Eu penso que é o conjunto desses fatores; O fato de eu fazer os meus álbuns sempre com a minha produção não é à toa, é porque a minha produção já está presente no momento eu que eu tô escrevendo, eu já tô ali fazendo as rimas e pensando como elas serão representadas visualmente, então a minha intenção de representar elas verbalmente é o que faz a magia, o que deixa a estética ser tão fácil de ser entendida.   

Oganpazan – Buda, tem um clima um pouco melancólico eu diria e muita agressividade em suas músicas, a música é um local para você descarregar suas angústias? Como você compõe suas ideias?

Yung Buda – Sim sim, a minha música pelo menos assim, ela busca se comunicar mais com as pessoas que já passaram por algo que eu já passei às vezes. Eu tento falar de um modo que não fique óbvio, eu tento deixar a linguagem mais poética, mas eu faço a música  pra quem se identifica, para quem sente as coisas como eu sinto, para quem consegue absorver as coisas que eu tô tentando passar e rola muito disso, pois é uma música carregada de sentimento.Eu tento criar ali uma atmosfera juntando a lírica, a produção, o sentimento, para deixar cada vez mais autêntico, e obviamente o sentimento tem que estar sempre bem presente nas composições. 

Oganpazan – Artistas geralmente trabalham dentro de um universo de referências, literatura, cinema, pintura etc… A cultura japonesa é muito rica em filosofias, arte, história, e você utiliza-se de elementos da cultura japonesa para compor, além de mangás e animes, da cultura do drift, o que mais te inspira nesta cultura em especial?

Yung Buda – Então, o meu nome já né, Buda eu busquei porque eu queria uma referência oriental, que eu não tivesse usando alguma coisa tão forçada como um nome japonês aqui no Brasil, até porque sou um cara negro, e eu acho que não teria muita verossimilhança eu usar um nome japonês para minha arte. Mas, o que que acontece, os mangás, os animes, a cultura do drift foi mais uma porta de entrada, um chamariz, e são coisas que me influenciaram desde a minha infância, minha adolescência, são coisas que me trazem uma nostalgia, pois eu assistia muito novo e naquele momento eu comecei a entrar na cultura, conhecer a cultura de carros e por aí foi. 

Oganpazan – Outra influência que nos parece bem forte em seu trabalho são os games, fala um pouco da importância deles em sua vida, e o que é que um jovem adulto como você vai buscar num jogo como Donkey Kong? 

Yung Buda – Sim, os games são também partes bem influentes na minha música, eu sempre fui bem recluso, nunca tive muita liberdade dos meus pais, então eu sempre gastei muita energia com games, eu aprendi a falar inglês com videogame, sabe, autodidata. Por isso, ao usar um sample de Donkey Kong na minha música, eu busquei que as pessoas sentissem a mesma nostalgia que eu tenho com os videogames, que não é algo mais tão presente na minha vida, mas é uma parada que marcou muito, e acho que é uma parada que a galera se identifica também. 

Yung Buda Oganpazan – Cara, como você lida com a carreira artística, com os fãs e de que modo você lida com a ideia de seguir criando e buscando se superar artisticamente?

Yung Buda – Então, por um bom tempo isso foi um problema para mim, eu sempre me senti dividido entre fazer o que eu gosto e fazer algo que vai agradar o público, algo que a fanbase espera. Mas eu sinto que o público em geral, todo mundo que escuta, entrou em contato ali comigo porque viu que é uma coisa nova, então hoje não tenho tanto medo de experimentar, por exemplo. Mas, eu busco sempre fazer algo que me agrade, se eu sinto que me agrada, eu sei que meus fãs vão gostar também, que o público vai admirar, vai curtir.

Oganpazan – Você acredita que sua música, sua arte possui alguma missão extra-musical? O que você pensa do esvaziamento da cultura hip-hop, que dentro da indústria cultural cada vez mais tem seus elementos separados?

Yung Buda – Eu acredito que minha música é uma expressão sincera, ou polida demais ou polida de menos, às vezes, sobre o modo como penso, como eu vejo as coisas. E eu tento sempre não trair o meu objetivo real ali, que é tá fazendo a arte, que é fazer o meu sustento numa arte que eu amo, que eu gosto de fazer, e continuar buscando ser relevante.  

Oganpazan – Vem aí o Músicas Para Drift Vol. 3, após o True Religion, conta um pouco como foi o processo de composição dessa obra, a pandemia afetuou de algum modo na concepção dele, como ele se encaixa na sua obra como um todo?

Yung Buda – Então, os três álbuns Músicas para Drift, ao contrário do True Religion e Halloween o Ano Todo que são alguns descontinuados, que são álbuns assim eles carregam a ideia do drift pela minha própria estética, pela própria essência do meu som. O Músicas para Drift é uma carga de referências orientais, de pop culture de coisas do momento ali que estão acontecendo comigo e da minha perspectiva. Já o True e o Halloween, são álbuns que eu penso em conceitos onde eu busquei estéticas até mais experimentais e que eu acho que as pessoas entenderam legal. 

Como a gente tá nessa pandemia e tal, rolou muita coisa diferente, muita mudança rápida no mundo, então esse isolamento, essa trava, com certeza influenciou na minha obra, foi meio complicado, eu senti bastante bloqueio também, essa coisa de ficar travado, a apreensão e a ansiedade, isso aí influencia muito. Agora eu acho que também senti bastante pela questão de estar entregando um álbum, um conjunto de ideias  em que se fosse em algum outro momento, a gente poderia está em outra situação, as ideias poderiam ter sido outras, o álbum poderia sair de outro jeito sabe, então desde a escrita até o beat, as coisas durante a quarentena estão mais pesadas, então o algum pode soar mais pesado também.  

Oganpazan – Qual a sensação de soltar um trabalho e não poder fazer shows? Quando esse novo EP sai? Você pretende fazer uma live para apresentar essas músicas?

Yung Buda – Exatamente como eu já tinha falado, eu tô soltando um album e não tô fazendo show assim como compor um álbum  sem tanta liberdade igual foi, foi uma experiência diferente para mim, que resultou num objeto diferente, numa reação diferente. Então para mim, é muito diferente estar soltando um trabalho que por enquanto não vou estar apresentando ao vivo, a ideia da live é sim uma boa, pretendo sim fazer uma live para apresentar as músicas. 

Eu tô sempre fazendo live na twitch, criei uma comunidade no Dischord também durante a pandemia para ir comunicando com meus fãs e os mais próximos estão sempre lá, pessoal acompanha legal. E assim, o EP vai sair nesta sexta feira dia 26 e eu espero que a galera curta e que eu consiga estar agregando bastante coisa aí, neste último volume.  

Oganpazan – Mano, se tiver alguma pergunta que não fizemos pode responder a vontade, foi um prazer trocar ideia contigo, aproveite também para deixar uma mensagem aos nossos oganautas!

Yung Buda – Queria agradecer ao Oganpazan, por essa oportunidade, por nos dar essa janela aqui e por sempre estar fortalecendo a galera da Soundfood Gang também. E é isso, espero que quem está aí com nós, curta o álbum, consiga brisar porque a gente tá planejando coisas bem legais, tamo planejando camisetas e outros produtos além do álbum e espero que o pessoal curta o álbum e continuem acompanhando a gente nas redes. Valeu! 

-Yung Buda, uma lírica única e ambiências singulares, Entrevista!

Por Danilo Cruz

 

 

 

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