Fayaka Steppaz mixtape, Lord Breu e Ministério Público são VERDADEROZH

Fayaka Steppaz mixtape, Lord Breu e Ministereo Público são VERDADEROZH pontos focais para a re-evolução da música baiana no século XXI, leia

A música preta baiana vem ao longo dos séculos 20 e 21 sendo construída num apego muito firme com a força de suas tradições, mas também trabalhada na pesquisa, sobre a intersecção dos diversos estilos musicais pretos produzidos pela diáspora africana ao redor do mundo. Vimos esse movimento, no final da década de 70 do século passado, quando a influência do reggae jamaicano foi determinante para a criação dos blocos afro. Assim como, poucos anos depois essa influência jamaicana daria origem a toda uma geração oriunda do Recôncavo baiano que foi pioneira na produção do reggae com DNA baiano.

O século XXI traz no bojo de todos os problemas que são enfrentados na capital baiana, uma série de importantissímos movimentos musicais que herdam todo o desenvolvimento e pioneirismo do século anterior e expande majestosamente a herança recebida. O punk/hardcore, o reggae e o rap por exemplo, são expressões de ponta no estado da Bahia, e mais especificamente em Salvador e região metropolitana.

Os anos 2000 viram uma aproximação de artistas e cenas, como o hardcore e o rap, o reggae e o rap, na capital baiana e com fortes conexões no interior do estado (OQuadro por exemplo) e na região metropolitana. Todo esse imenso movimento produziu intersecções musicais, aprimoramentos técnicos e construções de novas linguagens que reverberam hoje no que de melhor é produzido na Bahia. Há toda uma história escondida, subterrânea, que fez com que a se alcança-se uma expressividade e qualidade de produção que é reconhecida em todo o território nacional, mas que se desconhece a origem.

O dj e produtor Lord Breu encarna em seu nome todo esse processo onde a nobreza negra baiana se manifesta através da música. Pesquisador de ponta, preto periférico, esse produtor e dj é um dos milagres diaspóricos onde se pode perceber esse movimento que aqui tentamos começar a traçar caminhos de entendimento.

Do samba reggae aos começos do rap baiano, desenvolvedor de uma pesquisa pioneira em nossas terras, que o levou a cultura do Dub raiz e depois londrino, e o fez caminhar na introdução do Dubstep e depois dos Steppaz. A mente musical desse jovem senhor, é parte fundamental para compreendermos uma parcela significativa de uma revolução silenciosa que vem se operando nas caixas de som da capital baiana. 

Lord Breu filho da cidade baixa, hoje desenvolvendo sua pesquisa no Global Bass, pois entende que existem singularidades locais mas também elementos em comum nas produções da música eletrônica preta, é um dos artistas locais que vem alcançando reconhecimento internacional. Toda essa trajetória do Lord Breu vai encontrar no inicio desse século, o Ministereo Público, onde ali ele pode desenvolver e continuar suas pesquisas, encontrando parceiros e ajudando a aprimorar a nossa música eletrônica preta. E é desse encontro e algumas de suas ramificações que esse texto quer tratar. 

Centro de produção de justiça, o Ministereo Público reuniu uma série de procuradores que produziram na primeira década do século, a jurisprudência musical que hoje o Brasil vem descobrindo em seus desdobramentos. Um coletivo gigante de excelentes artistas se reuniram em torno do primeiro paredão de caixas de som, a emitir dub music em Salvador. Em ações pelas periferias da cidade, em casas de show, o Soundsystem do Ministereo Público foi responsavel pelo fomento da pesquisa e pelo desenvolvimento técnico de muita gente excepcional que hoje está produzindo outros tantos caminhos. 

Se foi no recôncavo baiano na década de 80 de onde saiu o primeiro reggaeman original style do Brasil: Edson Gomes, foi do bairro Boca do Rio onde se localizava o Dubcílio, que o primeiro Soundsystem apareceu de modo incontornável pelas ruas da cidade. A história do Ministereo Público é algo que necessita urgentemente de uma investigação tipo CSI, para que possamos resgatar sua origem e a imensa importância que esse movimento – ainda potente e atuante – seja melhor conhecido.

Recentemente em entrevista ao apresentador Felipe Mascari no canal RapTV, o rapper baiano Vandal, nos deu a pista de uma parte importante da nossa história musical: A mixtape Fayaka Steppaz (2007). E ela própria é já um documento capaz de escurecer a nossa visão sobre tudo que acima ressaltamos.

Lord Breu meets Ministereo Público, as pesquisas de ponta do dj e produtor, naquele momento embarcado no movimento do soundsystem supra mencionado, encontrar os toasters do mesmo movimento e produz uma sessão histórica para a música baiana e brasileira.

Gravado na Freedom Rec Soul, lendário estúdio que registrou e foi espaço de diversas e fundamentais gravações do rap ba, contou com o grande Dj Leandro pilotando a mesa e com o produtor e mc Diego 157  e o grande pioneiro Calibre Mc (criador do Trap Pagodão) apreciando e aquecendo a sessão no estúdio e que depois foram educadamente convidados a se retirar kkkkk.

Nesse dia histórico, Lord Breu – um dos cientistas malucos da nossa música – estava no comando de uma seleta entupida do melhor que o dubstep e os steppaz londrinos produziam naquela altura, no velho continente. Produzindo a cama sonora onde os toasters e mcs dessa lendária sessão iriam inscrever uma parte necessária do desenvolvimento temático e técnico, da poesia de rua baiana.

 

“A nossa voz ladrão, ninguém pode calar.” 

Na entrevista acima referida, Vandal reinvidica ser o primeiro mc brasileiro a gravar um Grime, e ouvindo a Fayaka Steppaz mixtape (2007), percebemos como se deu esse pioneirismo e como esse desenvolvimento dialoga perfeitamente com a história do rap mundial. Fala-se muito da importância da cultura jamaicana no desenvolvimento do hip hop mundial, notadamente no papel de Kool Herc (imigrante jamaicano) em levar a cultura do DJ de origem jamaicana e suas técnicas para Nova Iorque.

Na mixtape aqui em questão o que predomina é o diálogo com a cena lodrina de dubstep e dos steppaz, contando com três toasters (Russo Passapusso, Vandal e Fael Primeiro), oriundos do movimento caudaloso de fluxos jamaicanos, do rap nacional, que no exercício de suas funções, DJ e Toasters, desenhavam novas linhas no desenvolvimento da nossa música. Passapusso comanda o mic na maior parte da sessão, e malemolentemente segue as trilhas que Lord Breu desenha nos toca-discos digitais que eram capazes de absorver e reproduzir o que o pesquisador só encontrava em mp3 baixados da internet, em chave dancehall e ragga.

Até que por volta do minuto 15 da mixtape, há uma pequena inserção do Vandal esbagaçando e registrando o primeiro Grime em terras brasileiras. Aqui se encontra duas pesquisas e dois artistas caminhando na mesma direção. Vandal já se aproximava da cultura londrina, e do Grime, assim como a luz no Breu conseguia providenciar-lhe os sons para tal. Ainda podemos encontrar, os protótipos que Russo Passapusso iria desenvolver nos seus projetos futuros, como o Dubstereo e atualmente no Baiana System. Há que se avaliar como essa pequena sessão é grandiosa para entendermos como hoje estamos onde esses caras (e centenas de outros) também ajudaram a nos levar. E no quanto esse contato da música jamaicana com o rap baiano forjou toda uma geração de mcs extremamente versatéis e inovadores.

Há sem dúvida muitas outras histórias, atores e atrizes que compunham essa cena que precisam ser conhecidos, para que se entenda melhor o que foi produzido na Bahia no começo do século atual. E sobretudo, o resgate dessas histórias nos coloca a questão do pioneirismo que a cena baiana como um todo vem desevolvendo na música preta em terras brasileiras, mas que infelizmente não encontra o devido reconhecimento.

Escutem essa pedrada e tirem suas próprias conclusões:

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