Vandal convidou e a rua compareceu lotando a praça Pedro Arcanjo no Pelourinho!

Evento Vandal Convida aconteceu no melhor modelo do Rap baiano, praça com lotação esgotada e muito, mas muito bate cabeça

Vandal

Amigos, rua e a delícia dos encontros!

Já na chegada para o Vandal Convida, fomos surpreendidos. Somente no Pelourinho é possível ocorrer o que aconteceu no último sábado dia 30/07. Três praças comportavam, três eventos de altíssimo nível, mostrando a força da música e do rap feito na cidade. Enquanto Dão Black sacudia a galera com seu funk/soul régua elevada, na praça Tereza Batista, na praça Quincas Berro D’Água rolava o evento Soteropagotrap com nomes como Não Pode Ser Nada, Hiran entre outras atrações. 

A equipe Oganpazan formada por Gonesa Gonçalves, Carlos Inácio (Carlim), Paulo Brazil e eu, resolvemos colar no Vandal Convida e atentos a possibilidade da praça Pedro Arcanjo esgotar a lotação cedo, aportamos na entrada às 19 horas. Cerveja, encontros com outros manos da cena, amigos, aquele clima bacana de colocar a conversa em dia. Exatamente às 19:50 o primeiro lote de pulseiras acabou, nós já devidamente identificados, entramos.

A idade me fez abandonar duas coisas preciosas: “o bate cabeça” e “o cravinho”, apesar de Haggar e Gold CBX estarem turbinando numa vistosa garrafinha com esse famoso elixir, declinei da oferta. Antes de tudo começar, recebemos a excelente notícia de que DJ Índio Vitrola vai voltar a produzir, da boca do próprio. O bate papo continuou divertido entre fotos de registro, até que DJ Belle assumiu as pick-ups por volta de 20:30.

 No centro começamos, ao centro voltamos!

O hip-hop baiano como movimento organizado tem seu território de origem no centro da cidade de Salvador. Por motivos estratégicos, o passeio público é o local sagrado de onde todo esse processo emergiu reunindo gente de toda a cidade. Após a descentralização do movimento e a fundação das diversas posses, os eventos de quebrada passaram a ocorrer em diversos bairros da cidade. 

Nos últimos anos, após uma era de ouro de eventos importantes ocorrendo no Rio Vermelho, o centro – mas especificamente o Pelourinho – voltou a concentrar os eventos da cultura hip hop local. A impossibilidade de trânsito tranquilo entre moradores de bairros distintos, por conta das facções, arrefeceu os eventos de quebrada e o centro volta a concentrar os shows que são nossos. Evento feito pelos boys, geralmente se localizam em outros locais como Wet Salvador ou mesmo na Arena Itaipava.

Neste sentido, se faz mister pensarmos outras opções de locais de menor e de maior porte que sejam igualmente centrais e que comportem outros eventos, com outras vertentes. Eventos como o Vandal Convida e o próprio Soteropagotrap precisam evoluir para eventos constantes, com grandes que não vemos em outros locais e que sejam pagos, para que alguma economia criativa comece a surgir. 

O público esteve presente e lotou as duas praças, precisa agora se conscientizar e começar a pagar ingressos. Colar e lotar eventos gratuitos é mole, queremos ver essa valorização com preços justos de ingressos, com a compreensão de que os artistas que nós admiramos não comem e produzem de três em três meses ou mais. Que estes necessitam urgentemente de um circuito local onde possam vencer uma moeda e expandir o seu trabalho internamente. 

Riscando a pista no trap, no boombap, funk e no pagodão!

O set de DJ Belle mostrou que a disc jockey vem criando sua própria identidade nos últimos anos, ela que nos apareceu primeiro como DJ do grupo Contenção 33. Mesclando Saca Só, FBC e clássicos do Pagode baiano, Belle fez a pista realmente ficar quente com geral metendo dança sem miséria. 

Quando Belle se despediu e DJ Akani assumiu os toca discos, o público já estava pronto para o que vinha pela frente. Não porque os artistas a se apresentar fossem manjados no mal sentido. Mas porque a pista é composta em sua maioria pelo povo preto e periférico, pixadores, grafiteiros, outros artistas da cena, possuem um sentimento de pertença à cultura. Com exceção de alguns pequenos grupos de playboys e de uma mina branca que largou um babyhair com um coque africano, o resto era tudo nosso povo.  

Quando Vandal entrou automaticamente o bate cabeça se instaurou e só pararia muito tempo mais tarde. Quase todos os presentes conheciam as suas músicas de trás pra frente, todas sendo entoadas a plenos pulmões. Me pego pensando quantos artistas lotariam uma praça no Pelourinho para apresentar um show com músicas que já fizeram aniversário de pelo menos 7 anos ou mais? Penso que poucos. 

Não é exagero algum dizer que o repertório de Vandal não possui uma música que seja desaprovada pelo público, das mais pra frente como BALAH IH FOGOH até as mais cadenciadas como MIMIMIH, são curtidas com entusiasmo. O formato do show também colaborou bastante para uma dinâmica nova para mim pelo menos, ao ver o artista executar suas faixas e abrir espaço para os convidados. 

Grandes convidados e as renovações do Rap Baiano 

Os convidados também foram uma jogada de mestre para o evento, pois além da dinâmica foi importante ver tantos trabalhos diversos ocorrerem ao vivo, juntos. Do trap do jovem mestre Makonnen Tafari – jogando em casa – até a renovação expressa pelo Underismo que contou com a presença ilustre do artista antes conhecido como Kolx no palco. Um dos momentos mais emocionantes foi exatamente esse extra-musical. 

Falamos muito em sobrevivência, porém não percebemos muitas vezes os imensos obstáculos que artistas negros enfrentam. Ruh Du Gueto marcou presença exaltando o seu gueto, Suja DFato também trouxe ao palco uma sua, e junto a Vandal lançaram outra que estará no próximo EP do MC. Pivete Nobre adentrou o palco acompanhado do mano Trampo Raro e após executar “Família” (Saca Só), mostrou porque faz tempo que é um dos melhores que temos. 

Mais ou menos nesse período eu olhava Henrique Santos, portando uma bonita camisa do maior do Nordeste, de vermelho, azul e branco e a vontade era de cair no bate cabeça; porém, apesar de por duas vezes sacar o celular do bolso para ir, refuguei.

A família UGangue se reuniu com Ravi Lobo e Galf se juntando a Vandal para o clássico “Na Disposição”. Ravi que em breve soltará um trabalho solo, levou o público ao bate cabeça na chave do drill com a premiada Shakespeare do Gueto. Já Galf AC largou uma das pedradas presentes em BVB PT.II (2022), cadenciando o rolê com o boombap under que lhe é propriamente original. 

A noite se encerrou em total apoteose, com um bonde subindo ao palco, com Vandal descendo e estourando champagne no meio do público, e além da produção que ficou azucrinada, o artista embaralhou a distinção entre público e atração. Fazendo da festa algo realmente coletivo, sem hierarquizações ao gosto do mercado, ao gosto das vedetes intocáveis, ao mesmo tempo que ninguém do público agarrou desnecessariamente o MC. Algo que só acontece com quem tem fã, Vandal tem aliados, parceiros de trincheiras, assim como os outros MC’s presentes. 

A rua identifica-os como pontas de lança, os vê como seus representantes, não os colocando na mesma posição deste ídolos de pés de barro. Frágeis, frescos, arrogantes, não sem razão, é apenas um negócio não precisa beijo na boca. A relação que o público da cultura hip hop local tem com seus artistas só precisa evoluir agora para o reconhecimento financeiro, pagar ingresso, cobrar shows pagos, comprar merchan, engajar publicações. 

De resto, tudo permanece como sempre foi no rap baiano, seguimos fazendo história, apesar de tudo! 

-Vandal convidou e a rua compareceu lotando a praça Pedro Arcanjo no Pelourinho!

Por Danilo Cruz 

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