A rica história do Rap Baiano, um dos cenários historicamente mais inovadores do país, segue sendo desconhecida. Fizemos uma reflexão e um breve guia!
“Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro” Heródoto
Este ano o Oganpazan completa 8 anos de existência, e desde o primeiro ano apesar de não ter sido esta a minha intenção, ao ir cobrir um evento onde tocavam juntos os coletivos UGangue e Fraternidade Maus Elementos, eu fui literalmente tragado para a história do rap baiano. De lá para cá, vi acontecer alguns eventos historicamente bastante relevantes, porém nada que fosse suficiente para trazer visibilidade ao cenário como um todo.
Junto a Paulo Brasil, aos poucos como pesquisadores nas horas vagas – pois proletários – estamos registrando uma parte importante da história do rap baiano e ao mesmo tempo junto com outros colaboradores analisando e reportando lançamentos, eventos do cenário atual. Ora, de 2015 para cá vimos o rap baiano fazer turnês internacionais, produzir sonoridades e líricas únicas na história do rap nacional com identidade muito própria e incorporação de culturas locais, e certamente esse guia é meramente uma provocação.
Provocar aqui, possui o sentido de instigar a busca não apenas do Mano Brown, mas de todos os admiradores do rap e especialmente do público baiano. A música baiana desde os tropicalistas possui a potência de chamar a atenção do país para o que emerge em nosso estado. Porém, sempre segmentando e muitas vezes para os ouvidos mais desatentos, sem se dar conta do que serviu-lhe de base.
Após a derrocada da indústria do Axé e de suas práticas predatórias de produção e difusão musical, onde extrativizou-se a música negra e como canta em verso e prosa Marcionílio em composição “Queira ou Não Queira” da dupla Jorge Portugal e Roberto Mendes: “desbotaram a cor para colorir o carnaval”. Atualmente a música baiana possui a diversidade que sempre teve, porém o público local não a consome da mesma forma do que o que vem de fora.
A pseudo-profissionalização do mercado musical tão divulgado publicamente como uma das heranças da indústria do Axé, impediu que o rap baiano fosse registrado em toda a sua amplitude nos anos 90. Grupos como Último Trem, Erê Jitolu (depois Opanijé), Ideologia Alicerce e Black Power por exemplo não nos legaram registros fonográficos. A emergência de novas tecnologias através dos computadores começou aos poucos nos começos dos anos 2000 a possibilitar gravações.
Porém, você sabia que o primeiro clipe de um grupo brasileiro gravado nos EUA é de um grupo baiano? Qual outro estado do Brasil realmente criou uma sonoridade única, que não existe em lugar nenhum do mundo, além da Bahia? Pois é, além da imensa qualidade inclusive premiada nacionalmente, como é o caso do Afrogueto que recebeu o prêmio Hutuz em 2005 de melhor grupo de rap do nordeste, aqui em nosso território nós somos originais, e certamente originalidade não necessariamente vira um produto vendável.
Mas porque logo o Mano Brown nessa história?
Longe de nós promover qualquer espécie de clickbait, mas por duas vezes o rap baiano foi tematizado no podcast Mano a Mano, comandado por Mano Brown. No último dia 13 de julho, em conversa com Gilberto Gil, Brown citou como grupos que ele conhece o Rap Nova Era e o trabalho de Baco Exu do Blues. Este último, que foi junto a Rincon Sapiência entrevistados do programa, perguntado sobre o primeiro registro do rap feito na Bahia, não soube responder, citando Afrogueto, Saca Só, Galf AC, Rap Nova Era, como artista que ele chegou a ver no palco.
Mas sobretudo porque o próprio Mano Brown confessa no podcast que ele sim, deveria saber o nome dos MC’s e grupos das antigas! Ora, não é possível exigir de nenhum artista atual do cenário baiano e muito menos do Mano Brown a responsabilidade por guardar os nomes e a história de um cenário que sempre foi comercialmente irrelevante. Afinal, o que fica em nossa memória é aquilo que vivemos com mais intensidade, e ou que foi presenciado e consumido em grupo.
O fato permanece, será sempre impossível que tenhamos um cenário minimamente digno em termos de visibilidade, de comercialização da arte, em profissionalização do cenário, enquanto não consumamos e conheçamos minimamente o que é feito em nosso estado. É curioso, por exemplo, que fora Baco Exu do Blues, os outros MC’s que atualmente fazem sucesso nacional e ou que tenham algum trânsito em outros cenários venham do interior do estado ou da estética mais pop do trap como: Jovem Dex, Teto, Jaya Luck e Hiran.
E certamente, não por uma explosão local precedida de alcance nacional, mas exatamente pelo contrário, uma explosão e acesso nacional, e depois a valorização local. Ou seja, a lógica permanece a mesma de artistas de fora do estado e que são amplamente consumidos localmente. O que é sintomático do desconhecimento de Baco assim como do Mano Brown, a história vivida é fundamental para o reconhecimento futuro de quem capinou, aplainou e calçou o terreno.
Uma outra dificuldade para se conhecer a história do rap baiano, diz respeito ao acesso às obras, discos que foram lançados em vinil e cd e que nunca chegaram aos streamings, forma majoritária de consumo atualmente. E o que chegou nas plataformas não foram devidamente divulgadas. Sendo assim vamos deixar abaixo alguns grupos, trabalhos e links daqui mesmo do site que podem ser facilmente acessados. Porém, com a certeza de que isso não chega a ser nem um paliativo, pois a grande maioria das pessoas não dará atenção, outros tomaram como uma curiosidade.
Atualmente, a história segue sendo feita por diversos nomes, e no entanto estes não conseguem fazer o seu trabalho chegar localmente, muito menos nacionalmente. Sem um investidor injetando dinheiro, o caminho é sempre o mesmo: shows locais, contatos com artistas de fora, persistência e busca pela criação coletiva de um cenário minimamente autossustentável. Afinal, a indústria cultural não dará – pelo seu próprio modo de funcionamento – espaço para 10 Bacos.
MD MC’s
Grupo formado por pela dupla Marivaldo dos Santos e Davi Vieira, primeiro grupo no Brasil a gravar um clipe em Nova York e o primeiro a produzir registro fonográfico em disco, LP na Bahia!
https://www.youtube.com/watch?v=8ihH5PT0P1Q
Quilombo Vivo
Um verdadeiro formador de cenário, gravaram esse disco em 2006 mas só há pouco chegou nos streamings e certamente é um clássico do rap baiano. O trio formado por DJ Bandido e os MC’s Juno e Jacó marcaram época e são reverenciados até hoje!
Rappers Dura
Grupo muito influenciado pelo movimento mangue beat, produzia rap com misturas do rock diretamente de Juazeiro na Bahia!
157 Nervoso
Um dos primeiros supergrupos do rap baiano, reuniu o beatmaker e MC Diego 157, o MC Spock e Man Duim. Certamente um dos 10 melhores discos da história do rap baiano.
MC muito talentosa diretamente de Vitória da Conquista e uma das primeiras minas do Brasil a soltar um trampo todo na estética do Trap!
Existem diversos outros nomes da nossa história que poderiam aqui ilustrar a matéria mas vamos deixar alguns links para quem se interessar.
História do rap baiano em 10 vídeo clipes!
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Abaixo ainda uma playlist com alguns nomes atuais do rap baiano
-Vocês conhecem os primeiros grupos e artistas do Rap Baiano? E você Mano Brown? Um Guia
Por Danilo Cruz