As “Lambrini Girls” começam 2025 com o explosivo álbum de estreia Who Let The Dos Out, misturando post-punk, noise e eletrônica.

Conheci as “Lambrini Girls” em uma apresentação no canal do YouTube da rádio KEXP. A visceralidade do vocal da cantora e guitarrista Phoebe Lunny chamou logo atenção. Sua essência lembrou muito o vocal de Amy Tylor, frontgirl da “Amyl and Sniffers“.
Sua parceira de banda, a baixista Lilly Macieira empunhava seu instrumento de forma selvagem, atacando partes da música com vocais pontuais enfatizando estas partes.
Diante das câmeras da “KEXP” testemunhamos a verve da banda, tal qual ocorre em seus shows nos palcos do Reino Unido. Lá fizeram nome na cena tocando músicas punks rápidas e agressivas. Abordando temas sensíveis às mulheres e às pessoas LGBTQIA+.
A banda é recente, surgiu em 2019 em Brighton, na Inglaterra. Desde seu surgimento, as performances selvagens da banda em seus shows, geraram em seu público a percepção de sua sonoridade ser sempre vibrante e explosiva. Nesse sentido, gerou um desafio para a dupla. Qual seja, reproduzir em estúdio a aura impactante presente em suas performances ao vivo.
Desafio este vencido no lançamento do Ep “You´re Wellcome” lançado em 2023. O Ep caiu como uma bomba incendiária na cena britânica. Seja pela sonoridade explosiva registrada em estúdio, seja pelas letras carregadas de sarcasmo e crítica ao modo como a sociedade está configurada atualmente.
Deste modo, podemos considerar haver expectativa acerca do lançamento do seu primeiro álbum cheio. “Who Let The Dogs Out” foi lançado na primeira semana de 2025. O disco saiu pelo selo City Lang e manteve os níveis de revolta nas alturas. As letras das músicas abordam temas relacionados à desigualdade de gênero, violência de estado e comportamentos tóxicos de todos os tipos.
O título do álbum, à primeira vista, parece sugerir uma forma sarcástica de abordar a temática do machismo. Isso porque “Who Let The Dogs Out” foi um grande hit do início do século XXI da banda Baha Men. Ouça aqui.
No Brasil o Bonde do Tigrão fez uma versão da música. Recebeu o nome de “O Baile Todo”. Se você tiver mais de trinta anos certamente viveu bons momentos ao som dela. Contudo, trata-se de uma piada interna da banda envolvendo a faixa. Mais uma curiosidade, a banda tem uma versão do hit “Mambo 5” do Lou Bega. Podem ver que as minas tem um gosto especial por hits pop dos anos 2000. Ouçam a versão das Lambrini Girls aqui.
Deu pra perceber que a banda tem um senso de humor afiado né? Este é usado como aquele tempero especial nas letras, que em “Who Let The Dogs Out” tem na masculinidade tóxica seu principal alvo. Por isso mesmo, acredito que o título escolhido para batizá-lo é mais que uma simples piada interna. Porém, não consiste em único alvo. Músicas como “Filthy Rich Nepo Baby”, “Special, Different” e “You’re Not from Around Here” caem pra dentro do capitalismo, xenofobia, patologização médica e o patriarcado.
Vejamos a faixa “Nothing Tastes As Godd As It Feels”. O título faz referência à fala da supermodelo inglesa Kate Moss indicado que “nada tem um gosto tão bom quanto a sensação de se estar magra” (“nothing tastes as good as skinny feels”). A letra desta música aborda a gordofobia e a pressão que as mulheres sofrem para serem magras, esbeltas. Portanto, uma imposição patriarcal e machista.

“Nothing Tastes As Godd As It Feels” manda um foda-se grande para a imposição de um padrão de beleza que leva mulheres a se colocar numa rotina de restrições alimentares e comportamentais. Portanto, a uma existência de sofrimentos. Vocal raivoso, guitarras tocadas com força, distorcida, assim como o baixo, passando a sentimento de angústia e necessidade de se sentir livre. O final da música é catártico! Gritos frenéticos, carregados de palavrões extirpam o sentimento sufocante de aprisionamento.
“Love” é outra faixa que merece destaque. Lança luz sobre a dependência afetiva que muitas mulheres acabam desenvolvendo por seus companheiros. Estes se revelam tóxicos ao entrarem num relacionamento amoroso. São capazes de entregar tudo à mulher que dizem amar, menos amor real. “Big Dick Energy” possui ainda mais intensidade, portanto, mais potencial catártico.
Não exagero ao defender um destaque para “Who Let the Dogs Out” como álbum punk contemporâneo voltado para a conscientização de classe. Principalmente entre as mulheres.
Beijo noceis e até o próximo texto!