Keziah Jones – Live Nova Session

O blues é a meca dos campos de algodão. A trilha sonora que impediu muitos escravos de cometerem crimes contra seus senhores. Foi uma segundo opção, no lugar de torcer um pescoço branquelo os caras viram que mais valia torcer um bend, na unha mesmo, sem efeitos.
É engraçado perceber que a odisséia do Blues carrega essa alcunha pré estabelecida. Parece que tudo saiu dos campos de algodão, mas e depois? Quem desenvolveu isso, como foi o processo em escala global?
O Blues é um fio da meada que confunde as pessoas. Por mais que existam séries de TV contando de onde ele veio, quem foram os primeiros a viverem por ele e solar com slide só para ter a dignidade de morrer por ele, a cultura Blueseira possui variações e isso acontece graças a músicos realmente especias, como é o caso do nigeriano Keziah Jones.

Nascido na nigéria e criado em Lagos com seu pai no cangote para que o cidadão seguisse seus passos dentro do ramo da indústria, Keziah viu uma luz no fim do túnel quando foi mandado para a Inglaterra as 13 anos, a justificativa foram os estudos, mas no fim das contas o groove entrou no caminho e ele trocou a sala de aula pelas esquinas de Londres, o lápis por uma session de piano autodidáta e as provas por idas e vindas entre Paris e a já citada Inglaterra.
Foi tocando no metrô que seu estilo de tocar se desenvolveu. Seu Blues fez estágio nas ruas e a faculdade nos bares, com pós graduação em shows mal pagos e P.h.D na cena underground. Foram anos na luta, mas depois que sua reputação como performer se espalhou e se firmou, Phil Pickett viu que um Blufunk desse nível precisava de atenção.
E daí pra frente o resto é história. são 8 discos na praça e a cada gravação é um grande prazer escutar o que esse cidadão produz. Ninguém toca como ele, a junção de Blues, com uma levada Funkeada apoiada pela cultura Nigeriana do Yoruba e seus slaps na viola… Rapaz, o estilo do senhor Olufemi Sanyaolu é transgressor, por um momento você achar que ele está tocando um baixo, mas não, isso aí é tudo parte do show.
Mais do que uma prova de como as raízes da música nem sempre produzem os melhores frutos seguindo um roteiro, Keziah Jones é a prova de como a música é a linguagem universal. Ele não só criou um estilo (Blufunk) como ainda se colocou dentro de uma posição única dentro da cena, são poucos os nomes que vão dormir no fim da noite com a certeza de serem únicos. Keziah Jones, senhoras e senhores.
E para comprovar isso, vamos mudar um pouco o cenário. Os 8 discos do cidadão são excelentes, mas para esse primeiro contato, resolvi optar por uma session ao vivo. É uma antítese em relação ao começo de sua carreira, afinal de contas antes era ele e sua viola, mas aqui não, o improviso tem acompanhamento e no fim das contas é tudo como o guitarrista profetiza numa de suas composições: ”Rhythm Is Love”. Ritmo é amor meus amigos, o groove é o que faz o mundo girar.
No final de 2013 o nigeriano foi convocado para uma session na França, terra onde seu som é bastante apreciado. O programa da TV local em questão era a Nova Session, série de jams que é realizada para dar visibilidade ao trabalho autoral de alguns músicos que circulam no país da zona do Euro. 
E para aproveitar que naquela época o nigeriano estava lançando seu último disco de estúdio até o momento (”Captain Rugged”), promover esse encontro foi uma boa jogada para fazer um som e também para mostrar o que rolaria nesse próximo trabalho.
O único problema é que a apresentação não se parece em nada com o que deveria ter sido de fato. Esqueça aqueles pocket shows sem feeling e sinta o Blufunk com 11 excelentes tracks… O clima é excelente, Jones está sempre solto, solando e dando risada, é a música em sua forma mais natural e swingada, é tão bom que merecia ter virado disco!

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