Kendrick Lamar segue mostrando que seu interesse é explorar novas possibilidade para se fazer rap.
Na última quarta feira de outubro, dia 28, raper estadunidense Kendrick Lamar fez o lançamento oficial do videoclipe para a música These Walls. O vídeo tem a participação de Bilal, Anna Wise e Thundercat, além de Terry Crew, consagrado aqui no Brasil como pai do Chris da série Todo Mundo Odeia o Chris.
These Walls faz parte do álbum To Pimp A Butterfly, cujo lançamento foi feito em março deste ano. Compton (cidade californiana famosa por ter gerado grandes nomes do rap da Costa Oeste como Dr. Dre, Ice Cube, Eazy-E) foi escolhida para ser a locação do clipe. Aliás, além de ter “parido” grandes nomes de gerações anteriores do rap da Costa Oeste, Compton também carrega o status de ser a cidade natal de Kendrick Lamar. A direção ficou por conta de Colin Tiley.
A motivação para este texto surgiu do comentário de um amigo ao meu post contendo o clipe de These Walls. Assim como eu, o cara ficou conhecendo o Kendrick Lamar via To Pimp A Butterfly e desde então rumina as músicas que compõem o álbum, buscando entender qual a intensão de Lamar ao compor as músicas de To Pimp.
Dalton Sanches ficou tão admirado, confuso e extasiado quanto eu ao ouvir To Pimp A Butterfly e a experiência se repetiu ao assistirmos o videoclipe de These Walls. As experiências bem sucedidas no álbum se repetem em vídeo. Dalton fez o seguinte comentário sobre o videoclipe na postagem:
“Tô pra tentar entender essa nova linguagem do gênero, composta de camadas de sonoridades, enunciados distintos e intertextos se sobrepõem a todo momento, porém sem uma hierarquização de uma parte pela outra. Baguio lôco! Aliás, como conversamos tempos atrás, parece que o Racionais novo, absorvendo um pouco dessa tendência, não foi bem digerido. A impressão que se tem é de uma latência na crítica sobre o disco, quando o critério são os aspectos formais”.
O comentário feito por Dalton na postagem do videoclipe resume bem a natureza estética de To Pimp A Butterfly, bem como a busca de realizar a mesma experiência formal e intertextual no videoclipe de These Walls. A forte sensação de estranheza, admiração, espanto, incompreensão arrebata o ouvinte mais atento, gerando, ao término do vídeoclipe ou do álbum, a necessidade de dar um sentido que permita compreender a obra. Contudo mais importante que compreendê-la é perceber sua potência criadora e os caminhos que indica através das inovações criadas.
Interessante a tese levantada por Dalton ao final do seu comentário, que identifica em Cores e Valores, lançado alguns meses antes de To Pimp A Butterfly, indicar pretensões estéticas semelhantes ao rapper estadunidense. Acredito que a recepção controversa de Cores e Valores está diretamente ligada à construção de uma linha de fuga cujo destino, embora incerto, encontra-se oposto ao território ocupado pela música dos Racionais até então.
Paciência se mostra o ingrediente principal em casos como esse. Pois somos lançados num processo de assentamento das sensações, emoções, percepções, quando colocados diante de algo completamente novo.
O clipe de These Walls surge diante de nós assumindo esse papel do novo, causando os efeitos sitados anteriormente. Kendrick Lamar reformula a mídia videoclipe, indo muito além de simplesmente servir como ilustração da letra da música. Os cortes de câmera, as sequências de cenas procuram se alinhar ao ritmo da música. Cortes de cena acompanham cortes da letra, sejam estas para o rapper respirar ou levar a outra linha melódica.
Cenas são interpostas, bem como passagens da melodia. Há momentos em que a imagem se torna o elemento principal no clipe. Nesse momento a música vai para segundo plano, ouvida ao fundo, enquanto os acontecimentos transmitidos pela cena são trazidos para o centro das atenções.
Kendric Lamar mostra em These Walls que o videoclipe não é uma mídia datada. O modo criativo como ele se apropria dessa linguagem a re-significando, evidencia todo potencial de expressão artística do videoclipe.
