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Eric Gale e o swing jamaicano de Negril

eric-gale-peter-tosh

Eric Gale foi um dos lendários músicos de estúdio norte americanos, responsável por gravar alguns dos momentos mais especiais da música mundial.

O Eric Gale foi um dos guitarristas mais , primorosos que já pisou no planeta Terra. Dono de um feeling sideral e de uma classe quase aristocrática na semi acústica, um dos músicos de sessão mais requisitados da historia do Jazz-Blues-Fusion, Gale inspirou mestres como Jimi Hendrix e já eternizou belíssimas passagens  para nomes como Nina Simone, Quincy Jones, Herbie Hancock e Grover Washington Jr, por exemplo.

Sua astúcia era conhecida e bastante apreciada dentro da cena Jazzística. Eric é um exemplo de músico respeitado dentro de seu círculo, um cara que nunca chegou ao boca-boca do grande público, mas que definitivamente recebeu o respeito de quem importava: os seus iguais, seus comparsas músicos.

Porém, além do Jazz, uma de suas maiores paixões foi… o Reggae! Sim, nem só de Miles Davis vive um homem, senhoras e senhores. Por isso, antes que você diga que sua admiração pelo Roots parou no balanço de ”Sara Smile” – tema eternizado no disco ”Ginseng Woman” de 1977 – fique o senhor sabendo que o americano dedicou um vinil completo para prestar tributo ao solo sagrado da Jamaica.

Line Up:
Eric Gale (guitarra)
Val Douglas (baixo)
Peter Tosh (guitarra)
Aston Barrett (baixo)
Richard Tee (piano)
Leslie Butler (órgão/sintetizadores)
Cedric Brooks (saxofone/percussão)
Paul Douglas (bateria)
Joe Higgs (percussão)
Sparrow Martin (bateria)
Keith Sterling (piano)
Uziah Thompson (percussão)

Track List:
”Lighthouse”
”East Side, West Side”
”Honey Coral Rock”
”Negril”
”Red Ground Funk”
”Rasta”
”Negril Sea Sunset”
”I Shot The Sheriff” – Bob Marley

Eric Gale – Negril

Lançado em 1975, ”Negril” foi o segundo disco solo da carreira do guitarrista, sucedendo o debutante ”Forecast”, gravado 2 anos antes, em 1973. Esse é um disco único em sua rica discografia, um trabalho que mantém o Jazz apenas na estrutura da guitarra, pois todos os outros instrumentos tocam seguindo as diretrizes dos dreadlocks.

Contando com os maiores expoentes da cena local, Eric chamou só a nata dos músicos para garantir que todos os seus arranjos e composições fossem executados com todo o esmero que sempre lhe foi peculiar, trazendo o Reggae, sem diluir a essência do estilo. Gale compôs praticamente todo o disco e arquitetou uma bela homenagem aos criadores do Sound System.

Pena que esse título não seja tão popular quanto outros trabalhos que receberam o nome do músico nos créditos, mas o conteúdo é tão relevante como qualquer outra sessão de estúdio com esse cidadão no molho da cozinha.

“Negril” é um prato cheio para aqueles que dizem não gostar de Reggae por que é ”tudo igual”. Aqui não, sob a batuta de nomes como Val Douglas e Peter Tosh, os temas ganham toneladas de variação, dinamismo e classe para emular a tradicional pegada do filho do Rocksteady.

Foi com essa abordagem (provavelmente inspirada pelo guitarrista Jamaicano Ernst Ranglin) – que revolucionou o Reggae com sua semi acústica desde os primórdios do estilo – que “East Side West Side” surge nos falantes, enquanto Eric faz sua guitarra cantar, emoldurada pelo swing dos graves.

A riqueza instrumental e os interessantes caminhos que norteiam cada proposta formam a espinha dorsal desse projeto. Eric, além de executar o papel de solista/compositor com maestria, também deu espaço para o restante do grupo. Outra questão relevante nesse disco é o caminhar do groove no Reggae, aquele baixo denso e ritmado está presente durante todo o projeto. “Em Negril Sea Sunset“,  por exemplo, o baixo surge com uma linha que dialoga tão bem com os outros elementos, que parece liderar a canção.

A dinâmica da banda também merece destaque, pois coloca a guitarra numa posição bastante interessante, em termos de liberdade. Eric ganha autonomia nas faixas e preenche o disco com saborosos harmônicos e uns solos embebidos em Wah-Wah que mereciam palmas, porém se eu aplaudir, não consigo digitar.

O detalhe do Eric Gale ter recrutado uma banda com músicos fluentes no estilo também entrega outra unidade musical para o conteúdo. A cadência do Reggae está no cerne de cada composição. A sessão rítmica faz um trabalho de base bastante sólido, possibilitando um diálogo interessante entre o baixo, guitarra, as teclas, percussão, além dos metais, como fica claro no cover de “I Shot The Sheriff“, único cover do disco, com a luxuosa participação de Peter Tosh nas guitarras.

Quando ouvimos ”Rasta”, percebemos a importância da sonoridade do órgão, não apenas nesse registro, mas também no Reggae como um todo. Esse clima de jam Gospel do Harlem ambienta os fones muito bem, pegando no veia, principalmente na faixa título, onde as teclas, novamente, roubam a cena.

O que mais impressiona, além de toda a criatividade do repertório é como Eric conseguiu traçar uma linha do tempo da música jamaicana. Na faixa título, por exemplo, é possível perceber as influências da música africana dos anos setenta, como se fosse uma mistura de Dancehall com Disco Music. Já em “Red Ground Funk”, Eric toca como se estivesse acompanhado pelo seu projeto de Jazz Funk, o fabuloso “Stuff“. O groove é digno de empenar o seu pescoço no wah-wah.

No encerramento, “Honey Coral Rock” abdica do groove para criar uma das mais bonitas paisagens sonoras de todo o trabalho. Na hora do solo, é possível perceber o quanto o guitarrista está confortável nessa seara. Escutem o Eric Gale, senhoras e senhores, todos os seus discos solo e gravações são de grande importância para a história do groove.

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