Kaya (1978), Bob Marley em processo de cura

Bob Marley – Kaya (1978) completa 40 anos, um dos discos clássicos de uma discografia clássica do maior ícone que o reggae mundial conheceu!

Kaya

Vivendo na Inglaterra em um auto exilio, desde o atentado sofrido na Jamaica em 1976, por conta de sua participação no Festival Smile Jamaica, Bob Marley se encontrava em uma jornada de cura, distante dos embates políticos jamaicanos que por pouco não tiraram sua vida. Nesse processo, já como grande estrela da musica internacional conviveu com inúmeras outras estrelas da mesma grandeza, como o grupo Rolling Stones, com o guitarrista Ron Wood tocando em alguns concertos como membro dos Wailers. Posteriormente os Rolling Stones irão conhecer um outro Wailer, o talentoso e polêmico Peter Tosh mas dessa vez a história ira ter um desfecho menos amigável, mas isso é historia pra outra oportunidade.

É nesse contexto de serenidade e reflexão que, em 1978, foi concebido o álbum Kaya. As duas canções introdutórias Easy Skanking e a canção que da nome ao disco, Kaya, refletem o clima de tranquilidade vivido por Marley naquele momento. Este disco revela uma dimensão artística que Bob Marley já apresentava desde os tempos de Ska, mas que diante da conturbada situação social da Jamaica, onde gangues rivais se matavam em nome de políticos pouco confiáveis, canções como Simmer Down e Judge Not ganharam maior notoriedade.

Um lado romântico que Marley deixa explícito em canções como Satisfy my soul, regravação da faixa Don’t Rock My Boat composta originalmente nos anos 60 e que ganhou arranjos atualizados mas preservando a essência da versão original. Outros exemplos são, a viceral Misty Morning e a melancólica She’s Gone, nas quais o rastaman relata as angústias da separação.

Neste disco também está Is this love, uma das canções mais celebradas em todo o Mundo, com sua mensagem poderosa embalada pelo ritmo contagiante dos irmãos Barrett. Quem tiver afim de conhecer uma versão alternativa dessa música recheada de metais ao estilo big band, é só escutar a versão do songbook Songs of Freedom que tem várias outras raridades dos Wailers que vale a pena conferir. Outra possibilidade de curtir um material inédito desse período é a edição de aniversário de 35 anos que inclui Smile Jamaica, canção composta para o fatídico festival que motivou o atentado contra o rastaman, e também o registro de uma apresentação ao vivo na Holanda.

A elegância do trompetista Glen da Costa e do trombonista Vicente Gordon encontram o equilíbrio perfeito na sofisticação do grande tecladista e produtor musical Tyrone Downie e seu piano Rodhes, criando um clima Smooth Jazz na introspectiva Running away. Um instrumental sombrio abre caminho para a mensagem positiva de Sun is shining sobre a esperança que renasce a cada amanhecer.

Desde seu encontro com o fantástico produtor Lee Perry, os Waillers incorporaram a forma de mixagem Dub em suas composições e nessa faixa a influência do velho dubmaster fica mais que evidente. Outro destaque dessa faixa é a guitarra de Julian Murvin responsável pela criação de melodias penetrantes que remetem ao melhor do blues de Chicago. Outros pontos fortes do disco são a percussão marcante e sincronizada de Alvin Seeco Paterson e os vocais poderosos e afinados da I-Trees.

Apesar das acusações de descomprometimento politico apontado por alguns críticos de Kaya (1978), canções como Crisis, e o nyahbing Time Will Tell que ganhou uma versão inspirada do mestre Gilberto Gil em seu Kaya n’ Gandaia demonstram que a visão social de Marley estava cada vez mais aguçada, embora sua linguagem parabolana totalmente embasada na tradição africana de transmitir conhecimentos seja pouco compreensível para algumas pessoas.

Kaya (1978) pode ser considerado como um álbum de transição entre o herói jamaicano e superstar do terceiro mundo para um Marley cuja influencia transcendeu as fronteiras continentais se estendendo até a África. O tornando um símbolo das lutas de libertação dos países africanos contra a invasão européia, a exemplo do Zimbabwe, no qual foi o único artista estrangeiro a ser convidado para as celebrações da Independência. Um disco onde a elegância e a sutileza dos detalhes são a marca registrada. Indicado não somente para apreciadores do Reggae mas também do Jazz e do Rhythm and Blues.

Aumenta o som, acende o Chalice: Fyyyyyyaaaaaaaaahhhhhhhhh!!!!!!

– Kaya (1978), Bob Marley em processo de cura

Por Bobo Tafari 

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