Dez Artistas baianos do hip hop que você precisa conhecer!

Dez Artistas baianos do hip hop que você precisa conhecer! Discos e EP’s que apresentam novos nomes na cena pelo estado

Você realmente conhece aquilo que diz gostar? O quanto você realmente dedica do seu tempo para buscar, ouvir e divulgar o rap do seu estado, da sua cidade? É possível realmente fortalecer aquilo que amamos sem que conheçamos de fato o que foi e o que está sendo feito?

Selecionamos dez artistas baianos que vocês precisam conhecer já! Bom, um dia talvez nos conheçamos melhor, quem sabe nesse dia, ao nos conhecermos melhor, sejamos capazes de nos respeitar e nos auto-valorizar. A cena do Hip Hop no estado da Bahia tem todos os elementos para ser auto suficiente. Do extremo sul do estado até o extremo norte, do oeste à capital, passando pelo Recôncavo baiano, são muitas pessoas produzindo rap, fazendo grafite, dançando break e tudo com extrema qualidade, apesar de tudo. 

Enquanto mirarmos no eixo estaremos na posição de alguém que pede um favor, que necessita ser incluído e isso porque o mercado e a indústria cultural operam no Rap nacional a partir de lá. Estes dez artistas baianos, representam uma nova geração que está correndo e precisa como muitos outros ser vista, ser consumida, ser criticada de modo construtivo, mas sobretudo, ser conhecida!

E se construirmos por aqui um festival estadual de hip hop? E se o público consumisse em massa o que é produzido por aqui? E se não dependêssemos das mídias do eixo para que tivéssemos visibilidade? Não depender do olhar de fora para se autodefinir, e buscar a consolidação de uma cena, que ainda precisamos conquistar: independência e auto suficiência. E se tivermos dez artistas baianos sendo vistos toda semana? O que nos falta?

Ao longo dos últimos cinco anos, o Oganpazan cobre e pensa o cenário baiano e nordestino, muito menos do que o necessário, mas aqui em nosso estado temos o orgulho de poder afirmar que cobrimos não apenas dez artistas do Rap baiano e não apenas da capital. E é um processo muito enriquecedor, ao qual vamos seguir fortalecendo. Dito isso, nos parece que o primeiro passo é conhecermos aquilo que o estado produz, nos aproximarmos, firmarmos conexões.

Separamos esses dez artistas do hip hop baiano que vocês não se arrependerão em conhecer. Todos com lançamentos consistentes diversos em suas propostas, apresentando visões e sonoridades próprias. Alguns com trabalhos começando, outros que já possuem trampos bem sólidos. O lance é que precisamos nos ouvir, nos conhecermos, nos pensar, nos fortalecer, pega a visão!

BillyFat (Ilhéus)

A cena de Ilhéus está aqui muito bem representada, o sul da Bahia vem produzindo em alta e é necessário estreitar esse laço. BillyFat lançou um trampo muito sólido e essa Divina Comédia (2020) é um disco que você precisa ouvir. Não tem lenga lenga de ice, kush e etc… e que também não é quadradão em um apelo à nostalgia dos anos noventa. A referência ao poeta italiano Dante Alighieri não é uma utilização pedante de uma referência clássica.

Atualizando a divisão cristã que Dante imortalizou, BillyFat narra as observações críticas de sua poesia diante da vida real de um Ilhéus que não está nos cartões postais e não é percebida pelos turistas. Segundo disco do rapper, precedendo o A Caminho do Infinito (2018), traz participações de Bruno Congo, Kabuto, ElHermano, Cijay, Deb Santti e Eric Ricardo, todos do sul do estado.

BillyFat produziu um disco muito sólido, crítico até a medula, com flow pesado e a levada aaaaahhhh, as levadas que são aquela coisa né: cabeça batendo, bate cabeça em alta voltagem. Do boombap ao trap, com produções do mano Lukashorus sem arrego…

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Besoro (Salvador)

Assim como o capoeira, Besoro chega batendo de frente contra o sistema racista que predomina no Brasil. Preto e avoa são as duas palavras que determinam suas missões, e no seu disco de estréia Raças (2020) o mano mescla sonoridades e traz participações pesadas. O álbum levou tempo para ficar pronto, foram quatro anos para que a negritude levanta-se vôo mas enfim poucou nas plataformas.

A começar pela belíssima capa, obra de Diego Moraes, passando pelas produções da AquaHertz e Dig Ribei até o recheio com as participações de Angola Pilares, Marcola Bituca, Dig Ribei, Heitor Facha e Lazaro Erê (Opanijé) , Raças (2020) é impactante. Besoro profissionalizou seu trampo fazendo com que suas melhores qualidades aflorem. Das Cajazeiras o MC rima e diversifica flows narrando sua caminhada, as dificuldades que o racismo e a desigualdade social imprime nas vivência de homens negros nas nossas quebradas. fiquem ligados no vôo desse Besoro.  

Neuronêgo (São Filipe/Amargosa)

Cria de São Filipe, começou a fazer rap em Santa Inês e atualmente está radicado em Amargosa, o MC e poeta Neuronêgo acaba de lançar o EP Fadologia (2020). No seu trabalho é possível perceber que coletivamente o rap do recôncavo baiano tá forte e unido, com ramificações trabalhando em diversas cidades em diversas frentes. É um trampo iniciático que se mostra muito promissor, apresenta um trampo de qualidade da parte visual – Luiz Henrique (Teolância) e Beatriz Maia (SP) e o Sujeira Rec. E traz os beatmakers DJ Felipe (Cachoeira) e Roque (Santo Antônio de Jesus) na condução rítmica das faixas, onde Neuronêgo destila suas poesias.

Mais um preto cursando uma universidade pública, a UFRB, no curso de licenciatura em Letras/Libras, Neuronêgo faz a perfeita tradução em Fadologia (2020), do conhecimento acadêmico com o conhecimento das ruas, sem forçação de barra, tudo muito natural. É sobre sentimentos, é sobre política, é sobre a raça negra e para os nossos pegarem a visão. Ouçam! 

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Lukashorus (Ilhéus)

E Lukashorus néra beatmaker gente? Pois bem, aqui na Bahia quem corre menos avoa e esse disco do mano Lukas prova isso. Só o conhecíamos até então como excelente produtor e beatmaker (como no disco acima cita do Billy Fat), mas eis que descobrimos essa pedrada chamada: Planeta Prisão (2020). E esse como muitos dos trabalhos que reunimos aqui necessitam de uma resenha pormenorizada.

Lukashorus fez um disco muito forte com uma ideia central que amarra as faixas muito bem, além disso o cabra rima de verdade, não é fraco não. E o faz com uma veia crítica bem forte, e talvez a sua vicão de produtor o fez escolher os feats muito bem e dosá-los ao longo do disco de modo certeiro. Uns novinho e um coroa. Jeff (OQuadro) é o coroa que mostra duas coisas: a força da tradição que se mantém relevante e por isso mesmo a relevância de ficuras mais recentes como The Baby X, Billy Fat, Adriano C073 e Deb Santti. Simples de dizer: Uma das coisas mais legais que ouvi esse ano no rap ba e nacional! 

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Fiteck (Salvador)

Em seu quarto EP, o produtor e MC baiano Fiteck (Balostrada Rec) busca um equivalente sonoro para uma arte pictórica que foi utilizada como a capa do disco e tem origem na pintura do @dulovezk. Buscando conexões entre os samples retirados da música popular brasileira dos anos 70, a sonoridade do disco atualiza essas referência com timbres, sons e beats muito atuais.

Tudo isso termina dando-nos a cara desse artista que vem experimentando em trampos que vão como num mosaico construindo uma imagem ainda não bem definida, que não seja até agora a do experimentador. Sem se fixar num estilo pronto, o MC e produtor tem produzido uma estilísta da experimentação em beats, temas e flows. Vale muito a pena sacar e perceber esse e os seus outros trabalhos.   

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Trampo Raro (Salvador)

Diretamente de Cajazeiras, bairro onde o hip hop fala grosso em Salcity, celeiro de muitos talentos como estamos constantemente ressaltando em Salvador, Trampo Raro soltou sua mixtape de estréia. Estilo Solto é a banca da qual esse mano faz parte, e a mixtape Só Deus Pode Me Parar (2020) é um bom começo de um MC que inicia um novo ciclo em sua carreira.

Ao longo das sete faixas que compoe o trabalho vemos um personagem de uma obra de vida, extraída das ruas, que tem bastante consciência de sua missão, de seus anseios e dos perigos que estão na caminhada. Com um timbre vocal incomum, utilizando beats do Zoreia, ZaacBeats e Bett – indo muito bem neles – com timbragens e vertentes bem modernas, a mixtape surpreenderá quem não conhece esse artista. Participações de Benne 77 e Local Loost.   

Aganju (Cachoeira)

Aganju vem desde 2018 soltando uma saraivada de EP’s, mixtapes, microtapes, com Us Pior da Turma, em colaboração com outros nomes do Recôncavo e em conexões que já chegaram em Belém (PA). MC, Produtor, Beatmaker, Escritor, esse mano tem construído um arsenal fonográfico pan africanista.

Seu último lançamento é Sociedade do Cansaço (2020), que ao longo de quatro músicas, apresenta uma conexão pesada aliando a linguagem das ruas a uma fina análise crítica. Cortando como um bisturi a mente contemporânea para demonstrar as falsas ideias que aliam tecnologia, mercadorias, controle social e politico, assim como fonte de doenças mentais. O EP traz ainda a participação de Jhonny, na pesada faixa “Rimas Apocalípticas”!

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Dário Inerente (Itabuna) 

Tomando contato com o rap aos 10 anos Dario Inerente lança seu primeiro disco agora aos 18 anos e mostra que tem aprendido bem as lições que a cultura hip hop tem lhe aplicado. Natural de Itabuna, o jovem MC se inspira numa linhagem mais underground que remete a Sarksmo & Choko, Parteum e Síntese. Em seu disco de estréia Dario soltou um disco com 14 faixas, algo que hoje é incomum, e que nos mostra automaticamente ao fato de que quem tem sede de se expressar sempre contrariará as regras da industria.

Não espere encontrar aqui as sonoridades que hoje são mais do que comuns em novos lançamentos, o papo aqui é o bom e velho boombap, que Dario Inerente não apenas cultiva mas quer levar a frente. Os beats são todos do mano CleBeats e adoradores do under adorarão, escutem Eterna Odisséia para a Luz (2020). 

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Mr. Lagos (Itacaré)

Diretamente de Itacaré cidade do sul da Bahia, próxima de Ilhéus e um verdadeiro paraíso natural, com praias lindas muito bem conservadas, cachoeira e aquela desigualdade social e racial que é caratceristica. Um breve passeio pela Pituba (sim lá tem uma rua com esse nome) e verá quem realmente lucra com o turismo dessa cidade. Mr. Lagos chega com um disco muito potente, lançado no final de março desse ano e que descobrimos via Jeff (OQuadro).

A sonoridade do disco é firme no Trap e traz participações do mano OrixaAfricano (OQuadro), Cijay, Stella Lagos, e todos os beat produzidos pelo próprio Mr. Lagos. Um MC versátil, um artista que tem todo o processo de produção em suas mãos, Lagos faz-nos perceber isso em Audácia (2020) ao longo das 8 faixas que compõem o trabalho. O mano rima sobre suas próprias batalhas, sobre a força de sua arte para superar as dificuldades, sobre amor e sobre a vivência que carrega como homem preto. Sem apelar a clichês, apresenta um trabalho muito coeso e vocês precisam ouvir.

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Mvrk (Salvador)

O rapper baiano Mvrk inicia seu trabalho com uma fábula dialógo que não termina mas apenas abre a “gaiola” e dá vazão ao seu vôo iniciático. Toda a inquietação que leva-nos a buscar meios de expressão estão condesadas nas 8 faixas do seu primeiro EP Antes do Vôo (2020). Hoje integrando a Mob PocaPala, Mavrk é beatmaker, MC e produtor e vem numa caminhada intensa apesar de curta.

Chegando na cena no ano passado, o ano de 2020 nem mesmo com a pandemia tem barrado aquele ímpeto ao qual nos referimos acima. Além no EP, Mvrk soltou alguns clipes e hoje mesmo vai estrear o audiovisual de Mágoas (2020). Entre dar o primeiro passso, voar e o pouso ou a queda, o que podemos perceber é uma jovem promessa tateando seu próprio caminho, experimentando sonoridades e levadas, iniciando a sua jornada. Fiquem ligados!

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-Dez Artistas baianos do hip hop que você precisa conhecer!

Por Danilo Cruz 

 

 

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