Cena Underground Feminista, você precisa conhecer: Sayuri Yamamoto

Nossa colunista e apresentadora Déia Marinho trocou ideia com Sayuri Yamamoto a resistência e a luta das mulheres num cenário musical ainda sob domínio do machismo!

Tenho dito em entrevistas com a Time Bomb Girls, e nas matérias que fiz para o Oganpazan, que o cenário underground é dominado pela figura masculina. Fica clara a quantidade de artistas homens em evidência e que são ovacionados pelos trabalhos já feitos ao longo dos anos em prol da cena.

Sayuri
Sayuri mostrando seus talentos como baixista.

Trazendo mais histórias e entrevistas com mulheres para o portal, quero atingir o máximo possível de meninas que ainda caem nas amarras machistas de torcer o nariz para mulheres que estão dando a cara a tapa para trazer música e arte seja no Punk, Hardcore, Psychobilly, Rockabilly etc. Quero que mais meninas se sintam incentivadas por essas histórias de luta e independência no sistema patriarcal em que crescemos e se juntem a nós, seja tocando, incentivando, compartilhando a música e a arte que tanto nos fortalece.

Hoje, trago não só o questionamento de “você dá valor para as figuras femininas que estão há anos criando, apoiando e fazendo acontecer na cena?”, como também resolvi evidenciar a musicista e massoterapeuta Sayuri Yamamoto, uma mulher apaixonada por música, toca diversos instrumentos (que aprendeu sozinha), teve várias bandas no punk, garage, blues e country,  mãe solo, independente desde os seus 14 anos, podemos dizer que é um  mulherão que nos inspira a seguir o caminho da música não importa o obstáculo que apareça a frente.

Sayuri
Sayuri e Deia naquela pausa no ensaio pra tomar uma cervejinha!

Nessa entrevista, Sayuri nos conta de onde veio seu amor pela música, como é ser mãe e continuar tocando e participando do underground e como se vê nos palcos com uma banda só de meninas (Time Bomb Girls) e com sua outra banda em que é a única menina integrante (Los Clandestinos).

Vem conhecer nossa Time Bomb Say! 

Deia Marinho: De onde vem seu amor pela música? 

Sayuri Yamamoto: Acho que nasci com esse amor!  Desde muito pequena, sempre que podia estava brincado de fazer barulho. O primeiro brinquedo que pude escolher, na praça da liberdade com uns 3 anos, foi uma flauta de bambu que tenho até hoje. Mas, com tempo, percebi que eu queria mesmo tocar qualquer instrumento, mas tocar bem.

DM: Quantos instrumentos você toca, conta pra gente quais são e qual foi o primeiro que aprendeu a tocar. 

SY: Toco violão, guitarra, baixo, gaita, bandolim, bateria, escaleta e arranho um pouco violino. Ma,  o primeiro instrumento que comecei a tocar foi berimbal. Eu tinha uns 13 anos quando comecei a fazer capoeira e meu Mestre Lacerda me ensinou a afinar meu violão que eu tinha comprado recentemente (além de ensinar a tocar os instrumentos da capoeira).

Sayuri
Sayuri com as Time Bomb Girls!

DM: Como é a recepção do público quando te vêem como única integrante feminina na sua banda “Los Clandestinos” e na nossa integrada só por garotas  “Time Bomb Girls”. Você vê diferença quando se tem homens na banda? Conta pra gente!

SY: Sinto uma boa recepção com Los Clandestinos, o público sempre cria uma curiosidade quando vê uma mulher no palco junto com os caras. Às vezes tenho a impressão que muitos me olham como “a café com leite” da banda por ser mulher, mas acho que vão mudando de idéia durante o show rs.

Já quando tocamos juntas, Déia, percebo uma sutil diferença. A curiosidade do público aumenta não só para ver o som, mas também para dar aquela “julgadinha”. Mas sério, acho que quando as pessoas se identificam com a gente torna muito intenso esse contato, dá um frio na barriga quando penso em reparar na galera assistindo porque nosso som, além de autoral e só com garotas, desperta em cada um uma reação diferente.  Mas a diferença de tocar com eles é que muitos lugares dão mais credibilidade para músicos homens. O machismo infelizmente ainda domina.

DM: Você sendo uma mulher independente desde os seus 14 anos, cria sua filha praticamente sozinha. Atualmente você tem uma parceira maravilhosa, mas como foi lidar com casa, trabalho e seu amor pela música sendo mulher e mãe em um mundo machista. Já pensou em desistir da música por não aguentar a pressão da sociedade?

Sayuri
Sayuri com os Clandestinos.

SY: Comecei a trabalhar na loja de construção dos meus pais com 13 anos, isso me ajudou a começar a aprender sobre o que eu queria, a dar valor nas pequenas coisas. Juntando dinheiro comprei meu violão, pois tinha pedido pra minha mãe e ela não achou apropriado dar um instrumento a uma menina. Acho que tive que passar por muitas coisas para sentir essa vontade de tocar. Quando me tornei mãe, achei que nunca mais iria tocar. Com o lance da amamentação e cuidados com bebê, deixei de ensaiar, estava em um relacionamento bosta no qual me puxava muito pra baixo. Pensei que não ia mais poder tocar. Fiquei me sentindo vazia, sem expectativa e sem luz própria. Daí, quando terminei definitivamente aquele relacionamento péssimo, tudo começou a melhorar, tanto no meio musical quanto no pessoal. Quando a Laurinha fez 4 anos retomei meus projetos musicais a todo vapor. Tocando com Clandestinos conheci a Lili, e não nos largamos mais. Ela é uma pessoa incrível que me completa e ajuda a ter o equilíbrio que sempre busquei. Nos amamos e hoje sinto a diferença em minha vida pelas pessoas que me rodeiam, como minha vida tomou um curso em que me faz feliz.

DM: Quais sonhos ainda quer realizar no meio musical? 

SY: Parece clichê, mas quero viajar pelo mundo fazendo shows e tocando bastante nas rádios, espalhando nossa música e diversão pelo mundo a fora.

DM: Em um vídeo-recado, o que você diria para as mulheres que ainda duvidam de si para tocar um instrumento e formar bandas. 

 

 

Outras matérias de Déia Marinho no Oganpazan:

GIRLS QUARANTINE MOOD: GAROTAS JUNTAS PARA TOCAR RAMONES

POWER GIRLS HINOS: O GRITO DE GUERRA DAS MULHERES PUNKS

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