Depois de lançar um dos discos mais interessantes do cenário independente em 2020, o Bufo Borealis finalmente fez sua estreia nos palcos.
Bufo Borealis – Pupílas Horizontais
Um dos grandes lançamentos nacionais de 2020, o debutante do grupo Bufo Borealis, intitulado “Pupilas Horizontais” – que saiu em vinil via Zenyatta Records – com liner notes do Carlos Suarez de La Fuente, da Big Papa Records – teve que ficar na conserva em função da pandemia, mas enfim pôde estrear e recriar a alucinógena experiência do Jazz-Punk que se escuta no disco, sob um palco.
O cenário para isso não poderia ser melhor. Foi no Teatro Paula Autran do SESC Pinheiros, que o Bufo fez seu primeiro show, num dos maiores festivais do país. O projeto idealizado pela dupla Juninho Sangiorgio e Rodrigo Saldanha foi amplamente comentado aqui no Oganpazan, com uma resenha do disco, uma entrevista com o Juninho (baixista) e o lançamento do clipe de “Lagos”, um dos singles do trabalho, que foi liberado com exclusividade no nosso site.
Na época, fiquei bastante intrigado com o disco, pois gostaria de ver como essa música aconteceria ao vivo. O duo gravou as linhas de bateria e baixo com uma placa de áudio, em casa mesmo e mandou o material para alguns amigos preencherem com vocal, letra, saxofone e diversos outros elementos presentes nesse groove do it yourself.
A ideia básica era criar uma sessão rítmica que refletisse o grande trabalho de pesquisa/estudo musical que Rodrigo e Juninho conduzem, pensando não só no trabalho deles como músicos, mas também como ouvintes.
O resultado é uma porção de tracks com identidade muito bem definida e que encontrou no Punk, a linguagem para tocar Jazz-Funk. É como se fosse uma vitamina de Miles Davis elétrico, com o swing gorduroso do Hard-Funk e meia xícara de chá de Papai Noel filha da puta.
Bufo Borealis – SESC Jazz
E ao vivo funcionou tremendamente. Com um quinteto formado por Juninho Sangiorgio (baixo/percussão), Rodrigo Saldanha (bateria), Anderson Quevedo (saxofone), Tadeu Dias (guitarra) e Paulo Kishimoto (teclas e percussão), o Bufo Borealis não só recriou a atmosfera do Pupilas Horizontais, como expandiu suas fronteiras num showzação de 90 minutos, com participações chave de Fernanda Lira e Rodrigo Carneiro.
Bateria no centro. Kit compacto. Parecia Big Band. A configuração dos músicos foi bem pensada e cada um dos instrumentistas agregou à psicodelia do sapo venenoso. O Tadeu Dias veio com um wah-wah no mínimo cremoso no bolso.
O Jazz-Punk apostou em riffs mantra pra embalar o Funk. O saxofone de Anderson Quevedo acrescentou um teor espiritual à viagem. As texturas de guitarra, a nave de sintetizadores e a relação dessas peças com os sopros promoveram um sinuoso trabalho de preenchimento. Pra fechar, a sessão rítmica estava colada, enquanto Juninho dropava vários riffs de baixo dignos de serem tocados em loop a tarde inteira e Rodrigo conduzia as interações com bastante concentração.
A roteirização do show foi excelente, apresentou novos temas de um provável segundo disco, tocou o debutante do começo ao fim e finalmente revelou o potencial criativo de um projeto que encima do palco mostra-se bastante pronto, surpreendente e musicalmente bastante interessante.
Esse é pra ouvir com as pupilas horizontais.