A Black Pantera fez show na Casa Rosa em Salvador no dia 05 de janeiro, encerrando sua passagem pela Bahia com a NINJA Bahia Tour.
Uma banda necessária!
A Black Pantera é uma banda fundamental para a cena de metal extremo brasileira. Antes de mais nada por ter um posicionamento político claro, expondo isso nas letras de suas músicas, nas postagens em suas redes sociais, nas intervenções ao longo dos seus shows.
Deixam claro ser uma banda antirracista, antifascista, o que no contexto brasileiro significa ser antibolsonarista, e que está de braços dados com a causa LGBTQIAP+. Outra coisa importante é o fato de ser uma banda preta de metal extremo que vem conseguindo se infiltrar no mainstream desse seguimento musical.
Desde a volta dos shows, a partir do decréscimo dos casos de infecção e morte pela covid 19, a banda tem tocado nos principais festivais país afora, como o Afropunk realizado em novembro de 2022 em Salvador. Fizeram a tour nacional de lançamento do seu último álbum Ascensão (2022) e estão sempre tocando pelo Brasil.
Pode parecer estranho destacar estes dois pontos, contudo, como no segmento de metal extremo, não só no Brasil, mas pelo mundo, a existência de bandas integradas em sua totalidade por membros pretos é ínfima, ter a Black Pantera se inserido com força dentro deste segmento deve ser motivo de celebração!
Principalmente por fazê-lo pautando, através das suas letras e de seus discursos, seja nos shows ou nas redes sociais, o debate acerca das questões raciais, em especial o racismo vicejante em nosso país. A partir disso, podemos ressaltar a importância de uma banda de metal extremo, que vem se inserindo no mainstream, se posicionar politicamente.
Isso porque no meio é comum surgirem posicionamentos antipolítica, que sabemos bem ser a antessala do fascismo, bem como posicionamentos de extrema direita. Aqui no Brasil a identificação com os valores do bolsonarismo representam essa posição política extrema.
Vimos o caso recente do baterista Ricardo Confessori, que fez declarações em apoio aos atos terroristas promovidos por bolsonaristas na Praça dos Três Poderes no dia 08 de janeiro (aqui). Isso levou à dissolução de uma das grandes bandas do metal nacional, o Shaman.
Nós que curtimos a diversidade sonora presente no universo do som extremo comemoramos o fortalecimento de uma banda que vai contra corrente e por isso mesmo se apresenta como uma força necessária para este seguimento.
Um show explosivo e com muita troca de energia
Faz um tempo que eu queria curtir um show da Black Pantera e de preferência aqui em Salvador. Surgiu a oportunidade quando eles se apresentaram no Afropunk Bahia no dia 26 de novembro de 2022. Contudo, minha alegria durou pouco. Tive que fazer uma prova de concurso no dia do festival!
Mal sabia esse átomo parte da imensidão do universo, que este conspirava pra eu curtir um show da Black Pantera em condições “ideais”. Quando foi anunciada a NINJA Bahia Tour, que levaria a banda a percorrer as cidades de Vitória da Conquista (03/fev), Feira de Santana (04/fev) e Salvador (05/fev), eu vi a oportunidade de ouro pra curtir um show dos caras.
Cheguei na Casa Rosa localizada no boêmio bairro do Rio Vermelho e logo que adentrei o recinto percebi o quanto seria foda assistir o show dos caras. Palco baixo, espaço amplo com uma vista linda para o mar, público ansioso pelo início do show.
Os caras entraram no palco com pôcazideia, deram um salve pra galera e entraram de sola, já dando aquele impacto marcante com a porradeira Legado. O show começou nessa intensidade e daí por diante, a coisa só foi se intensificando!
Isso se deu muito pela forma como os caras tocam e se comportam em cima do palco. É visível o tesão dos caras por estarem tocando! Já colei em muito show em que os caras tecnicamente entregaram o esperado, fizeram uma apresentação impecável deste ponto de vista, mas foram incapazes de transmitir algum átimo de energia ao público. Faltou gana, verve, vontade de estar ali fazendo um show! No caso do show da Black Pantera ocorre exatamente o contrário!
Interessante foi notar a integração entre público e banda no decorrer do show. Ao mesmo tempo que os caras inflamavam o público, este inflamava os caras em cima do palco. O Charles é um frontman explosivo! Na medida que o show avançava o cara ia ficando cada vez mais intempestivo. Claro, o público o acompanhava.
E o acompanhava porque o cara sabe como usar a energia gerada pelo encontro entre banda e público através do som, para produzir as reações desejadas do público. Em momentos pontuais o cara inflamava a galera, que respondia moshando com vontade em frente ao palco.
O ápice foi quando o cara desceu do palco e começou a moshar junto da galera, uma comunhão que refletiu bem o clima do show. Não foram poucos os momentos em que o Chaene repudiou o nefasto, e finado, governo Bolsonaro, bem como seus seguidores.
Do meio pro final do show o Charles já estava sem camisa, os caras estavam naquela suadeira de quem tá pegando fogo e chamaram as minas pra frente do palco. Se não me engano foi quando tocaram a versão que fizeram para A Carne, que faz parte do EP Capítulo Negro (leia nossa resenha sobre esse trabalho da banda aqui).
Foi um ode à grande Elz Soares, tão intensa e combativa quanto a Black Pantera e as minas ali presentes. Ainda pudemos ouvir e sentir a felicidade dos caras por estarem em Salvador. Terra onde a ancestralidade africana se apresenta na arquitetura, na cultura, na música, na pele do seu povo! Por tudo isso os caras se sentiram em casa e fizeram um show pujante, um rito em homenagem à nossa descendência africana!