A Tribo, o super grupo de rock psicodélico brasileiro

A Tribo, banda de rock psicodélico formada por Nelson Angelo, Joyce (Joyce Moreno), Novelli, Toninho Horta e Nana Vasconcelos (posteriormente substituído por Nenê da bateria), que você deveria conhecer. 

Caso você seja uma pessoa minimamente interessada pela música brasileira,  conhece muito bem os nomes e o trabalho de Nelson Angelo, Joyce, atualmente Joyce Moreno, Novelli, Toninho Horta e Nana Vasconcelos. Isso porque os cinco contribuíram diretamente para o fortalecimento e divulgação da nossa música dentro do Brasil e pelo mundo afora.

A Tribo
Show de A Tribo no Maracananzinho em 1970. Da esquerda pra direita: Toninho Horta, Joyce, Nelson Angelo e Novelli.

Agora, certamente você não sabia que esses cinco estiveram juntos numa banda. Isso mesmo, Nelson, Joyce, Novelli, Toninho e Nana tiveram uma banda de rock psicodélico no início dos anos 70.

Os cinco no ímpeto da juventude, desejando apenas fazer música despretensiosamente, sem saber que viriam a contribuir para a construção de uma das décadas mais produtivas e criativas da nossa música, os anos setenta.

Infelizmente a banda lançou apenas algumas músicas em singles, um compacto duplo, tiveram algumas de suas músicas incluídas em LPs de festivais, trilhas sonoras de novelas e filmes, além de duas músicas, Kyrie Peba & Pobo, que saíram na clássica coletânea Posições – Vanguarda, que trazia outras bandas que surfavam a estética psicodélica do período como Som Imaginário, Módulo 1000 e Equipe Mercado. Qualquer um desses materiais hoje em dia são raríssimos e custam o olho da cara no mercado de vinis. 

A Tribo
Capa da coletânea Posições, que traz músicas das bandas A Tribo, Equipe Mercado, Modulo 1000 e Som Imaginário.

A coletânea saiu em 1971, mesmo ano em que foi lançado um compacto duplo pela Odeon, portanto, com 4 faixas, que trazia apenas o nome de Joyce. Porém, todos os integrantes de A Tribo participaram da sua gravação.

Eu cometi o pecado de rotular A Tribo como uma banda de rock psicodélico, mas certamente vai além. Mostra que a geração de músicos da época estava ligada nas vertentes do rock dos anos 60.

Os integrantes e a integrante de A Tribo nao pouparam na criatividade, permitiram-se guiar livremente pela sensibilidade criadora e as influências musicais pessoais, que tinha a ver com seus locais de nascimento.

A banda, em termos culturais e regionais possuía uma diversidade, porque trazia consigo a música pernambucana com Naná e Novelli, a música mineira com Nelson e Toninho, representantes do movimento musical que viria a ser conhecido por Clube da Esquina, e a bossa nova carioca com Joyce, que já tinha lançado um álbum do gênero em 1968, que trazia o nome da compositora e cantora no título.

A Tribo.
Manchete de jornal destacando a presença do xaxado na sonoridade de A Tribo. Da esquerda pra direita: Nêne, Toninho Horta, Novelli, Joyce e Nelson Angelo.

Cada qual contribuindo com as particularidades de sua bagagem cultural regional e pessoal, enriqueceu com ingredientes diversos o caldo experimental que estavam preparando. As composições trazem elementos da música nordestina, carioca e mineira acrescidas da psicodelia, da folk music, que resultaram numa estética sonora única.

O fato de Os Mutantes terem se sobressaído comercialmente à época, devido sua aproximação com os representantes do Tropicalismo, além do fato de terem tido um período de atividade relativamente longevo, bem como o fato de terem lançado 5 álbuns (com a formação original) por um selo grande, a Polydor Records, deu destaque suficiente para esta banda no contexto da época. O efeito colateral foi que fez parecer que foi o único caso de representante dessa vertente musical que fundia elementos da música brasileira com seguimentos do rock estadunidense.

A Tribo
Capa do compacto duplo lançado pela Odeon em 1971. O compacto saiu com o nome da Joyce, além de uma foto da cantora como capa, porem o registro foi gravado pela A Tribo.

Contudo, havia outras bandas fazendo o mesmo, como é o caso de A Tribo, mas que por conta de não terem tido a mesma longevidade, a oportunidade de assinar com um grande selo para gravar um álbum cheio e ter o sucesso comercial que lhes era devido, acabaram sendo jogadas para segundo plano. Tornando-as desconhecidas, não só do grande público, quanto de interessados em música brasileira de modo geral, mas não o suficiente pra escavar pela internet atrás destas referências.

A formação de A Tribo teve na banda Sagrada Família, liderada por Luis Eça, o ponto de convergência necessário para seu surgimento. Isso porque Nelson Angelo, Joyce, Novelli e Nana Vasconcellos eram integrantes da Sagrada Família. 

Quando a banda liderada por Eça retornou de uma viagem ao México, que diga-se de passagem, resultou no excelente álbum Luís Eça e Sagrada Família – Nova Onda do Brasil, lançado em 1970, Joyce e Nelson se casaram, na mesma cerimônia que Novelli e Luci.

Os dois casais alugaram um apartamento no Jardim Botânico gerando as condições para o surgimento de um ambiente propício para novos projetos. Em entrevista, Joyce conta que Toninho Horta ainda residia em BH, mas tinha intenção de se mudar para o Rio de Janeiro.

A Tribo
Contra capa do Ep duplo lançado pela Odeon em 1971 com as quatro músicas e suas letras.

Foi então que o jovem guitarrista mineiro foi convidado pelo casal para trabalhar com eles na capital fluminense. A ida de Toninho para o Rio coincidiu com a saída de Nana que havia aceitado convite do saxofonista argentino Gato Barbieri para acompanhá-lo em uma turnê na Europa. O baterista gaúcho Nenê foi convocado para substituir o percussionista pernambucano.

Formou-se ali uma comunidade musical,  uma tribo musical no seio da Cidade Maravilhosa. Contudo, teve um curto período de vida. Lá pelo fim de 1971 o grupo se desfez. Joyce conta que foi um momento em que as mulheres engravidaram e Nelson, Novelli e Toninho Horta aceitaram o convite para trabalhar com Elis Regina, uma “gig” que além de ser uma baita oportunidade artística, renderia um excelente cachê. A partir daí a vida e carreira de cada um deles tomaria seus próprios rumos resultando em obras seminais da música brasileira.

As informações para elaboração desta matéria foram tiradas do excelente site Woodstock Sounds, cuja equipe faz um excelente trabalho de pesquisa e reunião de informações e registros da música brasileira fora dos holofotes da mídia especializada, indústria fonográfica e afins.

Eles reuniram todos os singles lançados pela Tribo e que foram usados em trilhas sonoras de novelas e filmes daquele período, coletâneas, o compacto duplo lançado pela Odeon intitulado Joyce e que leva uma fotografia da cantora na capa. Você pode ouvir todas as músicas reunidas pela equipe do Woodstock Sounds clicando aqui.

Ou se preferir, vocês podem ouvir as faixas separadamente clicando nos links disponibilizados abaixo.

 

Faixas:

01. Andréa  (Trilha Sonora da Novela – Véu de Noiva-1969)

02. Copacabana Velha de Guerra (Lp Encontro Marcado 1969, inédito em cd no brasil

03. Please Garçon (Trilha do Filme – Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa – 1970)

04. Bachianas Brasileiras No. 5 (Trilha Sonora -Novela Irmãos Coragem 1970)
05. Sei Lá (com A Tribo)  (Trilha da Novela – Assim na Terra como no Céu 1970)
06. Onocêonekotô (com A Tribo)  (Lp V Festival Internacional da Cancão 1970)
07. Kyrie (com A Tribo) (Coletânea Posições -1971)
08. Tapinha (com A Tribo) (Compacto simples 1970 com Peba & Pobó – 1970)
09. Peba & Pobó (com A Tribo) (Compacto  1970 e Coletânea Posições 1971)
10. Caqui (com A Tribo) (Compacto duplo Joyce 1971)
11. Adeus Maria Fulô (com A Tribo) (Compacto Duplo Joyce – Odeon 1971)
12. Nada Será Como Antes (com A Tribo) (Compacto duplo Joyce 1971)

13. The Man from Avenue (com A Tribo) (Compacto duplo Joyce 1971)

14. Pessoas (com Nelson Ângelo – ao vivo) (5 Festival de Musica Popular Brasileira de Juiz de Fora)

 

 

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