Beyoncé rouba a cena no Super Bowl 50 ao tratar do racismo

Beyoncé rouba a cena ao abordar o racismo no Super Bowl 50Beyoncé surpreende ao cantar Formation, seu novo single, durante polêmica apresentação no intervalo do Super Bowl 50

A repercussão do show de Beyoncé no intervalo do Super Bowl 50 causou choque e revolta entre os membros da classe média e da elite estadunidense. Atônitos, acharam um absurdo a cantora usar o Super Bowl para escrachar para milhões de pessoas mundo afora a violência que os negros ainda sofrem nos EUA, teoricamente a maior democracia do planeta. 

Jessica Williams, comediante que participa como comentarista do Daily Show no Comedy Central, ironizou a fala de Rudy Giuliani em noticiário da Fox News. O ex prefeito de Nova York se mostra chocado pelo fato de Beyoncé “usar” o Super Bowl como plataforma para atacar policiais. O político parece não saber que a violência policial contra a comunidade negra nos EUA segue a todo vapor em pleno século XXI. Temos aí motivo suficiente para usar seja lá qual for o recurso para expor este problema com todos os seus contornos. Foi o que fez Beyoncé em São Francisco no dia 07 de fevereiro.

Na sequência do vídeo, a transmissão de outro “noticiário” da Fox mostra seu âncora também indignado com o caso. Tal indignação o leva a questionar, perplexo, se existe nos EUA alguma coisa que exclua raças. O sujeito termina com outra questão: “Por que trazer a discussão sobre raças em um show do intervalo de um Super Bowl? Por quê?” Após essa sequência de comentários dos indignados, Jéssica retorna e de modo irônico avisa que vai dar uma informação chocante. Então ela solta a bomba: “Talvez vocês queiram se sentar para ouvir o que eu vou dizer, talvez não estejam preparados pro que vou dizer, mas Beyoncé é negra!” (Assista o vídeo clicando aqui).

Se toda brincadeira tem um fundo de verdade, não podia ser diferente com esta feita pela Jessica Williams. Ter sugerido que a perplexidade demonstrada pelas classes que dominam política e economicamente os EUA foi causado pela descoberta durante o intervalo do Super Bowl que Beyoncé é negra, traz à superfície o modo como estas mesmas classes veem os negros e latinos dentro da sociedade. Estes são bem recebidos quando assumem o lugar que lhes cabe, que se resume em servir seus patrões (senhores?) e aceitar sua condição de subserviência docilmente. 

Beyoncé assume politicamente sua negritude e expressa através dela os abusos cometidos contra o povo negro nos EUA, afirmando com todas as letras que se orgulha de ser negra. O sucesso de Beyoncé entre as classes dominantes se deu até o momento em que sua música serviu apenas para entreter e agitar as baladas em luxuosas casas de show e festas em casas e mansões situadas em bairros nobres EUA afora. No momento em que ela fez de sua música um instrumento de atuação política, reflexão social e denúncia, instituiu o horror e a perplexidade nas casas das “família de bem” dos EUA. Sua apresentação no Super Bowl apontou para  a possibilidade de sua carreira está indo por outros caminhos. Realizada, milionária, construiu uma carreira de sucesso fomentando e colhendo os frutos da indústria do show business. Parece que para Beyoncé é chegada a hora de fazer de sua música um meio de dar voz à reflexão e luta contra a opressão aos negros em seu país. 

Voltando os holofotes ao outro lado da moeda, dá pra imaginar o motivo de tal choque por parte daqueles que estão do outro lado da luta de classes, pois eles há séculos vem ganhando esta guerra. Coloquem-se no lugar dessa gente. Tentem considerar o peso de verem um pelotão de mulheres vestidas com roupas diretamente inspiradas nos uniformes usados pelos Panteras Negras. Já não fosse bastante o impacto visual, ainda tiveram que engolir uma música que expõe a vigência em nossos tempos de civilização altamente avançada da prática do racismo, inclusive no âmbito corporativo através da polícia. Foi impossível não se sentirem ameaçados.

Não posso deixar de considerar que Beyoncé viu no tempo que ganhou no Super Bowl a oportunidade de praticar um ato político, muito mais que entreter os milhões de espectadores que assistiam o confronto entre o Carolina Panthers e o Denver Broncos. Ela mostrou ter elaborado uma estratégia e a colocou em andamento. Não param de pipocar nas redes sociais notícias de protestos por todo os EUA contra a apresentação de Beyoncé no Superbowl. Enquanto escrevo o texto aparece uma notícia quente! Parece que políticos conservadores, ou seja, pertencentes ao Partido Republicano (juntamente com policiais) pretendem realizar um protesto anti-Beyoncé num evento da NFL na próxima terça. Confira a notícia aqui.

A coreografia homenageando e lembrando a figura de Malcon X, a referência ao movimento Black Lives Matter (Vidas Negras São Importantes) e a coreografia simulando um pelotão de Panteras Negras prontos pra luta, assustou a elite branca, que agora revida usando seu principal instrumento de luta: os meios de comunicação. Como quase 100% dos meios de comunicação estão nas mãos dessa gente, Beyoncé e demais figuras negras que possuem alguma influência e poder político nos EUA devem se preparar pro bombardeio, que aliás já está em andamento. 

Vejam, o single “Formation” foi lançado oficialmente no canal da cantora no youtube no dia 06 de fevereiro, ou seja, um dia antes do Super Bowl. Sites especializados em hip hop na gringa como o The Source já especulavam nas vésperas da decisão do campeonato se Beyoncé surpreenderia o público executando seu mais novo single. Ela sabia muito bem o que estava fazendo, certamente tudo foi premeditado. Independente de qual tenha sido a intenção da cantora ao lançar a música na véspera do maior evento esportivo dos EUA e executá-la em seu intervalo, vale muito mais o efeito causado por tais ações. 

O show de Beyoncé no intervalo do Super Bowl 50 marca o engajamento político da cantora na luta contra opressão do povo negro nos EUA. Gera discussão e tensão expondo para milhões de pessoas que os negros estão prontos pra afirmar cada vez mais sua cultura, preparados para lutar por isso. Tira da toca os racistas, que se indignam ao ver sua hegemonia ameaçada. Que este seja apenas o primeiro ato de Beyoncé na guerra contra o racismo nos EUA.

 

 

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