Eloy Polêmico vem construindo uma obra fundamental para quem admira Rap no Brasil, sempre propondo discos conceituais como em Aku Aku
O MC e beatmaker Eloy Polêmico possui dois excelentes discos em sua carreira, Dovahkiin (2017) e Aku Aku (2021), além de participar dos dois volumes das mixtapes da Rancho Mont Gomer, sua firma. Não é exagero algum para quem tem contato com a sua obra considerar o artista como um dos mais importantes MC’s do Rap nacional. Obviamente, que aqui em níveis estéticos e de performance artística, porque em geral considera-se os melhores aqueles que possuem números.
Sob certa perspectiva, os seus dois trabalhos solos têm tomado personagens de jogos de videogame e RPG como ponto de partida para a sua construção estética. Dentro de uma visão em que a vida se manifesta geralmente como uma luta pela sobrevivência, os seus personagens se projetam como pensadores, como outros de si mesmo. E assim sendo, Eloy Polêmico recheia-os com outras tantas referências que vão da história do rap até o pensamento psicanalítico.
Dentro desse escopo, Eloy Polêmico vem construindo uma trajetória dentro do rap nacional, onde seus discos precisam ser estudados, ouvidos com atenção, pois nos leva às profundezas de nós mesmos e é capaz de nos fazer ver a cena de outro modo. Com toda certeza, Dovahkiin e Aku Aku estão entre os melhores trabalhos do que se produziu nos últimos 5 anos em nosso país. Infelizmente, a régua que a maior parte do público e uma parte das mídias utiliza é o próprio umbigo e a busca por lamber que está “estourado”.
Em trabalhos como os que Eloy Polêmico lança, o que estoura são as nossas percepções, nossas ideias provindas do senso comum. Talvez, esse seja um dos motivos para que esse artista seja tão pouco ouvido, mesmo fazendo Rap paulista em São Paulo. Pode ser também, por continuar a fazer os boombap ultrapassado, em um país que torna qualquer coisa uma novidade que hegemoniza os gostos, enfim, é difícil de entender porque artistas como Eloy não recebem a atenção que suas obras merecem.
De fato, entrar em contato com trabalhos como os que são produzidos pelo Rancho Mont Gomer é um exercício longo, é necessário cartografar, mapear o tamanho deste território criativo. Junto a Eloy Polemico vem de lambuja Sergio Estranho e Tadeu Msor, todos com outros tantos trabalhos bastante relevantes e agora o famigerado Rap Delivery. Já em Dovahkiin (2017) as 13 faixas trazem participações de Ramiro Mart, Vivi Âmbar, DJ BatataKilla, Joe Sujeira, Sergio Estranho, Dro, El Mandarim, Surgem, Rômulo Boca, DC e TH. Nomes a serem descobertos por quem admira o bom rap onde a lírica está preenchida de técnica e ideias, produzindo o 5º Elemento da cultura.
“Sem desmerecer o pastel de feira, mas não se faz arte em óleo quente!”
Em novembro do ano passado, Eloy Polêmico soltou o seu segundo disco, Aku Aku, desinvestindo a “máscara” do caçador de Dragões e propondo um trabalho onde ao invés do combate ativo aos problemas externos, somos levados a pensar sobre os diferentes aspectos que constituem o nosso Eu. Se inspirando em referências que partem do game Crash, The Bandicoot”, Aku Aku foi um feiticeiro que se preocupava com o bem estar dos seus, hoje um espírito protetor da natureza e guia das pessoas, e que remete à mitologia da Ilha de Páscoa.
Através dessa referência inicial Eloy Polêmico procede por uma investigação poético musical muito profunda, analisando os arquétipos que constituem os nossos egos, vestindo aqui o seu próprio ego com a potência das máscaras ancestrais. E neste jogo, entre conceitos, ideias, referências a Carl Jung, o MC e beatmaker produz um disco onde as palavras, as rimas, o flow, visam não se esvaziar pela repetição, senão assumirem a cada audição maior profundidade.
São novamente 13 faixas como em seu primeiro álbum, porém há um salto qualitativo muito grande neste último trabalho. As faixas todas foram produzidas pelo próprio Eloy e possuem diversos “toques” orgânicos que abrilhantam e muito a sonoridade do disco. Liricamente, o MC constrói um procedimento onde ao longo das faixas que compõem disco ele toca em pontos que se complementam criticamente, sobre relacionamentos amorosos, sexo, política, ética autoconhecimento, etc.
Novamente também, as participações são muitas, Joe Sujera, RT Mallone, DJ Mãos, Vinicity, Preta Ary, Tatiana, Matéria Prima, Miles Bonny e Yudi Coutinho. Todos esses feats servem-lhe como adições pontuais, em cada singularidade, às ideias que cada música carrega. Além de um preto gato, Eloy Polemico mostra neste seu último disco que canta muito bem, em uma sequência de canções que transitam do Rap ao R&B com muita fluência.
Os beats cativantes, a lírica profunda e os flows que não se repetem, o canto afinadíssimo, junto as participações e o bem construído arcabouço conceitual fazem de Aku Aku (2021) não apenas um dos discos mais importantes do que foi lançado no ano passado, como uma obra que necessita se descoberta. Assim como Dovahkiin (2017), Eloy Polêmico tem produzido uma obra que não necessita de aprovações, que permanecem de pé mesmo que você não saiba.
Conheça:
-Aku Aku (2021), Eloy Polêmico e uma profundidade importante para o Hip-Hop Nacional
Por Danilo Cruz