Festival Estopim 09 Anos (2008), quem tava lá?

Festival Estopim  em comemoração aos 09 Anos do selo Estopim Records, realizado em 2008 é nosso resgate e histórico e afetivo desta vez!.

A Estopim Records foi a maior influência da geração de garotas e garotos do hardcore da década de 00’. Isso é inegável e não adianta torcer o bico.

Capitaneada por Fabiano Passos, a Estopim foi responsável por distribuir discos de bandas de todo o país, com o melhor do que se tinha no hardcore na época, além de fazer lançamentos de igual importância para o cenário nacional, e trazer diversas bandas para tocarem em Salvador, gerando assim esse intercâmbio cultural.

O melhor evento criado pela Estopim foi seu Festival comemorativo de aniversário. Sempre inovando em formatos, Fabiano estava muito além do que se fazia na época em Salvador. Nunca foi só música, sempre tinham boas atividades e mesmo nas edições que apenas tiveram shows, foi foda pra caralho.

Em 2008 a Estopim fazia 09 anos de existência, e Fabiano alugou a Boomerangue, os dois pisos, para fazer uma festa à altura do selo e do jeito que a cena hardcore local merece. Eu estava lá, e abaixo vocês poderão voltar no tempo:

Marcado para as 14 horas, o Festival de 09 anos do selo Estopim teve um atraso considerável, contudo nada que tirasse o brilho do que estava se celebrando naquela tarde/noite de domingo. A Boomerangue abre as suas portas para aqueles que aguardavam ansiosos o início das comemorações, no 1º piso onde foi improvisada uma “sala de cinema”, Fabiano Passos (Estopim Records) anunciava o início das atividades com a exibição do documentário AFROPUNK, que retrata um pouco da realidade dos jovens negros que fazem parte do meio hardcore/punk norte americano. Muitos relatos de integrantes de bandas e pessoas inseridas no meio, considerações, anseios, um retrato de como é, e de como deveria ser, o meio contra-cultural, na visão dos entrevistados. Um documentário realmente interessante, dinâmico e que ainda conta com cenas de shows de bandas de hardcore/punk que têm integrantes negros.

https://www.youtube.com/watch?v=eSlJXN_gopg

Abrem-se as portas de acesso ao 2º piso, onde ocorreram todos os shows do Festival, já a postos estavam eles após 01 ano fora dos palcos DIANTE DOS OLHOS. A banda, como a 01 ano atrás, mantém a mesma formação e executou músicas que saíram no split Transformando a distância em possibilidades, além de músicas da sua Demo S/T. Além disso, mostraram para o público que nesse 01 ano sem shows não ficaram parados e sim produzindo. Tocaram diversas músicas novas, inclusive uma composta por Silvio, da banda sergipana Demonkrätzie. As músicas estão diferentes das músicas do Split, que soavam mais melódicas e oitavadas, agora estão mais pesadas e rápidas. Pena que o público ainda estava frio e acanhado, ficando apenas observando a apresentação da banda. Estamos no aguardo de mais shows e de um possível lançamento para 2009.

Falando em lançamento, a segunda banda a subir ao palco, HOMEM METEORO, estava ali lançando seu EP intitulado A saga do incrível Homem Meteoro, gravado no Estúdio da Estopim Records. Ainda não tive tempo de ouvir o EP, contudo pelo que se pôde ver da apresentação dos caras é certeza que A Saga do incrível homem meteoro é um excelente lançamento de 2008. A desenvoltura dos integrantes da banda é ímpar, parece combinar com o som caótico que a banda faz. Expressões faciais, interação com o público, tudo isso marcou o show da Homem Meteoro, creio que justamente por esses ponto o público se soltou mais, interagindo com a banda.

Com o público já em estado de ebulição a YUN FAT, fez um dos melhores shows do festival. Irreverência seria a palavra que melhor pode definir a banda, porém seria um pecado resumi-los a isso. É difícil escolher no show dos caras se você dança, dar risada ou fica de boca aberta vendo a qualidade musical destes, eu tento fazer os três. Tocando praticamente o mesmo repertório do show do Boom Bahia, a Yun Fat mostra porque é forte concorrente a ganhar o prêmio Bahia de Todos os Rocks. Além de músicas próprias e a versão de “Sunday bloody Sunday”, do U2, que constam no CD Actions movie stunts get to die, tocaram músicas novas que já dão uma prévia de que o segundo material não deverá nada ao primeiro. A mistura de Bossa Nova com Metal e Grind, juntado com a malemolência do público soteropolitano fez do Boomerangue uma verdadeira pista de dança.

Parecia que agora a festa iria ficar quente, todos animados à espera da próxima banda quando sobe ao palco os representantes da velha escola do punk baiano: PASTEL DE MIOLOS. Com mais de 14 anos de estrada, ainda continuam ativos e tocando um punk rock cru, com umas pegadas de ska, e claro, hardcore. Porém, parece que não agradou muito o público presente, visto que nitidamente os que ali estavam morgaram e procuraram os sofás do recinto para descansar. A banda no finalzinho ainda tocou um “Blitzkrieg bop” da nova-iorquina Ramones, porém nem isso animou os que ali estavam.

Quando a A SANGUE FRIO entrou em cena, o pessoal ainda estava disperso, porém foi começarem a tocar a primeira canção que o público, meio acanhado, começou a se aglutinar em frete ao palco. O show foi basicamente uma reunião, pois o baixista Jonas não reside mais em Salvador, o que tem impossibilitado a banda de realizar shows frequentes ou até mesmo ensaios, porém a energia que a banda passa supera tudo isso. Tocando músicas do belíssimo Sonetos de Asfalto e do recém lançado Uma vida é muito pouco, a A Sangue frio, ainda não tinha atingido o objetivo de fazer todos dançarem para revolução, mas depois do puxão de orelha de Fabiano (vocal) o público se soltou, e aí foi um verdadeiro baile. Um comentário interessante também feito pelo Fabiano, com relação ao fato de que a alguns anos atrás na frente do palco existia público, hoje em dia existem apenas fotógrafos. Adorei isso, pois é exatamente o que penso (nada contra a fotógrafos), porém é meio chato ver uma galera tirando foto, outros apenas de braços cruzados, legal é ver todo mundo rolando no chão, se sujando, suando, sendo feliz, afinal uma vida é muito pouco!

Com as Pick-ups já prontas, agulha preparada e o conceituado Dj Leandro começa a riscar os discos: VERSU2! O grupo de rap formado por Rangel A.K.A. Blequimobiu e Coscarque vem mais uma vez mostrar que nem só de hardcore vive o homem e mais, que o barulho que os caras fazem é tão intenso quanto as guitarras distorcidas. Quem esperava por um rap pessimista, com letras falando de miséria e pobreza caiu do cavalo, a proposta da Versu2 é totalmente oposta a isso, com bases dançantes e rimas que falam sobre diversão e positividade. Diferente da gravação que rola no MySpace, a música “Na caminhada” ganhou uma nova roupagem com a excelente base do Jurassic 5. Sem sombra de dúvidas a Versu2 não deixou a peteca cair e fez um show contagiante.

Termina a apresentação da Versu2 e Dj Leandro continua em seu posto, todavia chega ao seu lado Dj Índio formando uma excelente dupla de Dee Jays (Nota do colunista: Posteriormente essa dupla formou o Vitrola71). Eis que sobe ao palco ele, lançando o CD Entre verso e prosa, DAGANJA. Integrante do conhecido grupo de rap Afrogueto, Mc Daganja em seu projeto solo mostra que manda tão bem quanto no Afrogueto, onde divide vocais com Osório e Kiko. As bases utilizadas foram bem escolhidas, umas misturando o samba de raiz com rap, além de umas mais pesadas, dando um clima mais gangsta rap na parada. Rima pesada, sincera e bem encaixada, como diz na gíria: O cara tem o flow! O show foi repleto de participações especiais: Osório (Afrogueto), MC Vitor (Cuba), Dimak e um dos MCs da banda de Ilhéus OQuadro, o qual me falha o nome, mostraram que o rap baiano não só está forte, como está unido.

Agora momento nostalgia. Eles que acabaram, mas que de vez em quando dão o ar da graça: MAIS TRETA. Power trio straight-edge, que dessa vez não se apresentou com sua formação original, tendo no baixo Túlio Xavier. Músicas pequenas com títulos gigantes, característica dessa banda que fez os presentes esquecer o cansaço e se debaterem entre si. Hardcore da melhor qualidade, rápido e com vocal embolado. Não se fazem mais bandas como esta. Os caras ainda tocaram uma música nova, será que agora com essa nova formação voltam novamente a fazer mais shows? Espero sinceramente que sim, pois Salvador precisa disso: Simplicidade, velocidade e sujeira!

Para finalizar a noite LUMPEN. Basicamente deram uma prévia do que será o próximo lançamento deles, um CD de covers homenageando bandas que influenciaram os integrantes (Nota do colunista: O nome do disco chama-se Mixtape Quintessência Profana). Entretanto, tocaram ainda músicas do CD Pelo bem da humanidade diga não a paz, sucesso de vendas e totalmente esgotado. Os covers tiveram um toque especial nessa apresentação. Para a execução do cover da No Deal, foi convocado a subir ao palco o Dimak, que fez parte do grupo; Na versão de “Na caminhada” (Versu2), foram convocados Rangel e Coscarque, essa versão ficou digna de filme de gangsta, hardcore ganguêro no melhor estilo NYHC; Cover de Escato, uma das pessoas mais simpáticas do underground, que a tempos não via, o Nal (Escato). Ainda teve covers da Lisergia, Adcional e Scooter Brigade, onde Robson “Velho” (Vocal) relembrou os tempos que tocava guitarra. Quem esperou até o fim foi agraciado com essa verdadeira celebração ao underground, e o melhor ainda deu tempo de pegar o transporte e chegar em casa num horário legal.

PARABÉNS ESTOPIM RECORDS POR ESSES 09 ANOS DE INDEPENDÊNCIA POR OPÇÃO, E PARABÉNS POR MAIS ESSA EDIÇÃO DO ESTOPIM FEST, QUE COM CERTEZA FICARÁ MARCADA NA MEMÓRIA DE MUITOS.

-Festival Estopim 09 Anos (2008), quem tava lá?

Por Dudu 

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