16 Beats lança sua mixtape de estreia numa pegada onde a cada 16 segundos sua intensidade só faz aumentar de qualidade: força e resistência.
Mente rica, “rimâniaco”, mais um “maloqueiro destemido, lá de Pernambruxés”. 16Beats, Malaô 16, simplesmente Dezesseis, ou Anderson Santana, iniciou sua vida no rap aos 16 anos – nada sugestivo, não é? – quando começou a fazer Freestyle, sendo campeão de várias batalhas locais posteriormente. Pelo fato de dominar o estilo de rima livre e por causa de alguns singles lançados na internet, o MC já é conhecido no mundo do RAP-BA, sendo um dos grandes nomes da cena aqui no estado. Motivado pelo vizinho que escutava rap, seu primeiro contato com o sons que tratavam da realidade em que ele se encontrava foi aos 12 anos, e suas influências vêm do Facção Central, Realidade Cruel, Emicida, entre outros.
Rapper completo, seja nas idéias, nos sons gravados ou no freestyle, Dezesseis lança seu disco em grande estilo; “eis a hora” de conhecer o potente trabalho deste artista. Uma mixtape com 16 faixas, a qual se intitula “É Pra Lá Que Vai”, que vai além dos fortes discursos de protesto e também traz narrativas sobre conflitos emocionais, em boa parte, causados pelo modo de vida sofrido, que se encontra em constante combate. Afinal, como o próprio MC diz: “o importante é ter algo a transmitir através do rap”.
O disco se inicia com a faixa que narra a história de um “rimâniaco”, um cara que “chegou pra ficar, aqui é o lugar dele e ninguém vai segurar, pode pá!”, já que “não tem duas conversa, nego aqui se expressa, pelo amor, pelo rap! sem controversa”. “Um príncipe enfrentador de várias guerra”, que mata “10 leão na unha e no dente”, que antes apertava o dedo, mas hoje segura o mic e sua utilidade na terra é essa: freestyle.
“10 Ordem” é a música seguinte, nela o mano discorre principalmente sobre a desordem espiritual, na qual “mesmo vivo, o que mata todo dia é a decepção”. É difícil ser um MC, lutar pelo certo, enfrentar tantas injustiças e algumas almas que promovem injúrias, então a cabeça pode titubear, mas não pode se deixar desmoronar. “Na missão eu sei que poucos sairão ilesos, tenho que fazer virar, por isso que eu sinto o peso”.
A faixa “Rebeliões Internas” começa com áudios de noticiários retratando a violência das ruas, falando inclusive sobre os treze assassinatos cometidos pelos policiais no Cabula. “Não vou mentir, virado na desgraça! Ultrapassa a massa que insiste em criar a farsa”.
Nesta música o mc nos conta como tem sido difícil a vida na periferia, com seus diversos tipos de violência, onde a “humanidade caminha em marcha lenta pro regresso”. Mas ainda se trata de um bom lugar, no qual, em meio a tanto caos, o rap salva, “meu verso é minha religião, não se trata de seita, não é qualquer ouvido ou mente que aceita”, até porque “não adianta! se oprimir, nós canta”! Tudo se trata de uma “vingança pessoal, marcada há 500 anos atrás, honrar cada gota de sangue dos meus ancestrais”.
A letra ainda tem tempo de citar os MCs que usam o rap para proferirem letras que não se tratam de seu verdadeiro sentido inicial, uma crítica a tanto “machismo, cinismo, ceticismo…” daqueles que “já tão na beira, só um tapa, cai no abismo”.
A próxima música é a que dá nome ao disco, com a participação da talentosa Áurea Maria, se prepare: é “mãos pro alto! rima nervosa chegando, tomando de assalto”. Entre viver dentro ou fora do crime, “a escolha é sua e é você que vai dizer”, afinal, “É Pra Lá Que Vai! Respeito aos corações que não batem mais”.
“Sistema 380”, “numa das cidades mais quentes do Brasil”, com a participação de uma das grandes revelações do RAP-BA e que está encaminhando o lançamento do seu primeiro disco, o grupo Nois Por Nois. Mais uma letra que fala da violência e da morte dos nossos conterrâneos, nessa selva cheia de matança, uma “guerra civil não declarada, ai de você se ficar na rua de madrugada!”
“Interlúdio” é uma canção de desabafo, 16Beats narra que “teve tropeço, sim, como tem em toda caminhada”, mas adquiriu força e tá de alma lavada, “cansado dessa babilônia” e ” quem quiser ficar, que fique”, ele já tá de malas arrumadas, “alma na escrita, quem aponta não sabe de nada”.
Em “Eis a Hora” o mano chega com uma letra sobre tudo o que Dezesseis viveu, e não sobre o que viu na televisão, mas que dá motivação pra quem escuta e sente, traz o sentimento de mudança e a vontade de fazer diferente, já que “vontade de aprender tem uma pá, difícil encontrar quem tem vontade de ensinar”. Mas ele juntou os seus pedaços e se levantou com o que restou, “no meio de covil, um monte de vazio”, e quebrando grilhões, segue cantando para os corações, “tentando resgatar quem se perdeu, em respeito aos que se foi e também aos que sobreviveu”.
Na música “Campo de Refúgio”, deixem o prazo cronológico dizer quem Dezesseis realmente é! “A vida é agradecimento, alguns que colocam a corda no pescoço”, eles apostaram na arrogância, mas o rapper em questão se vendeu de vez pra cobrança. É o que ele relata nesse som, fala para amarmos nessa babilônia descarada; ele que teve que se acostumar com as dificuldades na lata, “honra e glória para os MC que vive o que relata!”.
A faixa seguinte retrata mais sobre o emocional humano, principalmente daqueles que vivem em combate, ou aqueles que vivem lutando pelos seus ideais; trata da importância de ter um espírito são para manter a matéria sã. Com a grande participação do talentosíssimo Indemar Nascimento, “Espiritualidade” nos traz o conceito de “se apegar ao perdão, desapegar das mágoas”, afinal, “amar é ter noção, é ser mais puro do que água”.
O beat mais doce que ele tinha… “embaçado vagabundo falar de amor, né” ? “Sensatez” narra a saga de um homem apaixonado por uma mulher com quem teve um relacionamento, uma história iniciada por saudade, “uma mulher pode abalar qualquer vilão” e terminada em desapego, “até um dia desses te queria do meu lado, mas agora só lamento”.
A música “Em Tempo” conta com a participação de Tyro, diretamente da Cbx, e discorre sobre o nosso tempo, que é agora, tudo o que vivemos acontece agora; Enquanto “nas entranhas periféricas, uma mãe preta dá a luz a um sobrevivente”, Dezesseis segue firme no clarão e na escuridão, captando a visão, sua “rima é a ligação!”.
A próxima letra, “Heróis Negros”, era para ser apenas mais uma faixa bônus, mas como deixar de fora da formação principal da mixtape tal preciosidade?! Nesta pedrada, 16Beats mostra a herança cultural deixada pelos anos de escravidão no Brasil; “chicotada, tortura dos preto no cafezal, hoje é pistola de choque da guarda municipal”. Mas ele também mostra a beleza do negro e como ele ainda resiste, embora o cenário não seja tão favorável para quem nasceu pobre e com a cor da pele mais escura, principalmente para as mulheres, “não me esquecer: sou contra a violência nos lares, luta em defesa da mulher foi Lélia Gonzalez”.
Dezesseis retirou toda a força que tem da resistência de que veio e produziu uma bela letra, afinal, “reaja ou será morto, foi a sua manifestação”.
Valeu sim cada esforço, fortalecido por suas letras e todos que a ouvem, mas verdadeiro ele segue, 16Beats declara todo seu amor e satisfação pelo que faz: escrever rap e incentivar os muleque!
O som conseguinte é o “Quarto Poder” que é mais ou menos a continuação da faixa anterior, já que “o quarto poder das ruas é o rap”. Quando o coração e a alma dele ficam cheios, o mano eleva sua letra, permanecendo com os pés no chão.
Para finalizar o CD, “O Preço” da vida, que todo mundo um dia vai ter que pagar, mas quem veio para propagar sua mensagem, não pode parar. “Indignado com juiz de rede social, que nunca meteu mão num projeto social”, “não se engana: 16 é barriu, imagina o Anderson Santana!”. Todo mundo colhe aquilo que planta, mas enquanto a colheita não chega o importante é revolucionar com raça e gana!
Depois desse disco, viva a quem se sente no dever “de levar mensagem, mesmo sem massagem”. Em meio ao caos social e politico no qual estamos imersos, Dezesseis não quer toda a glória do mundo, só quer ficar de boa, sem brincar, fazendo a periferia buscar o que for nosso, ele tá “na disposição pá cobrar”, cantando seu “hip hop verdadeiro, por amor, não ambições!”
“É pra lá que vai”, parceiro, e a “periferia resiste” a cada dia! “Que seja justa as rebeliões!”, fortalecendo os guerreiros e ampliando as visões. Salve!
“Vida longa a todos os traficantes de informação do submundo! Que a luz guie cada MC!”
Você pode baixar a mixtape aqui
Por Mylena Bressy