Zabú em uma Melhor de 4 (2020), transbordando tesão! Em novo EP o rapper apresenta uma ode às trocas corporais e ao amor.
“Sem tesão não se chupa nem um chicabom”
A frase é atribuída a Nelson Rodrigues e eu a escutei há muito tempo, não tenho certeza se é dele, mas é fato que esse dito me marcou. O equilíbrio entre sexo e amor, em tempos de conectividade total, tem sido um problema pois tem descortinado diversas questões até então encobertas. As redes sociais e os aplicativos pareceram facilitar mas despertaram novos problemas.
Em um país de forte herança católica e atualmente sob um imenso crescimento neopentencostal, o corpo que já era desvalorizado em favor da alma, segue numa esquizofrenia, coitado. A ética neopentencostal que por sua vez valoriza a vida terrena e os “bens” materiais, tem despertado outras novas velhas formas de perversão. Não são poucos os casos de defensores da moral, da fam[ilia tradicional que volta e meia são pegos em escândalos sexuais, de pedófilia a estupros.
O rap é música da diáspora e por isso carrega a liberdade e a potência que em África foi desenvolvida de forma a não se compreender o corpo como algo sujo, algo que precisa ser desprezado. E parece ser nessa linha que o rapper Zabú se situa, para compor as tracks de Melhor de 4 (2020). O EP que sucede o desafiante Melhor de 3 (2019) e é também o registro de um momento problemático pelo qual todos estamos passando!
O ano pandêmico, o ano da peste, nos colocou – aos melhores dentre nós – mais atentos as relações pessoais e a vida. Na iminência da morte e do fascismo, a valorização dos sentimentos e das vivências verdadeiras, se impõe com a sua importância primordial. Zabú produziu 4 músicas numa bonita e sexy ode a sua prometida, à sua varoa, ao seu vaso de honra e o resultado é bem bcana.
O abençoado parece entender também que o amor é algo sexualmente transmissível e coloca nas linhas uma sequências de observações, sensações, percepções e reflexões frutos de uma convivência atenta. A estrutura do EP na distribuição temática é muito interessante. A primeira faixa “Café com Chá” apresenta uma manhosa seleção de qualidades percebidas na convivência, nas ruas e no íntimo. Jeitos de ser e de ser com, práticas cotidianas, hábitos, gostos e posições que se mostram como um quadro perfeitamente bem emoldurado.
Lubrificação é tudo, sem ela a vida cria ranhuras e ruídos não permitindo as boas trocas, de fluídos, de ideias, de estar só e acompanhado. Em “Super Foda”, a lubricidade chega ao ponto mais alto, as descrições precisas dos movimentos, encontra um equivalente sonoro muito bacana no beat e nos samples.
Há também uma ode ao fólego e a respiração conjunta, outro elemento importante na vida a dois, sem o qual o correr junto pode degringolar. Aqui Zabú chama mais dois parceiros para colar na track: Sávio Teixeira e $nowmaosnegras. Essas duas participações estão em “Chapada” (prod. gbRbeats), onde a erva sagrada de Jah defuma e prepara o corpo para missas profanas da deusa Lilith.
Todo esse percurso nos traz ao gran finale com “Casal Ref” que fecha o EP com mais um dos beats do Zabú e conceitualmente apresenta-nos o amor em plena harmonia. Ora, quem possui uma solidão acompanhada dessas, tal como descrita nas tracks precisa conservar, principalmente em tempos de isolamento social. De modo geral, o EP é um trabalho sólido de um MC talentoso, que produziu três das quatro faixas do trampo, e vale a pena vocês ouvirem com a consagrada do lado, a meia luz, vinhozinho na taça, trocando aquelasideia!
Da licença, que coloquei o EP no repeat e vou aqui conversar bem sério com a minha varoa, que já avisou que tá toda molhada na cama!
-Zabú em uma Melhor de 4 (2020), transbordando tesão!
Por Danilo Cruz