Froid, Santzu e o karma: o homem não para nunca

Froid, Santzu e o karma: o homem não para nunca. Uma reflexão necessária sobre o cansaço e o manter-se em movimento, em tempos pandêmicos.

Eu estou acordado há quase há 1 dia e meio. Ainda que inserido num contexto pandêmico, o corre tem se mantido intenso. Entre entrevistas, B.O’s do trampo, um olho na comida que está pipocando no fogão, outro no call via zoom, a cena está movimentada.

Como dizem os mestres Racionais: “mil trutas, mil tretas”. Tem hora que não dá tempo de dormir. Não dá tempo de parar. Aquele papo de que se você acordar cedo o dia rende?! Quem nunca ouviu essa (!) Parece que falta hora no ponteiro do meu relógio, papai. Essa é a fita.

Na luta por um objetivo acredito sempre no corre. Jogou onde? Faz quanto tempo que está na atividade? Essa é a cena, é a febre, a frequência, o tesão e a intensidade. Faz mais de 30 horas que estou na ativa. Não vou mentir não, parceiro, a minha cabeça pesa enquanto batuco as teclas. É o cansaço, as cenas se repetindo em loop na mente, a perspectiva do futuro e esse texto aqui que entrou no bonde e já sentou na janela com baseado aceso e os caralho.

É foda. Eu quero dormir, muito mesmo, mas sinto que preciso estar aqui agora. Que me desculpe a minha confortável cama, mas é aqui que meu cérebro precisa descansar agora. A pandemia nos fez parar e repensar. Parar é foda, por isso que o bom vagabundo – o vagabundo nato, já dizia, novamente, sabe quem?! – Sim, jão, os Racionais – ele não para, irmão, ele dá um tempo. E só.

Ouso dizer que ele nunca para. A cabeça fica em modo avião – só pro cara achar que dormiu – mas no subconsciente o córtex ferve. Frita um ovo de gema mole, na moral mesmo.

Eu tentei parar. Meu cérebro fumegava sons, versos, ideias de pauta e até mesmo roteiros. Eu tentei parar mano, mas não dá, não tenho tempo pra isso. “O Homem Não Para Nunca“.

Track List:

“Intro”

“Ninguém Morre Me Devendo”

“Vem Tranquilo” – Crhis

“Lamborguine” – Derek

“Tô Cansado”

Essa frase é muito boa. Queria que fosse minha, mas o Froid escreveu primeiro. Na verdade essa frase – além de um mantra – é o que denomina e sintetiza os poderes de um homem em eterno movimento. Questionando o vacilo de quem dorme no ponto, Froid e Santzu chegaram com uma mixtape (lançada em 2019) e mostraram um blend equilibrado entre o flow poeticamente fragmentado do Froid e o quê experimentalista de Santzu, capaz de coexistir no Trap, trampar no Boombap e complementar as ideias do Froid com aquela alquimia que apenas os parceiros possuem.

Vale lembrar que ambos são de Brasília e se conhecem tem tempo. Toda essa sinergia começou a ser trilhada em 2017 e em 2020 eles seguem colaborando, como fizeram no “Oxigênio (Corona disco)”, disco mais recente do Froid – lançado em maio de 2020 – e que conta com a participação de seu comparsa na faixa “Lupa Nova”.

Destaquei esse trampo em especial em função do momento. A quarentena dá impressão de que as coisas estão congeladas, mas não dá pra parar. Num momento como esse o normal não existe e o que antes fazia você levantar da cama já não deve estar funcionando mais.

Tem que fazer mano, não tem mágica. Cansa? Porra, lógico, mas se você não correr, me diz meu rei: quem é que vai?

Assim como o nome, o fluxo da mixtape é agilizado. São 6 temas e 24 minutos de ideia. Depois da “Intro” – que funciona como vinheta – pra engatilhar as tracks, o barato é poucas ideias. Você já entende o por quê do homem não parar nunca e depois já escuta uma lição do Adriano Imperador. É o sample de “Ninguém Morre me Devendo”. O homem que consegue não parar nunca, com certeza faz inimigos… Pode acreditar, mané.

“Você vai me ver correr na garoa fina, sua rejeição é a minha gasolina” (Santzu)

Não é o corre que vai até Maomé, é o Maomé que sobe a bica, fi, mas na próxima faixa você vai entender. Chama o Crhis e “Vem Tranquilo”. Esse é o plano de fundo. Nóia também ama meu caro e se com tudo isso de corre o bicho já estava na febre do rato, não vai ser agora – com uma mina de esquema – que ele vai parar. É o lovesong de quem desenrola.

Se liga na base da próxima bala. “Cannavaro” vem batendo profundo. Os toques de corda na base. O minimalismo parece que joga o beat em queda livre. Quando o Froid fecha a linha você pensa: “acabou por que ninguém consegue suceder isso ai”. Parece que ele rima com escuta.

Na sequência surge o hit da mixtape, “Lamborguine”, um tema que foi o responsável de apresentar a estética dessa colaboração para o grande público. Sabe qual é o segredo pra ter uma “Lamborguine”? Não parar nunca e colocar o Derek no volante.

Não tem milagre meu caro e não adianta ficar choramingando que está cansado. Pega o Story Telling e a classe vaporwave do último tema. “To Cansado” é o som musicalmente mais rico do disco, além de ser o maior também, são quase 6 minutos de punch line. Estar cansado é a sina de quem não para, mas a escolha é sua. Vambora? O Froid e o Santzu já saíram quente.

Tá moscando?

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