Oganpazan
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O Hard-Rock junkie do West, Bruce and Laing

Um dos projetos mais cavernosos dos anos 70, o supergrupo West, Bruce & Laing reuniu o DNA do Cream e do Mountain no mesmo som.

Dentro das milhões de vertentes que nós temos dentro do Rock existe uma em especial que é no mínimo anarquista demais pra se encaixar dentro de um paradigma, não sei exatamente o motivo mas se você reparar, não existe nada igual a um power trio. Não é importa se é Jazz ou Rock.

Duas palavras, um mar de possibilidades. Nenhuma configuração consegue traduzir ou equiparar a sujeira que um power trio coloca em prática meu chapa, é uma equação simples:

baixo + guitarra + bateria = Cream
baixo + guitarra + bateria = West, Bruce & Laing
bateria + guitarra + baixo = Taste
guitarra + baixo + bateria = Grand Funk Raillroad

Dá pra passar o dia fazendo equação, tem ZZ Top, Budgie, Mountain… é banda que não acaba mais e citando a sua professora de matemática : ”A ordem dos fatores não altera o produto”. De fato, a velha está certa, não importa a ordem que você colocar o baixo, a guitarra ou a bateria.

E para tornar a linha de raciocínio mais palpável, a curadoria do oganpazan trouxe um dos maiores powers trio do anos 70. Um supergrupo que uniu o baixista Jack Bruce (Cream), o guitarrista Leslie West e o baterista Corky Laing, esses 2 últimos do Mountain. Senhoras e senhores, conheçam o West, Bruce & Laing.

O West, Bruce & Laing foi  formado em 1972 na Inglaterra. O projeto surgiu de maneira muito espontâneo, pois na época, Jack Bruce estava em carreira solo e depois de lançar “Harmony Row” um ano antes – em 1971 – o baixista estava sem projetos.
Além disso, outro fato que colaborou com a formação do grupo foi  que o Leslie West e o Corky Laing estavam de férias da turnê do Mountain depois dos excelentes “Nantucket Sleighride” e “Flowers Of Evil” (também de 71).
Mas na verdade o grande responsável por essa união foi o vício que o trio nutria pela heroína, talvez a maior ruína dos junkies dos anos 60 e 70.
Isso também justifica o caráter fulminante dessa reunião. O grupo ficou ativo entre 72-74 e gravou 2 grandes discos de estúdio: “Why Dontcha” e “Whatever Turns You On“, lançados em 1972 e 1973 respectivamente, além de ao vivo (Live ‘N’ Kickin’) que no mínimo consegue tangibilizar o caráter alto destrutivo de um projeto formado por 3 viciados.
Pra se ter uma ideia da fase kamikaze dos caras, eles levavam heroína escondida nas ferragens da bateria do Corky Laing, pois arrumar “smack” – como eles chamavam na gíria – na inglaterra era uma coisa, mas fazer corre nos Estados Unidos era outro rolê e pra que ninguém sofresse com crises de abstinências, o grupo apelou para o tráfico internacional.

Line Up:
Leslie West (guitarra/vocal/violão)
Corky Laing (bateria/vocal)
Jack Bruce (baixo/vocal/gaita/piano/harpa)

Track List:
”Why Dontcha”
”Out Into The Fields”
”The Doctor”
”Turn Me Over”
”Third Degree”
”Shake Ma Thing”
”While You Sleep”
”Pleasure”
”Love Is Worth The Blues”
”Pollution Woman”

Abrindo essa quebradeira, surge a faixa título da bagaça, a loucura Junkie de ”Why Dontcha”. Com pinta de hit e um groove que dá uma malemolência para a dinâmica não ficar reta demais, você já sente o peso e a abordagem crua da gravação.

A guitarra de Leslie West é visceral, o Blues é seco e a dinâmica x entrosamento dos caras é absurda. Corky desce a lenha na bateria e as quatro cordas de Jack Bruce engrossam o caldo de maneira imperativa. O peso dessa cozinha é no mínimo digno de nota.

Logo depois as ondas seguem seu caminho com a beleza instrumental de ”Out Into The Fields”. Essa é um dos grandes momentos do disco e mostra a rara sensibilidade dos arranjos do multi instrumentista Jack Bruce. Em meio a um cenário completamente caótico, o mestre do baixo SG dá um jeito de meter uma Harpa na jogada!

Agora voltando com a abordagem arruaceira que permeia grande parte das gravações do trio, eis que aparece ”The Doctor”. As linhas de guitarra de Leslie seguem explodindo riffs, solos e um vocal sempre bastante marcante. As influências do Blues de Leslie e Jack se conversam muito bem e a timbragem do som dos 3 – apesar de densa – não fica embolada, escuta-se tudo e muito bem.

Esse conforto com relação às referências talvez seja o que possibilite investidas de Bruce que vão além do baixo e da voz. ”Turn Me Over” é um bom exemplo disso, nessa faixa Jack chega com uma gaita visionária.

Em ”Third Degree” Leslie chama a responsabilidade no slide, enquanto Jack opta por bolar um boogie woogie no piano de ”Shake Ma Thing”. O swingado no marfim malhado é tamanho que é capaz de levar sua mente lá para os anos 50… Pianinho cruel e que ainda marca presença em ”While You Sleep”, outro tema que mostra o feeling do trio.

Esse trabalho é de uma solidez impressionante. O disco parece um bloco maciço. São 3 dos maiores ases de seus respectivos instrumentos – todos no auge – seja criativo ou chapação e ainda em tom de colaboração. Toda essa liberdade é combustível vital para o flerte R&B de “Pleasure” e o peso absurdo de “Love Is Woth The Blues”.

O baixo gorduroso, a bateria rebocando um residência ao fundo e a guitarra de Leslie… O jeito como eles variaram os vocais trás variedade ao disco, mas sem que a união perca a identidade. Fora que é no mínimo luxuoso contar com as vozes dos 2 maiores frontmans dos anos 70 no mesmo disco.

Até hoje me impressiona o fato de que os 3 nunca brigaram pelo volume. Fazer a mix disso aqui deve ter sido um grande desafio. O baixo em “Pollution Woman” está a beira de estourar. Em diversas faixas parece que o fone vai explodir, mas o swing do Blues e um balanço quase Funkeado – que permeiam a roupagem –  dá uma aliviada na pressão.

O Jack Bruce foi um dos maiores arranjadores do Rock ‘N’ Roll.

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