Wellitu vem recriando capas clássicas da música brasileira, conheça
Danilo
Wellitu vem recriando capas clássicas da música brasileira, promovendo uma interface entre icônicos albuns da MPB e artistas do Rap nacional!
As nossas quebradas possuem diversos talentos, que ou são sufocados no nascimento, ou passam um sufoco constante depois de “formados”. O Wellitu é um desses talentos que tem passado o veneno do desemprego, mas que como a grande maioria, segue produzindo um trabalho fabuloso. No seu caso, o design gráfico entra diretamente no universo musical que o artista mais se identifica: o Rap.
Wellitu, produz arte dentro de uma proposta que poderíamos chamar de dialógica, pelo menos nas suas recriações, ele tem utilizado grandes nomes do rap nacional, e cruzado com discos que não são digamos assim, canônicos. Sabemos o quanto o canône utiliza uma seletividade muitas vezes beirando ao preconceito e a ignorância sobre a diversidade de produções, quando falamos de arte. E o artista morador de Diadema, tem combatido a seletividade do mercado, cruzando referências como Clara Nunes, Emicida, Vandal, Martinho da Vila, Dj Cia…
Com um trabalho que não se resume a esse processo criativo, mas que foi a nossa porta de entrada para o seu universo, batemos um papo para saber mais sobre ele. Questões como sua formação, musical e profissional, o local de onde vem e as condições, a família, Street Fighter e muito mais.
Leia abaixo:
Oganpazan: Salve Wellitu, no seu twitter diz que você é de São Paulo. Qual região você mora? conta um pouco do bairro que você vive.
Wellitu: Eu sou morador da cidade de Diadema, que fica localizada nas proximidades da capital, coisa de 1 hora até o centro de São Paulo e as regiões mais populares, como a Avenida Paulista, por exemplo. Diadema é um bairro conhecido por ter um alto índice de criminalidade, porém, artisticamente falando, vivo num lugar que estimula diariamente a arte. Casas de cultura são populares por aqui, oferecendo cursos gratuitos, como o de ilustração digital, design grafico, pintura em tela, etc. Eu vejo tudo isso com bons olhos, visto que a arte é libertadora. Na periferia tem muita gente ociosa e, muita gente ociosa e talentosa. Por isso, dar opções para essas pessoas e estimular suas criatividades pode ser um passo importante para tirar uma criança da linha do crime e, por consequência disso, da morte.
Oganpazan: Qual foi o seu primeiro contato com o rap?
Wellitu: O meu primeiro contato com o rap aconteceu muito cedo, eu tinha cerca de 8 anos de idade. Lembro que fui numa feira com o meu pai e durante o caminho passamos numa loja que vendia DVD, lá eu acabei encontrando o famoso “mil trutas, mil tretas”, dos Racionais Mc’s. Na minha vida, esse disco foi um divisor de águas, já que posso dizer que existe um Wellington antes e depois de ter encontrado esse trampo. Até aquele momento, eu não sabia que existiam músicas onde a minha realidade era exposta, mesmo que indiretamente. Depois disso, passei a buscar outros trabalhos, então acabei conhecendo o D2, Emicida, Rashid, etc. Atualmente , de tão envolvido com o Rap, eu acabei entrando para a equipe da RAPTV, que é um canal no YouTube, liderado pelo Felipe Mascari, apresentador e roteirista dos vídeos.
Oganpazan: Li em um dos seus tweets que você tá desempregado. Como está a procura por emprego pra um jovem designer negro de 22 anos? Você já terminou a faculdade?
Wellitu: Hoje temos 12 milhões de desempregados no Brasil, realmente não tá fácil para ninguém. Porém, como tenho uma filha, eu preciso me virar. Atualmente eu sobrevivo de freelas que faço como design gráfico, o que tem me ajudado muito. Procurar emprego pelos meios tradicionais está cada vez mais difícil, mas sigo na tentativa de entrar em alguma agência e, bom, mostrar tudo que sei fazer artisticamente. Caso isso não aconteça, ser freela ainda é uma opção, no entanto, para conseguir mais clientes, sinto que precisarei entender mais de marketing digital.
Eu não sou formado em design gráfico, no entanto, penso em cursar o quanto antes. Até o ano passado, eu estudava Jornalismo, porém, durante o último semestre, tive problemas financeiros, o que me impediu de finalizar o curso.
Oganpazan: Você tem uma filha não é? Quais álbuns você mostraria pra ela e sentaria pra debater quando ela virar adolescente?
Wellitu: Tenho uma filha de 2 anos e que já é muito ligada a arte. Aliás, na semana passada, ela fez uma apresentação na escola em que estuda, criando releituras de obras brasileiras. Por ter um viés artístico, sinto que a Lorenna será uma adolescente muito crítica e que lutará por aquilo que acredita. Por isso, 3 discos que eu gostaria muito de dissecar com ela é: Sobrevivendo no Inferno, Pra Quem a Mordeu Cachorro Por Comida… e Nó na Orelha.
Esses três discos são clássicos do rap nacional e que marcam fases completamente diferentes. Sobrevivendo no inferno, mesmo sendo um disco antigo (1997), a temática ainda é muito atual. O Pra Quem já Mordeu Cachorro marca a renovação do rap, que ainda trazia uma linguagem dos anos 90 e que precisava sim conversar com os adolescentes ali de 2010. Nó na Orelha é tudo que a música brasileira pode oferecer, o samba e o rap. Discutir esses 3 discos com a minha filha será muito importante, pois eu quero muito apresentar pra ela uma realidade que a Lorenna não viverá; a do racismo. Minha filha é branca e com cabelo liso, a existência dela não incomoda a ninguém, ela não corre risco de vida por ser branca.
Oganpazan: As capas que você escolheu não são os maiores clássicos desses artistas e alguns mcs também não são os mais populares (ex: Vandal). Qual foi o processo de escolha das capas de MPB e dos mcs?
Wellitu: Eu fiquei com essa ideia fixada na cabeça depois de ouvir o single AmarElo, do Emicida, que tem uma arte baseada no Belchior. No entanto, eu sou muito passional, fiquei quase que 1 mês direto tentando entender a proposta que queria fazer, então aproveitei pra conhecer alguns artistas dos anos 70, 80 e 90. Essa fase de descobertas foi ótima, pois foi o que me reaproximou do meu pai. A escolha dos discos aconteceu por gosto pessoal ou por achar que tal arte combinaria com tal rapper.
O Vandal, por exemplo, é um cara que eu admiro muito, mais ainda depois da entrevista que gravei com ele para o RAPTV. Tudo que ele disse ainda bate muito forte na minha cabeça, questões que ainda não consegui decifrar sobre o racismo ou até mesmo de outros pretos que simplesmente saíram da quebrada e não olham pra trás. Atrelar o trabalho do Vandal ao do Milton Nascimento foi por acaso. Eu estava ouvindo o “TIPOLAZVEGAZH” no quarto, enquanto trabalhava, e ouvi quando meu pai colocou Milton Nascimento pra tocar na sala. Então, em algum momento, eu me peguei parado tentando ouvir as duas músicas ao mesmo tempo.
Oganpazan: Para encerrar, reparei que você gosta muito de Street Fighter, quem seria o Balrog, Dhalsim e o Sagat do rap nacional?
Wellitu: Eu sou apaixonado por Street Fighter, desde muito novo. O meu primeiro contato com o game aconteceu ainda no Nintendo, o que se estendeu até hoje. Sou daqueles que ainda cola no fliperama.
Sem dúvida alguma, o Balrog do rap nacional é o Emicida, pois cada trampo dele é um soco diretaço na nossa cara. O Dhalsin, por ser um personagem versátil e que não precisa estar perto para te atingir, eu colocaria como o Don L. O Nordeste não faz parte do eixo do rap, mas mesmo assim, o Don L consegue furar essa barreira e nos atingir com as letras. Já o Sagat eu colocaria como Mano Brown, um cara grandioso e que é o chefão do rap nacional. Você pode até jogar com ele, mas tem que tá preparado pra isso.
Sigam o trabalho do Wellitu nas redes e se tiverem aquela indicação de trampo indica o cara, porque ele é um designer zica!
Como bem citou o Wellitu, o chefão vai ser a trilha sonora dessa matéria!
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