“CHEGA MAIS JUNTINHO, QUE O BALÃO JÁ VAI SUBIR…”

O balão está subindo e quem jogou ar quente nele foi Mateus Dourado, novo colunista do Oganpazan. Em seu primeiro texto, Mateus explora a influência do grupo Balão Mágico na formação de todo um seguimento musical o brazilian childrens music.

A Turma do Balão Mágico, celula mater da brazilians childrens music

É com bastante orgulho – e um certo cagaço na espinha dorsal dos meus arrepios – que aceito o convite para ser integrante do site Oganpazan. Nunca me vi com tino para colunista musical, mas bons amigos a identificaram como algo expressivo e natural em mim; o convite foi feito, cá estou…

Sou amante dum bom som – em especial de música-nostalgia, som com cheiro sinestésico de ácaros e saudades, especialmente flashbacks mela-cueca e as brazilians childrens music, a boa e saudosa música infantil brasileira dos anos 1980 e 1990. Conhecê-las e saber de seus bastidores se faz necessário para evitar preconceitos xiitas que permeiam a notoriedade dos totens que avaliam e restringem o valor duma música que, se é questionável no dissabor, certamente é refrescante em nossas melhores memórias afetivas…

Você sabia, num rápido exemplo, que dois ex-Mutantes participam do primeiro álbum da Xuxa na Som Livre, de 1986?! Mas isto é história para se contar num outro momento… Por enquanto vamos ficar com aqueles que são o embrião desta bagaça toda, a célula-mater da children music tupinicas e inspiração para o nome desta coluna – a imortal e (e)terna Turma do Balão Mágico (1982-1986/ 1988-1990)

A formação do grupo

Balão
Formação original do Balão Mágico

Filha de artistas circenses e cria do “vovô” Raul Gil, a pequena Simony (com apenas cinco anos, em 1981) viria a se juntar com outro maroto também famoso como calouro e garoto-propaganda, um fofurinho de estranho nome Vimerson Cavanillas (codinomeado pela gravadora CBS como Tob), tudo isto sobre a tutela do empresário da gravadora Tomas Muñoz, propondo um conjunto infantil com repertório baseado em músicas de sucesso no México e alguns países da América Latina.

Para tal missão, foi chamado o compositor e produtor musical Edgard Poças (pai da cantora Céu), no intuito de criar letras sob estas, dando, ao seu prazer, aquela azeitada à brasileira nas tais canções. Também foi convocado para os arranjos musicais o excelente maestro Lincoln Olivetti e o arranjador Chiquinho de Moraes. Sentido que o duo (já com referências de “A Turma do Balão Mágico”) precisava de algo a mais, foi proposto a inserção de mais um membro.

O trio então seria alicerçado então com Mike, filho de Ronald Biggs, um dos lendários assaltantes do roubo ao trem pagador inglês de 1963 – e refugiado no Brasil desde 1970, e que nesta época havia sofrido um sequestro no Caribe, tendo sido então midiado um apelo emocionado do seu pequeno rebento, pedindo por sua libertação. Isto, claro, despertou o interesse de Tomas Muñoz, que ele o chamou para “viajar” neste balão…

Os primeiros trabalhos

Balão Mágico
Capa do primeiro álbum do da Turma do Balão Mágico

   O primeiro compacto do grupo, lançado em 1982, vendeu mais de 1 milhão de cópias, lançando sucessos como A Galinha Magricela e Baile dos Passarinhos. Tamanho sucesso assegurou-os a possibilidade doutros discos: o segundo já viria em 1983, elencado com o mega-hit Superfantástico (cujo clipe foi o primeiro da história a ser reprisado, após pedidos, uma semana após sua exibição no Fantástico, da TV Globo), e outras como Ai! Meu Nariz ou Ursinho Pimpão.

Com um disco mais MPB (tendo, inclusive, participação especial de Djavan e Baby do Brasil – na época Baby Consuelo), sendo também muito mais pop e dançante que o inicial, o resultado foi uma vendagem de recorde de mais de dois milhões de cópias. O laureado ano lacra com o começo do programa Balão Mágico, juntamente com o humorista Castrinho, exibido pelas manhãs da Rede Globo até 1986 (vale realçar que é neste programa que surge quiçá o maior ícone-pop dos anos 1980: o alienígena Fofão, criação do magistral ator e artista plástico Orival Pessini)

A consolidação do grupo

     O terceiro disco do Balão seria marcado pelo ingresso de mais um membro: Jairzinho, filho do cantor Jair Rodrigues, que acompanhava seu pai numa excursão à Itália, cantando para as TVs locais e encantando à muitos – especialmente ao suprir a ausência de Pelé durante uma apresentação.

Tendo a ideia inicial de colocar mais uma garota na turma – ficando assim um par de garotos e um par de meninas – foi inevitável não colocá-lo na patota e assim formou-se a trupe do Balão mais lembrada pelos fãs (Simony, Tob, Mike e Jairzinho).

O álbum de 1984 foi brindado pela presença de Roberto Carlos, então rendido ao sucesso do quarteto infantil que conseguia vender tanto milhões de discos quanto ele próprio! Então vemos o Rei num dueto com Simony na inesquecível É Tão Lindo – além do psicodélico casal Baby & Pepeu em Mãe, Me Dá um Dinheirinho.

O fim do grupo e o destinos de seus integrantes e sua integrante

Vale salientar que o crescimento de seus integrantes reflete-se em suas canções, estas apresentando agora uma malícia de longe existente nos outros dois primeiros LPs: pensando num público mais juvenil, as letras ganham temas como as primeiras paixões, visto por exemplo na faixa Se Enamora.

Não tendo como segurar a puberdade já notória (um mal para um integrante de children music), Tob saiu do Balão em 1985 e em seu lugar entra Ricardinho. Esta mudança também seria marcada pelo começo do declínio do grupo, mesmo com o quarto disco deles vendendo na casa de um milhão de cópias.

Neste álbum, além de faixas como Barato Bom é da Barata (com Erasmo Carlos), Não Dá Para Parar a Música (com Metrô), Garota e Garoto (com Moraes Moreira) ou Chega Mais um Pouco (com a boy band da época Dominó), vale-se destacar o pitoresco brinde dum chequinho de cinco mil cruzeiros para abertura duma poupança na Caixa Econômica Federal!

       Nem um destacado especial da Globo no Dia das Crianças, nem mesmo uma participação de Simony no especial natalino de Roberto Carlos evitariam o inevitável: 1986 entra como o declínio desta formação embrionária d’A Turma do Balão Mágico. O gás do Balão começa a diminuir com o final do seu programa de TV. Assim Simony (junto com sua prima Luciana Benelli) fecha com a TV Manchete a apresentação do programa Nave da Fantasia (Fofão também deixaria a emissora, indo para a TV Bandeirantes).

Como desgraça pouca é bobagem, Mike e Ricardinho pulariam do cestinho balonista e saíram do grupo. Assim, a duplinha Simony e Jairzinho segurou a ponta e concluíram praticamente sozinhos (e com pouca divulgação de mídia, mesmo o grupo sendo agora da Som Livre) aquele que viria a ser o quinto e último álbum da turma, disco que contou com participação de Simone e Leo Jaime.

O programa Balão Mágico, que deveria ser extinto já no começo da nova grade de programas da Vênus Platinada (em abril), ainda ganha uma sobrevida e resistiria até o final da Copa do Mundo daquele ano, em junho. Durante o curto tempo, o programa foi capitaneado por Jairzinho e Ticiane Pinheiro (filha da “Garota de Ipanema” Helô Pinheiro e atual apresentadora da Record TV).

E assim, de queda em queda, o voo do Balão não chegaria aos céus por muito tempo e em 1987 chegaria ao fim este ciclo do grupo… Ainda neste ano Simony e Jairzinho chegaram a ensaiar uma dupla romântica, lançando dois discos e destacando-se com sucessos como Coração de Papelão e Meu Bem (versão de Ben, de Michael Jackson de 1972) e, em 1988, surgiria A Nova Turma do Balão Mágico, com as gêmeas Natanna e Tuanny (filhas da cantora Adriana) e Rodrigo (irmão da Vanessa, do Trem da Alegria), terceto de relativo sucessos, como A Bruxinha e Quem Não Sabe Assoviar, e logo dissolvido em 1990.

     Então, neste período de Dia das Crianças e na estreia desta minha coluna, nada mais especial do que nostalgear este afago auricular e memorial, um som que nos remota aos tempos onde a inocência e o criançar eram nossos alicerces de mundo, onde Toddys e Chambinhos adocicavam nossa Sessão Aventura – ou o sonho dourado de ganhar um Autorama no Natal era tão inevitável quanto cantar o single dos Brinquedos Estrela (“Estrela estrelando/ brincando com a gente/ e a gente brincando feliz…”), um tempo que um balão luzia no céu que a gente era feliz e não sabia…

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