TRANSAFOXÉ lança segundo single: Andança (2018), uma caminhada elegante no diálogo entre o velho e o novo, tradição e a modernidade, juntos!
Em seu segundo single o projeto TRANSAFOXÉ nos apresenta Andança (2018), dando assim continuidade ao trabalho e utilizando dessa vez o movimento como inspiração. É sempre bacana acompanhar desenvolvimentos musicais, processos artísticos, desde a sua gênese e seguir observando como isso se desenrola.
Este segundo passo que agora a dupla Átila Santtana (guitarrista e produtor musical) e Vinicius Freitas (saxofone) dão, sucede o single de estreia Saudação Agabi (2018), música que deu o start do projeto. Apresentando uma sólida proposta de produzir uma síntese entre o moderno e o tradicional, esse segundo tema agora apresentado ganha reforço e com isso mais força para continuar.
Antes uma dupla, o TRANSAFOXÉ ganha nesse novo single o reforço do percussionista Fernando Macuna que se junta para que agora o projeto se apresente como um trio. Uma progressão aritmética mas também um re-forço, uma força a mais para continuar e enriquecer essa “andança” musical.
Há muitas formas de se consumir e de se produzir música, mas nos parece, que sempre que artistas buscam tomar tradições negras, eles arrastam no bojo de suas produções, quando cuidadosos, um movimento que dialoga com todo o tecido social, histórico, politico etc.. É fácil por exemplo, não se reconhecer a origem de determinados gêneros musicais e quais os processos históricos que propiciaram essas criações. A indústria musical inclusive faz questão de propiciar esse esquecimento e na maioria das vezes produzir uma apropriação de culturas diaspóricas. O TRANSAFOXÉ neste caso, se configura como um vetor de dialogo com toda a herança africana, de modo criativo e respeitoso entre o local e o global, o histórico e o atual. Uma conversa que se dá em dois planos, no plano musical e no plano histórico social, dois movimentos que desembocam na percepção e na valorização da força do povo Iorubá, em diáspora.
O projeto TRANSFOXÉ, ao buscar uma transa com o Afoxé, um atravessamento musical desse “candomblé de rua”, reafirma com respeito o caráter sagrado/profano do ritmo Ijexá. Em sua iniciativa de conversar musicalmente, de produzir este enlace entre o ijexá como ritmo ancestral e o eletrônico como expressão do mais moderno, consegue deixar-nos evidente esse processo de heterogênese. Não nos enganemos, música é pensamento operando através da produção de afetos e perceptos (blocos de percepção), e aqui nesse caso que abordamos, uma conversa em inicio com a tradição africana que resistiu, se reconfigurou propondo-se a encarar os novos e velhos desafios.
O conceito de heterogênese é definido como: “Um processo coletivo onde a diversidade social cria possibilidades de cada um – na sua singularidade – se construir coletivamente”. É essa sensação que Andança (2018) no transmite, a produção dessa música, dentro da cidade mais negra fora da África, pode e deveria remeter o ouvinte nessa imersão. Na percepção de nossa história coletiva enquanto povo, na força racial que nos é transmitida através dos tambores, agogôs e agbê e no seu toque de ritmo cadenciado. Processo coletivo e construção singular de resistência dentro de um estado genocida, tendo a música aí um amplo poder de resgate e de vitalização.
Um processo artístico musical que toma pra si uma construção histórica coletiva de resistência e incute aí suas singularidades de ordem musical, propondo atualizações. Produzindo um tecido vistoso como um manto a dialogar entre o sagrado e o profano, para fortalecer caminhadas individuais, cortejos e ou festas coletivas, meditações, sob o signo do Ijexá e a proteção dos Orixás.
Ritmo como pulsação de vida, como linha de fuga da produção massiva do auto esquecimento, de motivação para nós negros e negras em Diáspora, força musical extraída da herança africana, mais especificamente do grupo iorubano e da música ijexá de origem ancestral. Um afoxé eletrônico, onde a linha melódica e as frases produzidas pelo sax do Vinicius Freitas desenhadas sobre as bases elaboradas pelo Átila Santtana, encontram agora o reforço permanente da cadência percussiva de Fernando Macuna.
Que sigamos nesse cortejo, bebendo da fonte inesgotável que a África e sua enorme diversidade nos propiciou com nossos ancestrais desterrados fazendo da arte luta, fazendo da luta dança, transformando dor em beleza. TRANSAFOXÉ é uma disponibilidade para esse dialogo e ao mesmo tempo fonte enriquecedora e caminhada musical de resgate e motivo de celebração da herança. É uma Andança firme e digna dentro de todo esse tecido que tem suas linhas originarias em tempos longínquos mas que chegou e está presente entre nós. Andemos, juntos e cada vez mais.