Top 5 cantoras e compositoras japonesas em 1977. Gian Paolo La Barbera nos abre uma possibilidade de contato com um cenário belo e rico!!
Muitas vezes encontramos pessoas na internet que nos oferecem com sua “amizade” algo, seja a possibilidade de contatos com leituras, de poder fazer com que visualizem nosso trabalho, descobrimos amigos reais, artistas e gente chata e ignorante que rapidamente deletamos.
Esbarrar no facebook com o Gian foi um desses felizes encontros que nos apresentam mundos que nos ajudam a elevar e potencializar nossa existência na medida em que faz do seu perfil no facebook um lugar onde descobrimos beleza. O cinema japônes sempre foi um paixão que cultivei, e além das trilhas sonoras originais de filmes do Yasujiro Ozu, outro diretor nos aguçou os sentidos para conhecer a música pop japonesa. Shuji Terayma nos apresentou a maravilhosa banda Flower Travellin Band, mas eis que nos surpreendemos com o arsenal do Gian.
Em um passeio pela nossa timeline semanas atrás, vimos o Gian Paolo indicando cantoras e compositoras japonesas, visitamos o seu perfil e vimos outras dicas maravilhosas, e ele prosseguiu nessa missão. Com aquela cara de pau que nos define muitas vezes, perguntamos a ele se poderíamos utilizar aquelas dicas e o mano prontamente aceitou, copilou tudo e nos mandou.
Gian Paolo La Barbera é um daqueles pesquisadores que realmente cavam fundo pra fugir do óbvio. Músico, ilustrador e designer brasileiro que já teve seus trabalhos publicados em revistas no Brasil e no exterior, em 2005 recebeu o 30º Prêmio Abril de Jornalismo com matéria ilustrada para a Revista Vip. A relação entre música e arte gráfica sempre foi um importante elemento de seu trabalho, o que lhe levou a ter suas produções em obras de artistas como Marcelo D2, Ed Motta e Wilson Simoninha aqui no Brasil, assim como com artistas internacionais.
Em seu trabalho musical fez parte do projeto Modo Solar, um duo paulistano que gravou o EP Natural (2008) lançado pelo selo francês Favorite Recordings. Como produtor, trabalhou na faixa Kampala Hustle, para o projeto ClassicBeatz do músico norte americano Jason Minnis, lançado pelo selo belga Laid Back. Um currículo extenso de quem trabalha a música em diversas expressões, mas que sobretudo mantém a paixão da pesquisa e da descoberta de novos caminhos, sejam eles criativos, sejam eles de discos históricos e esquecidos ou desconhecidos do grande público.
Sem mais delongas, apreciem esse top 5 por Gian Paolo La Barbera:
Yoshiko Sai – Taiji No Yume (1977)
Durante um período de convalescência em que esteve internada na juventude, a poetisa, cantora e compositora nipônica foi fortemente influenciada por romancistas japoneses, o que talvez explique o imaginário denso e a força de sua música, muitas vezes sombria, melancólica mas ao mesmo tempo delicada e precisa em todos os elementos que a compõem. Não há nada fora do estritamente essencial. Yoshiko lançou Taiji No Yume, seu terceiro trabalho, com apenas 24 anos de idade. Dotada de uma maturidade precoce impressionante, ela injeta um tom um pouco mais prog ao folk rock dos discos anteriores sem abandonar o seu estilo igualmente climático. Aqui, os arranjos orquestrais imponentes do incrível pianista Yuji Ohno fazem contraponto à violões flamencos, guitarras e pianos elétricos, formando como que uma teia onírica de extrema e rara beleza. A temática? Uma jornada rumo ao descobrimento do significado da própria existência.
Altamente recomendável que se ouça toda a sucinta discografia dessa incrível artista.
Hako Yamasaki – Indigo Poetry (1977)
Os primeiros acordes de In That Sea já entregam a força vulcânica da interpretação de Hako que, aliada aos violões e à imponência dos arranjos orquestrais que percorrem todas as faixas, fazem de Indigo Poetry um trabalho extremamente vigoroso. Mais um disco de folk rock com tons épicos da década de 70.
Minako Yoshida – Twlight Zone (1977)
Como seria impossível escolher um álbum dentre tantos trabalhos lindos dela, acabei no par ou ímpar comigo mesmo.
Em Twlight Zone, as orquestrações de Tatsuro Yamashita (sim, ele também é um monstro nesse quesito) abraçam com maestria o canto inacreditável, o piano e as composições de Minako.
Uma explosão de talento por todos os sulcos.
Ecos de Laura Nyro e Joni Mitchell, por vezes em baladas monumentais – na melhor tradição singer/songwriter – ou em momentos funkey de Uptown e na marvingayeniana Shooting Star Of Love.
Ouça no fone, à tarde, hoje à noite, mas ouça, e depois corra atrás dos outros discos dessa artista gigante, garantia é ser tudo envolto em mágica.
https://www.youtube.com/watch?v=7nCDgHApBhY
Doji Morita – A Boy (1977)
Deitada na grama de um planeta qualquer na imensidão do cosmos.
Esse sentido de irremediável solidão percorre todo o álbum de 1977, A Boy, um verdadeiro tratado do folk rock nipônico orquestrado, por vezes minimalista e melancólico até o último compasso.
Após pouco mais do que dez anos de carreira e a realização de sete álbuns fantásticos, Doji abandonaria sua arte no início dos anos 80, deixando sua misteriosa persona praticamente intacta, um profundo contraste à super exposição artística muito comum no século 21.
Taeko Ohnuki – Sunshower (1977)
O boom econômico do Japão pode ser considerado um dos motivos que explicam a grandiosidade e excelência da música gravada naquele país a partir do pós guerra. Desde a engenharia de som até a qualidade impecável dos arranjos, o design gráfico das capas e o fantástico grupo de excelentes instrumentistas que figuram em muitos dos álbuns aqui citados, tudo beira a perfeição. Sunshower não é diferente. Tatsuro Yamashta, Haruomi Hosono, Yu Imai, Ryuichi Sakamoto, todos icônicos nomes do pop japonês das décadas de 70 em diante, abrilhantam com sua presença esse marco do que ficaria conhecido como City Pop. Simplesmente maravilhoso e indispensável.