Todo mundo cita Vandal, o preto que você queria em segundo sol, um dos artistas mais originais da cena, o rapper segue sendo invisibilizado!
Esse é o ano em que teremos em breve o disco de estreia do Luiz Lins e um pouco depois teremos o primeiro disco do Vandal. O rapper baiano já possui uma mixtape e diversos singles e participações e o cantor, compositor e MC Luiz Lins vem numa caminhada bem mais recente com singles poderosos. Recentemente lembramos de uma fala presente numa entrevista do Diomedes Chinaski (que enfrenta acusação de oferecer drogas e tentar seduzir menores) onde ele chamava atenção para o fato da xenofobia e do racismo, barrarem uma visibilização real do potencial desses dois artistas!
Ontem vendo uma entrevista do Zudizilla no Fino da Zica, o rapper gaúcho citou o clássico Ballah ih Fogoh. Semanas atrás no programa do RAP TV apresentado pelo Rômulo Boca, o mano Fleezus citou Vandal como o pioneiro do Grime no Brasil. De norte a sul ele é citado, mas o hype não segura o peso que é a sua música, a força de sua originalidade e principalmente não suportam que diz:
“Avisa os Boy, não me corrompe um, pegue seu ice e seu paquistanês e meta no cu.“
No atual cenário do rap nacional, onde a indústria cultural flerta com a cena e a apropriação cultural, aqueles que mandam e ganham dinheiro com o rap são na sua esmagadora maioria brancos, Vandal é um perigo! Não é facilmente assimilável, pois o seu próprio método de composição, sua música, apesar de solitária prioritariamente, carrega uma força, uma potência de agenciamento coletivo que certamente impõe medo no hype, em seu público e na indústria.
“Cantar vitória na derrota é pra qualquer um, cantar derrota na vitória não é pra qualquer um.”
Certa feita conversando com um rapper muito famoso nacionalmente o mesmo me dizia que Vandal era o Paulo Leminski do rap. Isso nunca saiu da minha cabeça, pois há uma verdade nessa comparação que transcende e muito as problemáticas de superfície sobre mensagem ou não, estilo ou não, que muitas vezes domina o cenário.
Em outra entrevista, dessa vez do próprio Vandal, ele contou um pouco da sua formação musical, oriunda basicamente do seu bairro Cidade Nova e do entorno, e de sua participação no período de ouro do Ministério Público. Do House ao Grime, Vandal bagaça e mais do que isso: “puxa o bonde das favelas” em sua música, com uma linguagem ao mesmo tempo original e singular, e totalmente acessível. E esse puxar o bonde não é meramente citar, puxar uma dancinha, mas levá-las em suas linhas de vida dando perpétua quando for necessário dar. E isso é insuportável para muitos que realmente observam e entendem a gravidade de versos como esse:
“Você não enxerga seu erro, eu vou te botar na visão, eu penso no povo primeiro você é segunda opção, eu penso no povo primeiro, Bahia é primeira opção.”
ou ainda: “Amo a guerra minha e sua, sua sua e minha, cada quebra sua favela se parece a minha, cada rosto sua família se parece a minha defendendo minha cultura, sua sua e minha, bala e fogo, aço e rima, bala, aço e rima.”
Enfrentamento e empatia em níveis de guerrilha, agenciamento e declaração de guerra, não é atoa que Ballah ih Fogoh tem a força de enunciação que tem. Pois retirada do contexto das guerras de facção pode e deve assumir outro caráter quando se trata de disputas da ordem macro ou micro política, de auto defesa e também com um caráter sublimatório da violência que é saudável para a cultura.
“Eu não te amo e não vou falar de novo, se caminhar pra cima do meu bonde vai ser bala e fogo”, e é nessa postura, de enfrentamento e de criação afirmativa de uma negritude que não é dócil, que não vai ser docilizado e pedir desculpas pra ninguém por ser um homem negro e periférico, que Vandal segue na trincheira. Assumindo desde sempre suas contradições: “Vandal não presta pra inicio de conversa“, sem maiores dramalhões, sem verniz acadêmico, impassível diante da máquina de captura.
Ao mesmo tempo sem a máquina publicitária e da turma descolada para lhe empurrar goela abaixo do hype, segue influenciando artistas, por vezes sendo copiado, sendo citado mas impossível de aparar as arestas. A gourmetização é um processo que não conseguiu atingir o acarajé baiano, a evangelização do bolinho de jesus até tentou mas não vem tendo muito sucesso, e de algum modo Vandal é como um acarajé… Pode dar caganeira em quem tem o estômago fraco, pode surpreender quem quer ele quente, mas se bem degustado – os daqui – não tem similar… Corehardcoreh.
Queriam vê-lo em segundo sol, mas as visões que Vandal elabora em sua música, sua história junto ao rolê com Baiana System o tem levado a galgar cada vez mais reconhecimento das favelas e dos boy (brancaiada classe média) que seguram o tranco e entendem seus privilégios ou fingem entender. Vale destacar que o Baiana System ganhou recentemente um grammy com o disco O Futuro não demora (2019) que nós resenhamos aqui, e que possui uma música de autoria do Vandal.
Na faixa produzida pelo excelente projeto do Devastoprod, Vandal escancarou com leves jabs tudo acima dito, as linhas têm endereço mas obviamente não receberam resposta. Eles não querem o rap de verdade de novo, não querem se posicionar para além dos stories do instagram, sobretudo não querem mais as ruas, a crueza das ruas, mas nós seguimos, Vandal segue, e em breve vem uma enxurrada de lançamentos. Clipes e discos estão sendo cozinhados, quem aguenta cola na corda!
No próximo dia 10/02 Vandal solta um clipe pesado de ROMARIAH fiquem ligados e se inscrevam no canal do VERDADEROH, clicando aqui.
“Nós criado diferente, nós é vida crua, nõs é casado com a verdade cero, nós não julga. O que você odeia nós abraça e junta, eu sou as favela eu vim manter a luta, eu sou a discórdia eu que trouxe a música, a mais realista o resto é medo e culpa.”
-Todo mundo cita Vandal, o preto que você queria em segundo sol
Por Danilo Cruz