Sopa Preta aka jjjerujjjamal e a força do rap underground em Hortolândia e Campinas!

Sopa Preta aka jjjerujjjamal lançou recentemente o disco “Temas Diversos” um excelente exemplar do atual underground rap nacional

Sopa PretaComo jornalista freestyle e pesquisador diletante, sempre estou em busca de descobrir novos sons, novos artistas e nos últimos anos tenho me aprofundado bastante tentando ter uma visão minimamente informada do que é produzido no rap nacional. E obviamente, isso dá trabalho, haja vista a imensa quantidade de produções lançadas em um país de dimensões continentais. Mas quem tem kolx, tem tudo e assim eu desembarquei nas cidades de Hortolândia e Campinas, e todo um universo de artistas se abriu. 

Cheguei também no começo da estruturação de um selo que tem muito o que dizer dentro das profundezas do rap underground nacional. Estamos falando do selo Samosamosamo e da penca de bons artistas que ele reuni. Com muitas produções já lançadas de nomes que toda pessoa que curte a cultura hip-hop nacional deveria buscar conhecer, os caras trazem um respiro criativo em um cenário muitas vezes maçante. 

É comum vermos pessoas na internet reclamarem da mesmice dentro das produções do rap nacional, mas certamente essas pessoas não se dão ao trabalho de pesquisar e aí certamente o que lhes chega é isso, a mesmice. Tomamos como portal iniciático para abordar as produções deste selo, o recente “Temas Diversos” do MC e produtor Sopa Preta aka jjjerujjjamal. Um disco muito interessante na abordagem do tema racial e na construção sonora. Para saber mais sobre o artista em questão, sobre o disco e sobre o selo Samosamosamo, batemos um papo com Lukas pseudônimo civil do Sopa Preta aka jjjerujjjamal. Confira abaixo a entrevista:

Oganpazan –  Salve mano, primeiro é um prazer falar contigo. Queria começar esse papo te perguntando informações básicas. Quantos anos você tem, onde você nasceu e onde mora e como se deu seu primeiro contato com a música como ouvinte?

 Sopa Preta aka jjjerujjjamal – Paz meu mano eu que agradeço o contato e pesquisa sobre nossa música. Eu venho do interior de SP, nascido em Campinas e criado em Hortolândia, atualmente com 25 anos. minhas primeiras memórias de infância foram com a música, então eu literalmente sai do berço ouvindo clássicos rs. Meu pai sempre me apresentou cultura no geral, sempre envolvendo música preta das diferentes eras dos anos 70 até os 2000. Com minha mãe não foi diferente, tb sempre me conduziu a boa música

Oganpazan –  E o rap, a cultura hip-hop, como você entrou em contato, como foram as suas vivências antes e quando você começou a produzir e rimar?

 Sopa Preta aka jjjerujjjamal – A cultura mesmo de hip hop veio com meu Pai. nos anos 90 ele tinha um grupo de rap chamado  “Ato Criminal”, isso foi antes de eu nascer. mas por diversos motivos entre ele a morte do dj, fez ele não seguir por esse caminho. só que a cultura e vivência sempre acompanhou ele e veio forte na minha vida. O ponto de partida mesmo foi um cd do Dead Prez: Lets Get Free. ganhei com uns 8 anos, eu acho. nisso veio junto o círculo de amizades do meu pai, me alimentando de referências da cultura hip hop. com 11 eu comecei a entender o que era um cenário regional de música independente.

Meu tio organizava eventos de bandas hardcore, comecei a me envolver e pesquisar mais sobre o underground no geral, sempre em contato com o trabalho físico de artistas. passou os anos e eu fui mais afundo nas pesquisas para além das bordas do meu convívio. descobrindo nomes como Madlib. MF Doom, J. Dilla com meus 15/16 anos. isso me fez querer a fazer beats. rimas são mais recentes, eu sempre escrevi sem rimar, fluxos de consciência no geral,, aí juntei com minhas habilidades de produtor para fazer remix da minha voz, diversão mesmo.

Sopa Preta

Oganpazan – Quais artistas foram responsáveis pela sua formação musical? Quais os gêneros musicais mais importantes na sua caminhada e quais você mais escuta hoje?

Sopa Preta aka jjjerujjjamal – Cara, antes de eu começar a produzir mesmo eu sempre fui influenciado pela música anos 80, Minha mãe ouvia muito Sade, Djavan, Whitney Houston, Michael Jackson..com meu pai era  Zappa, Racionais, Tim Maia, Cassiano, entre vários e eu peguei naturalmente essa formação, não teve jeito rs. A música popular brasileira foi a mais importante com certeza, o rap nacional foi magico na minha infancia, eu não mudei muito, tem a cena underground do hip hop hoje que está em evidência com a chegada massiva do drumless né mano, além de ter uma cena foda da rapizada do selo 10k do rapper MIKE. Jazz africano é foda, o americano sempre ouvindo e pesquisando  e recentemento ouvindo muito jungle dnb da nova geração. uma sopa.

Oganpazan – Você acaba de soltar um disco muito interessante que é o “Temas Diversos” onde você produz e rima, conta pra gente como se deu o processo de produção, quais inspirações lhe impulsionaram?  

jjjerujjjamal aka Sopa Preta – Eu precisei desvincular as primeiras demos q fiz como Sopa Preta, e me adaptar a criação de uma filha recém nascida, fechando ciclos e revendo conceitos como músico, e muito mais imersos a questões de uma vida como homem negro. 

Com isso me fez ficar mais quieto e recluso de vários círculos, entrando de cabeça na produção de batidas. Nesse meio tempo produzindo discos com meus colaboradores eu acabei encontrando minha identidade como produtor, sendo assim mais fácil criar o terreno para o Sopa Preta desabafar. o disco mesmo foi inspirado no próprio ‘’Hmm..Food’’ do MF Doom, com a intenção de produzir minhas próprias batidas e rimas e reencontrar o Lukinhas como um entusiasta de raps. 

Oganpazan – Uma característica que noto no seu trampo é a pertinência e ao mesmo tempo um diálogo interno forte entre citações nas suas letras, os beats e samples e o conjunto da obra. Será que eu estou viajando?

 Sopa Preta aka jjjerujjjamal – São como códigos mano, é uma linguagem simples, mas são sentimentos com um baixo nível de gramática rs, é como se eu juntasse aqueles fluxos de pensamentos mantendo  o radar ligado com vc mesmo. Eu tenho muitas dúvidas que não foram expressadas corretamentes, mas não sinto q passou o tempo de expressar isso, acho q eu soube encontrar esse caminho nos meus raps e registrar isso pra forma espiritual ou só diversão em barras.

Oganpazan – Visualmente, o disco “Temas Diversos” sampleia a capa de Illmatic do Nas, onde um “Sopapretinha aka jjjerujjjamalzinho” aparece ali atravessado pelas imagens da cidade grande. E essa capa está intimamente ligada aos “Temas Diversos” sobre a negritude que você trabalha nas letras do disco. Explica isso pra gente. 

 Sopa Preta aka jjjerujjjamal – Eu não tinha essa ideia para a capa, foi repentina. São fotos da minha mãe tanto a cidade como eu.. ai eu fiquei olhando pra minha expressão e no telefone e então formei a ideia de uma ligação direta pra mim no hoje, aonde eu pude explicar algumas questões internas de ser negro. as expressões pelas ondas sonoras vem me ajudando a estudar isso, eu não tive formação familiar para abordar essas questões raciais, por mais que meu pai pertencesse a cultura de rap anos 90, ele nunca me induziu a pesquisas do movimentos negro. mas quando eu fiquei imerso na cultura de samples, a cultura de pesquisa. descobri líderes e pensadores negros q me ajudaram a ter mais clareza no caminho do conhecimento e camadas da cultura negra brasielira. 

Selo samosamosamo

Oganpazan – O disco saiu pelo selo musical SamoSamoSamo, explica pra gente quem dirige esse selo e quem faz parte dele e quais trabalhos já foram lançados?

 Sopa Preta aka jjjerujjjamal – O selo foi fundado por mim com o apoio e colaboração do ‘’vloneconha’’ no intuito de fazer outro tipo de rap do círculo que nós dois estávamos inseridos. Ele confiou em mim e nisso fizemos um ep chamado ‘’Espalha Lixo’’ e ‘’Deus e odiabo na terra do sol’’ no qual eu trouxe mais do drumless e lo-fi pra evidência na região da 019, no qual não tinha ninguém fazendo isso. 

Teve um acesso significativo na época, aí eu embalei e fiquei totalmente inspirado a trazer nomes que eu admirava para aquela atmosfera ‘samo’ ( sempre a mesma merda velha) uma crítica a roupagem nova da música sem defeitos de produção, sendo q o lo-fi é uma raiz. Nessa eu tive um conexão com diversos artistas unders nacionais q tb vinham com esse ar mais novo na cena… formando então uma identidade de ideias e convidando alguns para fazer parte desse movimento/selo, sendo eles: Drunk Monk, com seu disco de estreia, (Kilos e Kilometros) Sub Delta com o (Anonimato), single com o VECTOR que pertence ao Coletivo Delta junto com Sub. pude produzir um disco de dois mlk que a vida me apresentou que é o Pneu e Def do Qualqpa com o ($audosa Maloka), entre diversos trampos e mixtapes cultuando a cena soundcloud.

Oganpazan – Cara, na faixa “Minha Posição w Zózimo” você insere uma fala do grande cineasta Zózimo Bulbul onde ele fala “em deixar de ser hermético e fazer algo rasteiro”. Como você vê uma certa ideia que sempre atravessa o mundo das artes – Indústria Cultural – onde o mais fácil é o que vai mais agradar e como você lida com essa imposição do mercado?

 Sopa Preta aka jjjerujjjamal – Ali foi uma fala pro próprio Sopapreta rs. eu realmente precisava me conectar com as barras mais simples, me conectar com o estilo de escrita do Sub, instigando tb a pesquisa do ouvinte do que foi dito ali, mas que soasse de maneira mais pé no chão mesmo. tipo jorge ben após guitarra rs. e sobre agradar o mercado é complicado, pq eu não tive essa formação, sempre fiz o’que soaria bem pros meus ouvidos, e após isso é consequência se irá agradar ou não. 

Oganpazan – Em termos de sonoridade mano, seria errado dizer que sua estética sonora é um lo-fi boombap underground? Explique por favor.

Sopa Preta aka jjjerujjjamal – É uma verdadeira sopa da cultura hip-hop, lo-fi, manter a raiz de fidelidade, os meus confrades costumam chamar de limonada hard loops.

Oganpazan – Um aspecto interessante é que você não coloca as suas produções nos streamings como Spotify, Deezer etc, porque? Você pretende fazer uma grana com seu trabalho musical, se sim como?

 Sopa Preta aka jjjerujjjamal – Então, no começo meu foco foi direcionar o ouvinte a maneira correta de ouvir álbuns, pois venho da escola de ouvir lado A e B. Hoje eu entendo que os artistas colaboradores precisam espalhar seus trampos. Mas o meu trabalho em específico com o Sopa, continua nessa energia de direcionamento, irei me adaptar mais quero ter um controle no momento de como induzir o ouvinte. Meus planos pra samo é firmar de vez nossos pés na produção de eventos, com isso arrecadar fundos para distribuir melhor nossa músicas e produtos, movimentos clássicos de um selo de hip hop. 

Oganpazan – O disco traz participações do Vector e do Subdelta né mano, como se deu a escolha dessas participações? 

Sopa Preta aka jjjerujjjamal- Eles são minhas refs de mc’s, mano, Coletivo Delta é foda…foi uma troca de habilidades. Além disso eu recebi uma confiança na produção que me deixou muito a vontade, foi natural eles estarem nisso 

Oganpazan – Para finalizar, gostaria de saber quais são os próximos planos e lançamentos futuros, conta pra gente?

 Sopa Preta aka jjjerujjjamal – Sair da bolha digital e ocupar nossos espaços mano, fazer com que os artistas do selo corram com suas pernas em prol do coletivo, organizar nossos atos, continuar promovendo o Temas Diversos. Eu tb tenho um ep na mão do Bonsai no qual eu fiz as batidas, que deve vir em fevereiro que irá sair pela samo. Tem tb o trampo do VECTOR com o produtor gust para dezembro, que irá encerrar os trabalhos de 2023 do selo. 

-Sopa Preta aka jjjerujjjamal e a força do rap underground em Hortolândia e Campinas!

Por Danilo Cruz 

 

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