Quando se fala em show’s de Jazz & Blues, o público já pensa em festivais de larga escala. Viagens sonoras, trips presenciais para a Suiça e uma taça de Veuve Clicquot com vista para os alpes ao som de um Fender Jazz Bass também ajudam a formar o cenário. A ideia é que a trilha esquente os polegares que mandam slap’s como se o show fosse um rodízio de Funk.
Esses relapsos seres que pensam que a vida se molda dessa forma, se esquecem que a cena não é feita apenas de prestígio internacional. O produto interno bruto do nosso país também é digno de levar as caixas de som para os mais badalados CEP’s do globo, e se o senhor não acredita nisso, fica claro que seus ouvidos não estavam captando as reverberações do Jazz de Tina Still & o Blues do République Du Salem e seu convidado especial, Marc Ford, quando estes levaram a nata do som ao Bourbon Street.
Primeiro o Jazz se fez presente com requintes de power trio. Teclado, baixo e vocal, linhas criativas, releituras cheias de sentimento e uma voz grandiosa: esse foi o resumo do estrago que Tina Still fez assim que abriu os trabalhos para uma noite que ecoou o fino do Jazz clássico e o puro néctar do Blues sulista.
Com um formato de banda que foge do clichê, covers de Michael Jackson, ideias roots com estrutura Jazzística para analisar o trabalho do mestre Bob Marley e trilhas do Tarantino para intercalar a suavidade das notas, Tina mostrou um tato vocal bastante apurado e deixou claro como a energia do instrumental é outra quando o vocal se conecta com todos os intrumentos que formam a jam.
A tecladeira era suave, levava a platéia no banho maria. O groove era cru, seco, classudo e bastante improvisado, tanto que ele emitia ondas tão poderosas que nem a cantora conseguia ficar parada na cadeira, no fim do show a moça colocou a platéia no bolso e estava dançando, assim como o público presente.
O único problema é que foi rápido demais. Foram cerca de 45 minutos de um som bastante requintado e que impressionou a platéia pela ousadia. Foi gratificante ver a recepção do público e notar que quanto mais os ponteiros giravam, mais o Blues esquentava e já levava uma fumaça de Gibson’s para o palco… Talvez seja por isso que a bela Tina precisou se despedir, mas ela o fez com louvor.
A transição foi gradual, foi interessante ver uma noite com energias tão diversas e perceber que a casa estava com um ótimo público para prestigiar dois grandes destaques da cena atual. Foi um som que esquentou a casa, elevou os padrões de todas os pré requisitos clássicos do Southern e aumentou o grau de proeza de uma banda que depois de anos de estrada, já era azeitada, com o Marc Ford então, nem se fala.
A presença do guitarrista também levou uma vibe diferente para o som. Já tive a chance de ver o République antes, sem o ex membro do Black Crowes, mas com ele em campo o time fica até mais calmo, os instrumentos ganham em dinamismo e toda a instrumentação ganha aquele ar de: toca pra mim e descansa, e rapaz, como a guitarra desse cara sabe matar o Blues no peito.
Músico mais tímido do que o restante da Big Band, Marc fez a sua sem ficar exagerando, mostrou seu feeling e complementou os trabalhos de peso da bateria, do vocal com pinta de Soul e os requintes de um groove Hofner.
Teve percussão, uma linha de backing vocals cheia de classe e muito Blues, muita história, significado e mais tributo aos mestres. Foi bonito, deu orgulho… Pena que eu tinha pra voltar, se não tivesse teria visto o segundo set e tomado mais um doze anos, por que o momento merecia uma garrafa. Grande show! Para ver as fotos da session do République clique aqui e para conhecer um pouco mais sobre o trabalho do Thiago Almeida/Reduto do Rock, iniciativa responsável pelas imagens da banda sulista, curta a página do fotógrafo no Facebook.