The Internet: o universo paralelo do groove

O universo paralelo do groove: pulsando na realidade virtual do The Internet. Uma noite para quem esteve presente poder viajar bem e ao vivo! 

The Internet

O ato de fazer música é algo muito maior do que os próprios músicos. É um exercício de criação que escancara diversos universos criativos e que vai criando verdadeiros laboratórios na cabeça dos integrantes.

As possibilidades são infinitas e conforme as referências vão se empilhando, em alguns momentos parece um grande desafio fazer tudo funcionar na mesma perspectiva. É até engraçado pensar nisso, pois nenhum artista começa a explorar com o objetivo de criar algo novo, de fato.

A ideia é sempre subverter referências e traduzir isso numa linguagem que agregue perspectivas diferentes e que seja funcional, criativamente falando. O lance é tornar o processo orgânico o suficiente para que as ideias apenas floresçam, como pequenos oásis no meio de uma miragem.

Mas tem uma galera que leva a experimentação para outro nível. Nomes como o da Erykah Badu por exemplo, mostram o que acontece quando artistas com grande repertório vão além das próprias referências e acabam criando um universo totalmente novo.

A Erykah Badu pode jurar de pé junto que não planejou nada disso, mas o fato é que a sua fusão de R&B, Funk, Soul e Hip-Hop ditou o caminho do groove nos anos 90 e 2000. Ela cavou tão fundo em busca de respostas que a sua identidade ficou maior do que os rótulos estéticos… Você simplesmente sabe que é ela nos falantes quando o som começa a vibrar.

Mas desde então, poucos artistas conseguiram alçar voos no cenário mainstream com a mesma originalidade. O The Internet talvez seja o maior exemplo disso no cenário contemporâneo. Grupo formado em 2011, em Los Angeles, na legalizada Califórnia, o projeto foi fundado pela vocalista/DJ Syd Bennett e o tecladista/produtor/ilustrador, Matt Martians.

Remanescentes do coletivo de Hip-Hop Odd Future, que nasceu em 2007 pelas mãos do Tyler, The Creator, Hodgy, Left Brain, Casey Veggies, The Super 3 e o Jasper Dolphin, esse projeto foi a faculdade de muitas caras que hoje estão fazendo barulho na cena. Em sua segunda encarnação, o grupo ainda conta com Earl Sweatshirt, Domo Genesis e Mike G na chefia do swing. 

Desde então são 3 EP’s lançados e 4 primorosas gravações de estúdio. Em pouco mais de 8 anos The Internet criou uma identidade sonora fortíssima e que foi celebrada num eventaço da QUEREMOS! Com o DJ Nyack no controle dos grooves, os paulistas ainda tiveram a oportunidade de sacar o show dos curitibanos da Tuyo.

Foi uma escolha bastante harmônica para abrir o espetáculo e é notável como a sonoridade dos caras já mudou bastante desde o ano passado, principalmente quando o assunto é a experiência ao vivo.

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Quem viu os caras no Coquetel Molotov do ano passado, por exemplo, ficou impressionado com as alterações na configuração. O trio base se mantém, Machado, Lio e Lay Soares continuam expandindo as fronteiras do Lo-Fi e do Folk, sempre com uma abordagem espacial-futurista.

A banda bebe da água de grupos como o próprio The Internet, mas também prima por apontar novos caminhos, graças a uma abordagem muito própria e genuína. Com um show que agora conta com mais elementos eletrônicos e que também tem o Machado se desdobrando entre violão, baixo e os pre sets do sinth Pop, o quarteto agregou outro guitarra pra texturizar o som e o resultado foi uma performance que valorizou ainda mais o trabalho (dramático) de voz e composição do grupo.

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E depois de um set de pouco mais de 1 hora, era a vez do The Internet destilar seu vocabulário universal. Em sua primeira passagem pelo país, o quinteto composto pela Sydney Bennett (vocal), Steve Lacy (guiitarra), Matthew Martin (teclados/sintetizadores), Patrick Page (baixo) e Christopher Smith (bateria) recriaram o exótico blend de Hip-Hop, R&B, Funk, música eletrônica… É um bolo de som indivisível que os coloca acima de qualquer rótulo.

A cada gravação a banda mostra como sua música tem vida própria. Foi um universo desvendado, principalmente ao som de “Hive Mind”, último disco do grupo, liberado em 2018 pela Columbia.

Com um show excelente – salvo algumas vaciladas no oscilante som da Áudio Club – o grupo mostrou um som que impressionou pela abordagem vigorosa. O baixo de 6 cordas do Patrick Paige parecia até pequeno, tamanho seu domínio e seu fino trato para tons melódicos e riffs chapantes. O baterista Christopher Smith foi majestoso, selou a cozinha gastando o Jazz, enquanto o prodígio Steve Lacy mostrava seus incontáveis licks à sombra dos climas açucarados de Matthew Martin.

Com um set list que promoveu um sinuoso passeio pela discografia do grupo, o público brasileiro pode, finalmente, ver um dos maiores expoentes da música negra atual. Ao lado de nomes como Thundercat e Childish Gambino, por exemplo, o The Internet se firmou como um som que hoje já é maior do que a própria banda. 

Foi um prazer entender um pouco mais sobre essa utopia. Ecos de “Egodeath” (2015) e “Feel Good” (2013)… Terapêutico é pouco.

Setlist The Internet:

“Roll (Burbank Funk)”

“Dontcha”

“Under Control”

“Gabby”

“La Di Da”

“Come Over”

“Stay The Night”

“Special Affair”

“Just Sayin”

“Wanna Be”

“It Get’s Better (With Time)”

“Girl”

“Beat Goes On”

“Get Away”

Escute o último disco de The Internet:

 Texto e fotos por Guilherme Espir (Macrocefalia Musical)

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