Terry Date: o sexto membro do Deftones em Ohms (2020)

O Deftones lançou mais uma pedrada com Ohms (2020) com uma larga colaboração do grande Terry Date na produção!

De todas as bandas do chamado “new metal” – período da música pesada dos meados dos anos 1990 até os anos meados 2000 encabeçado principalmente pelo legado musical do KoRn – o Deftones sempre foi a menos óbvias entre as grandes (digamos Slipknot, Mudvayne e o próprio KoRn). Digo isso, por que o quarteto (agora quinteto) de Sacramento, California sempre evitou fórmulas mais óbvias que gravitavam entre a agressividade advinda do thrash metal mesclada com passagens mais melancólicas e outras inspiradas nos grooves de rap/hip-hop. Enquanto isso, na margem – não em termos comerciais, mas criativos – o Deftones sempre flertou com vertentes mais “maduras”, digamos assim, como o trip-hop, shoegaze e o eletrônico experimental, soando menos pueril do que outros grupos de new metal (na minha adolescência, o KoRn era de longe a minha favorita do estilo, risos).

No disco mais recente da banda Ohms (2020), o produtor e engenheiro de mixagem Terry Date ficou à cargo da produção dessa obra-prima. Eles não trabalhavam juntos desde o interrompido Eros (2008-2009) devido ao falecimento do baixista Chi Cheng em 2013 após passar cinco anos em estado de semicoma devido a um acidente de carro ocorrido em 2008 na cidade de Santa Clara. Antes disso, eles já haviam feito essa parceria de sucesso no disco homônimo na banda de 2003. Vale dizer que esse disco homônimo foi um “pé na bunda” dos críticos de música da época que ainda insistiam no rótulo new metal para o Deftones que então trouxe uma sonoridade pesada e texturas bastante carregadas colocando várias bandas do gênero no chinelo! 

Voltando ao Ohms (2020), o Deftones conseguiu juntar o melhor de sua sonoridade etérea com a densidade e agressividade que vem alcançando em discos prévios como Gore (2016) e Koi No Yokan (2012); inclusive este último um dos meus preferidos de toda a discografia da banda. Terry Date, um profissional da indústria musical que já trabalhou com nomes (literalmente!) de peso como Pantera, Soundgarden e Slipknot, teve um papel importante nessa maturação do som da banda que já é conhecida por sempre desafiar os próprios limites criativos. Não é à toa que em comentários na internet se viu fãs dizendo “Terry Date é o sexto integrante do Deftones” ou “Terry Date deveria ter um contrato vitalício com o grupo”. Brincadeiras à parte, a forma de gravar e produzir de Date comprovou mais uma vez que o Deftones pode ser uma das bandas mais pesadas do rock moderno sem apelar para sons extremos como o death metal ou o grindcore. A capacidade de Date de produzir sons de guitarra com potência e definição já estava óbvio desde o disco homônimo de 2005 e agora ainda mais com Ohms (2020). Afinal, essa foi a primeira vez que o guitarrista Stephen Carpenter – que já vinha utilizado guitarra de 8 cordas – resolveu adotar uma de 9 para este disco… e a forma como ela soa é estonteante!!!

As canções que mais me chamaram a atenção, não necessariamente nessa ordem, foram: “The Spell of Mathematics”, “Pompeji”, “The Link is Dead”, “Ohms” e “Ceremony”. Começando por “Spell” eu diria que o mais interessante é o estalar de dedos (gravado por ninguém menos que Zach Hill do Death Grips!) e a retirada de cada instrumento até sobrar apenas o baixo, restos de samples e efeitos no fim da música. A forma como “Spell” começa barulhenta e termina de uma forma tão etérea, faz jus ao que alguns críticos chamaram de “dream pop com arranjos de metal pesado” para esse disco. 

Depois temos “Ceremony”, com seu videoclipe genial lançado a duas semanas e que me fez lembrar desse disco Ohms e da vontade de falar sobre ele. Com um roteiro para lá de Freudiano e de suspense bem no clima das músicas do Deftones, cheio de referências à discografia da banda, foi lançado concomitantemente um jogo de tarot no site da banda. Com toda essa “cerimônia” (risos), os fãs se debruçaram sobre os diversos significados do clipe e colocaram o grupo de novo em evidência mesmo após um ano de lançamento do álbum. Essa música, inclusive, é um bom exemplo de som que consegue ser acessível e denso ao mesmo tempo, transitando por pitadas de metal, indie rock, shoegaze e dream pop; nada mais Deftones que isso, não é mesmo?

“Pompeji” traz uma pegada quase The Mars Volta com sua levada melancólica em compasso 6/8 nos versos da música (sim, Chino é grande fã de TMV!). O som das gaivotas e a guitarra de 9 cordas com uma afinação extremamente baixa no refrão remete bastante à sonoridade mais extrema que a banda experimentou no álbum anterior Gore. Mais uma vez, a competência da mixagem e timbres de Terry Date se comprova. Todo esse contraste reforça o experimentalismo e ao mesmo o bom direcionamento na produção musical do Deftones que é uma banda que sabe aonde quer chegar em termos de som. O fim com as gaivotas e o sintetizador etéreo trazem de novo o clima dream pop e etéreo do álbum.

“The Link is Dead” funciona quase como uma continuação de “Pompeji”. Introdução de sintetizador que casa com o fim da faixa anterior. O vocal saturado (distorcido) de Chino e a interpretação mais dramática trazem uma pegada diferente ao disco, com menos dinâmica entre as diferentes partes já que as guitarras “gritam” por toda a faixa junto a uma bateria muito bem tocada pelas mãos do mestre Abe Cunningham. 

“Ohms” já começa muitíssimo bem com um riff que não parece em nada com Deftones (e nós, fãs não-chatos adoramos isso!, risos). Esse foi o primeiro single e videoclipe lançado e me lembro que quando ouvi e assisti pela primeira vez, me remeteu bastante a algumas coisas do Black Sabbath em termos de riff e levada de bateria. Agora, com mais tempo, vejo que as influências ali vão muito além disso. Tem uma pegada post-hardcore no meio desse caldeirão que engrossa ainda mais o caldo, deixando tudo na maior cremosidade sonora.

Bom, em suma, é isso. Daria para falar muito mais desse disco mas procurei abordar mais os aspectos sonoros e a importante contribuição de Date nesse retorno de gente grande do Deftones (como tem sido já a um bom tempo a cada novo disco!). Inclusive, o Deftones para mim é um caso raro de banda que só melhorou com o tempo e a trajetória do grupo e o amadurecimento musical comprovam isso. Fico por aqui. Câmbio, desligo… Até a próxima, Oganautas! 

-Terry Date: o sexto membro do Deftones em Ohms (2020)

Por Gustavo Marques 

 

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