As Ruas De Salvador Andam Mais Quentes Do Que Nunca!

As ruas de Salvador seguem colocando na pista evidências líricas de que seu elemento é o fogo! Baco, Mobb, Davi Nadier, os meninos bagaça

Seis excelentes lançamentos do cada dia mais forte Rap Ba, com características distintas e com certeza excelência nas rimas e nos beats. Capazes de entrar na disputa sobre a qualidade estética com qualquer produção de qualquer lugar. Sim, essa seleta que agora apresentamos, se junta a outras que ao longo do último ano preparamos e que, dão provas suficientes de que Salvador é um dos maiores polos de produção do rap nacional. 

Cada quebrada da cidade produz abortos do sistema, numa quantidade e com uma qualidade tão grande que faz – ou deveria fazer – nós repensarmos o eixo do rap nacional. E que entenda-se abortos do sistema, aqui, como aqueles que foram jogados a margem e que consequentemente lutam com suas letras e músicas contra o mesmo. Dropando pra fora das normas e do jogo que cotidianamente nos oprime. Cheios de uma arte que nos é tocante e muito vigorosa por sua qualidade evidente, mas sobretudo por conta das dificuldades técnicas de gravação e produção. Dificuldades essas que são sobrepujadas pela força de uma arte indisposta a se render.

Aqui quase todos os artistas do Rap, produzem em estúdios caseiros com pessoas que trazem a qualidade evidente acima citada, em seus DO IT YOURSELF’S. É Rap Punk tio, combatendo o sistema em corres que passam por cima das dificuldades em nome da resistência, que é aquilo que resisti (Elton Moutinho) – tautologia – num cenário insalubre. 

A ideia é poka, o Rap BA, vem  pipocando em timelines e pocando os ouvidos de quem está atento sobre o que de melhor é produzido no nosso país em termos de música. Pra todos os gostos, em vários estilos, com propriedade e apesar da dificuldade, com os melhores rappers, Dj’s e beatmakers do Brasil. De nada!

 

 

Morris Diova, não é besta nem nada, se cercou com Nadier (Beirando Teto) e Mobb (D.D.H.), sem gracinha, sem conversa fiada, muito menos refrão bonitinho. E neste primeiro single mostra pra quem tiver ouvidos pra ouvir que chega prometendo integrar os Boombap Masters, com muita qualidade. Capacidade critica de nossa realidade, neste single se focando na questão da violência policial que serve de manutenção do status quo.

Um estado de coisas que é tão alucinado que as rimas dos parceiros nesta track servem como uma especie de ambientação pro tema da música. Nadier abre as rimas e Mobb às fecha, utilizando suas potências rimáticas para criar o tal clima. Encontrado entre os dois: Morris Diova atravessando o que ele pensa sobre a violência em nossa sociedade. E uma poesia que no seu conjunto faz os que estão nesse fluxo moscando, peidar!

 

Marcos Morcegão ( Turma do Bairro) lança o seu segundo single afastado, de rolê por sampa e o que nós dissemos acima, permanece verdadeiro. Num rolê em outra cidade, na “capital” do rap nacional o mano demonstra nossa teoria da melhor forma possível. Com produção do MDN, com seu flow e suas ideias sua música se mostra  capaz de ser entendida como algo nacional. RiXar (SP) rapper paulista divide o mic com o mano de Itapuã e fica claro o quanto a qualidade é nacional, e nunca e em hipótese nenhuma, regional.

Mas porque ainda estamos procurando ser vistos por uma parte do país? Se somos parte constitutiva de uma história que se constrói nas periferias do país inteiro? Porque ainda possuímos a necessidade de ser reconhecidos por conta de um eixo construído artificialmente sobre determinada imposição econômica e consequentemente cultural? Esse segundo single do mano Marcos Morcegão, nos deixa claro que essa opção está mal colocada. O que precisamos de fato é recorrer aos nossos verdadeiros talentos sem cú doce, e sem oferecimento gratuito aos que de fora nos veem como regionais demais, afastados demais, bons demais para fazer parte. A Simbiose tem que ocorrer de um jeito ou de outro.

 

Esse mano, foi uma das coisas que mais nos chamaram atenção agora em 2016, dentre as produções que nos apareceram. Eddie Reccitta lançou dois singles e com esse vai nos deixar na saudade por um tempo, pois de acordo com ele, esse é o ultimo trampo do ano. Mas a porra do ano nem começou direito e nem conhecemos tudo de que ele é capaz? Enfim, por enquanto é isso. Mas não poderíamos ter um até logo melhor, pois o mano nos oferece um exemplar muito bacana de sua versatilidade lirica e rima num beat de trap com muita potência.

A dimensão morta é um retrato triste e muito forte de tudo que nos cerca fazendo menção a todo os espectros que nos rondam. A maldade que ronda em torno de nós pela ideia de que precisamos Ter para Sermos. Capitalismo predatório trabalhado poeticamente sobre a chave de um chamamento a certa fé cristã capaz de nos abrir um buraco de minhoca para fugirmos dessa realidade. E nessa brincadeira Christian Dactes cria um beat de Trap forte o suficiente para que Eddie Reccitta consiga destilar toda a dramaticidade de seu flow.

O que falar de Baco fazendo Trap em Salvador? Revolução? É, né não? O pivete esbagaça seja em qualquer que seja o beat onde o coloquem ou onde ele queira produzir. E isso fica claro nessa track. O pivete só dá ideia cheque, com muito conhecimento que transcende o mero conteúdo rap, pois não tenham dúvidas de que estamos diante de um dos melhores rappers do cenário brasileiro. Façam uma pequena busca no google e vejam o quanto ele já rimou e em quais beats, tenha medo.

Mitólogo liricista, convocando os orixás contra a apropriação cultural que sempre vem tentado desviar os caminhos das expressões de resistência do povo preto. Marcando o ponto e o lugar de onde fala, o conteúdo é revolucionário e não passa pano pra boy e pros seus cães de guarda.

Une Versos, Baco, D.D.H. , são alguns dos projetos desse mc que sem dúvida alguma é um dos melhores do Brasil hoje. Ao ponto de rimar nesse trap louco que o coloca no jogo demonstrando sua versatilidade e nos coloca na expectativa do que vem pela frente.  Esse EXU do Blues, não se permite ouvir que a música e o dab sejam feitos por pessoas inescrupulosas por que sua missão é abrir os caminhos para todos os negr@s. 

Mobb (D.D.H.) não poderia ter escolhido um rapper melhor do que GALF AC pra compartilhar uma música que foi escolhida para ser o single do seu próximo lançamento. Sim, vocês leram direitinho, logo menos tem Ep novo deste Et na praça. Dois mc’s que demonstram que não existe essa parada de velha e nova geração e sim gerações (Larício Gonzaga). Gerações prenhes de poesia resistente, de vontades contra a aquietação daqueles que fazem o jogo do sistema. 

Em pouquíssimo tempo Mobb se fez reconhecido nacionalmente com dois lançamentos modestos – Demotape (2015) e D.D.H. Direto do Hospicio (2016) –  que deixam muito claro, toda a potência de rimas e conhecimento que o rapper é capaz. Captando a sujeira de nossas ruas com uma qualidade poética muito apurada, Pinturas Rupestres (2016) se anuncia muito forte com esse single. Elegância de mendigos, doutores da rua, pesquisa empírica dentro de botecos imundos. Galf AC & Mobb confundirão sua mente com uma enxurrada de rimas invulgares sobre essa Salvador Bagdá. 

 

Dactes vem se firmando como peça fundamental no comando do movimento hip hop em Salvador. Produtor e Mc, o mano está presente em muitos dos lançamentos que por aqui aparecem. Sempre destilando sua arte, seja produzindo beats, seja gravando muitos trampos em seu  home estúdio ou trazendo suas poesias junto a banca do Na Calada ou com seu grupo N’Ativa. Aqui o mano, coliga com 16 Beats, para mandar a real dos trampos feitos aqui nessa reportagem.

O rap é Dimaloca e vem de berço, seja numa Salvador caótica ou lá no México e seus altos índices de violência. É mo fio, as malocas se conhecem e trocam conhecimentos. Dhen Click Case, é o produtor deste beat louco onde Dactes e 16 Beats bagaçam com suas ideias cheias de coerência e protesto. 

O vídeo que ilustra essa música talvez seja a construção imagética que sintetiza com perfeição a ideia deste texto. As ruas de fogo de Salvador estão riscadas com pinturas rupestres que combatem as putas e outras injustiças que o povo da maloca sofre. Sem refrão legal para as dimensões mortas para as quais somos jogados, busca-se a simbiose (interação) de indivíduos que estão em quartinhos, munidos de microfones e computadores em busca de progresso para o seu povo. E no rolê com nóis cê não vai, que abram-se os nosso caminhos.

 

 

 

 

 

 

 

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