Nordeste no Rap é em preto-e-branco, o realismo mais puro!

O nordeste possui uma das cenas mais instigantes e renovadoras do rap na atualidade, todos os estados da região vem revelando grandes nomes.

 

Um pesquisa rápida fará você constatar a força do rap nordestino atual, grandes nomes vem surgindo em todos os estados da região. A pequena e forte Sergipe, Paraíba, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí, tem produzido rappers, beatmakers, dj’s que cada vez mais buscam e conseguem inovar. Porém, por pareça que incrível, há muito pouco intercâmbio entre essas cenas, poucos desses rappers circulam pela região e outros poucos também são escutados Brasil a fora.

Recentemente o site especializado em rap, Rap Nacional Download publicou uma bonita matéria listando 10 promessas do Rap Nordestino. E apesar de toda lista seguir obviamente a perspectiva, o gosto e o conhecimento de quem a faz, essa listagem captou bem os novos ares do rap nordeste. E obviamente vários nomes ficaram de fora, mas basta seguir esses nomes e vários outros vão ser conhecidos.

Eu particularmente não conhecia os manos sergipanos listados e foi muito bom ter essa oportunidade de conhecê-los. Recentemente alguns dos citados lançaram clipes e videos muito bons, e por coincidência ou não, todos eles escolheram o preto-e-branco como fotografia. O que nos fez lembrar imediatamente da frase do grande mestre do cinema Samuel Fuller:

“Sem dúvida, a vida passa a cores. O preto-e-branco, porém, é mais realista”.

Fizemos aqui uma seleção de três clipes e dois vídeos com grandes nomes do cenário do RAP NACIONAL. Sim, porque é importante ressaltar que esses e outros nomes fazem parte do que de melhor se tem produzido no nosso país. Bastaria uma analise honesta e comparativa com o que de melhor tem se produzido aqui e em outras regiões do país pra constatarmos que nada se deve ao que se tem produzido fora do Nordeste. É obvio que o eixo Rio-São Paulo, detêm entre outras coisas a supremacia no que tange ao pioneirismo da música rap no Brasil, porém a muito tempo que é preciso pensar em formas de descentralizar o consumo da nossa cultura. Pretendo num futuro próximo me deter melhor sobre essa questão.

No momento, é fundamental nos conhecermos melhor, abrir nossos ouvidos e mentes, buscar uma troca maior entre os estados.É preciso um contato melhor entre os manos, para que turnês de lançamento pelo nordeste sejam possíveis. Como é possível que um nome como o NSC nunca tenham tocado em Salvador? Estados vizinhos. Como é possível que o Rap Nova Era já possuir várias apresentações no sudeste e sul do Brasil e nunca terem dado um pulo em Aracaju por exemplo?A melhor banda de rap do país é natural de Ilhéus no sul da Bahia, OQuadro, e nunca tocou em nenhum estado nordestino além da Bahia, mas já foram a Europa e rodaram o sudeste. Tão pertinho, mas porque o Rakavi ou o próprios citados aqui neste texto não vieram se apresentar por aqui?

Enfim, são algumas questões que me parecem importantes de serem pensadas para aqueles que visam o crescimento da cena do Rap Nordestino. E sua plena inclusão no cenário nacional, a Bruta flor (Cíntia Savoli) já deu o papo, só vai acontecer se @s mc’s meterem o pé na porta. O rap é união sempre, ou deveria ser, porém existe algo chamado mercado e com certeza quem já esta plenamente inserido não abrirá portas para concorrência qualificada Por uma questão mesmo de sobrevivência de cenários muito ricos, é preciso se constituir também como mercado autônomo e aí sim poder disputa contratantes em pé de igualdade. Pois um público foi criado para que o regime de demanda e procura ocorra com nomes locais.

Enfim, o preto e branco destes vídeos denotam a realidade que não pode mais ser ocultada por trás da falacia do regionalismo. Temos grandes nomes no rap nordeste e eles precisam florescer, eles nos representam e o fazem com excelência. O resto é construção midiática, para o bem e para o mal, que nós passemos a nos consumir e dialogar mais.

Apenas por acaso são esses os nomes selecionados apesar da incontestável qualidade, como dito acima, por terem lançados clipes ou vídeos em preto e branco. Dezenas de outros nomes poderiam estar aqui representando as ideias acima esboçadas. Mas esses aqui abaixo não são nada mal, se liguem!

 

Tendo a Chave Mestra como uma filosofia de vida, como um modo de ser, Diomedes Chinaski é um dos rappers mais prolíficos da atualidade. Com dois excelentes ep’s lançados em 2015, O Aprendiz e Requiem e o fodástica mixtape Ouroboros lançada agora em 2016, o trampo é pesado. Dono de punch lines intermináveis, referências históricas e literárias muito bem catalizadas. O carteiro Diomedes, só nos tem entrega o que de melhor se pode produzir em termos de rap. Chapados nas ideias e politicamente indomável, seu trabalho plasma muito bem tudo que falamos ali em cima.

No single escolhido para ilustrar o primeiro vídeo clipe de Ouroboros, ChaveMestra4ever, ele canta diversas ideias de progresso. A favor da paz nas periferias, em busca de melhoras pessoais e coletivas, tendo o rap como elemento propulsor de talentos. Talentos esses que de outra forma são programados para auto-destruição. E iconoclasta que só canta-nos essa pequena missiva: “Cada punch line é um soco no queixo, foda-se o Sul temos o próprio eixo, fecharam a liga, devem tá com medo, foda-se a liga, a cena é nós mesmos .”  E como dissemos por aqui Já é!

 

Difícil pra mim falar de Aracaju com o minimo de objetividade, cidade que adotei em meu coração, onde morei por dois anos e tenho muitos amigos. Qual não foi a nossa surpresa e satisfação ao saber que existe uma forte cena rap que vai de Estância e os manos da banca Oxeniggaz, até a capital Aracaju. Alquimista de primeira, daqueles capazes de transformar palavras em ouro, Darthayan é um dos membros da confraria Alquimia Solar

O poeta em confronto com a cidade, observando a correria no calçadão no centro, flanando pela rua da frente e tomando um banho de mar em Atalaia. Pique Baudelaire, Darthayan esgrima sua caneta arrancando hemorragias dos falsos que se deixam etiquetar. Signos de um tempo onde a aparência busca sobre todas as coisas vencer modos de vida que se constroem por vivências reais e experiências transformadoras. Aquelas coisas que não se encontram em prateleiras, essência conquistada, o bom e velho torna-te quem tu és.

Darthayan em seu Monolírico lança o primeiro video clipe solo em uma pegada existencialista e critica do mainstream. Esperamos que seu primeiro disco saia logo, estamos no aguardo.

O Coletivo Na Calada lançou recentemente um cypher em duas partes, afinal para segurar tant@s maloqueir@s somente em dois vídeos. Aqui podemos perceber uma bela e adequada amostra da variedade e qualidade dos novos atores da cena do rap BA. Na primeira parte temos @s rappers  Renato, Ramires AX, Áurea Maria, Ramon Kaizen, 16 Beats , desfilando rimas agressivas sobre diversos assuntos e perspectivas.

Áurea Maria que também trampa com sua bela voz junto a Banda Laroye e o Xarope Mc, deixa muito escuro sobre o que a baiana tem. Ramires AX e seus vicios em baixa tecnologia e na arte de levar a sério o que se faz. 16 “skol” Beats só pra começar a colocar essa mente engatilhada e caótica em ordem. Renato e Ramon Kaizen deixando claro qual é o pique da firma: Trabalho, agressão e qualidade.

A parte dois da Cypher apresenta a rapaziada do N’Ativa : Tyro, Jeferson Devon, Sico e Christian Dactes, junto a Yago Malaô que abre os trabalhos. Essa rapaziada que vem trabalhando muito sério, produzindo singles muito bons, já com uma mixtape lançada na praça e aprontando mais travessuras pro futuro. Os Manos demonstram toda a versatilidade em flow diferentes e criatividade em alta. Yago Malaô também não fica atrás e desfila todo seu arsenal de impropérios com aquela qualidade já conhecida de quem acompanha o seu trabalho.

Uma formação de quadrilha que busca a união e a possibilidade de produzir, com manos e minas que são de diversas partes da cidade, de Cajazeiras a Praia Grande, de Valéria a Pernambruxés é chão. No comando das pick ups a bela e talentosa Dj Belle, mandando as batidas pra rapaziada groovar tudo!

 

Um trio de peso do rap sergipano se apresenta nessa selva aos pés do Cajueiro, na ponte do Rio Mar, soltando eletricidade pelos poros e através das rimas. Maeed é um rapper novo, mas já possui um currículo invejável. São vários clipes lançados, um disco cheio lançado no começo deste ano: Ficha Criminal e o trampo não para. Jungle é uma track lançada em parceria com Mentor Mc, parceria essa que já promete um outro disco cheio para logo menos. Também na faixa contamos com a participação de outra cabeça cara da nova geração: Avicena. Com o nome do honorável filosofo árabe ele que também é um Alquimista Solar e sem dúvida é uma figura a se estar de olhos e ouvidos abertos.

O single é nervoso e muito bem produzido pelo selo Alive Records, que também é o responsável pela direção e produção do clipe. Os três mc’s vão encadeando os flows e as ideias em cima de um beat que muda de andamento na passagem de um para o outro, e no refrão. A trinca segue essa corrente elétrica percussiva e vão construindo um retrato verbal indelével do tipo de jogadores  em alto nível que são. Sim, nordeste é o crime e tá pra cobrar, progresso pros nossos e espaço pra crescer, vai vendo!

 

 

 

 

 

 

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