Rogério Bigbross fala sobre a décima edição do festival Bigbands

Batemos um papo com Rogério Bigbross sobre os 10 anos do festival Bigbands, um dos principais festivais de música independente do país. A décima edição começa essa semana, confira a entrevista e sinta o clima que nos espera ao longo do mês de novembro. 

Rogério Bigbross é uma das pedras fundamentais da atual cena independente baiana. Isso porque ao longo de toda sua “militância” em prol do rock baiano, rodando festivais independentes Brasil afora ao longo dos anos 90, divulgando o nome das bandas baianas e aprendendo sobre os bastidores dos festivais dessa natureza, adquiriu a experiência necessária para ajudar a implementar por aqui, uma cena musical independente consolidada.

Big, como é conhecido pelos frequentadores do undergroud baiano, sempre se manteve presente na produção de eventos que criassem as condições para as bandas locais se apresentarem e para que o público interessado em shows das mais diversas vertentes do rock tivessem onde curtir o som que lhes desperta interesse. Podemos dizer que hoje existe uma cena consolidada em Salvador, com eventos semanais em diferentes pontos da cidade, em que é possível curtir shows de bandas das mais diversas correntes do rock. O trabalho feito por Big na produção de eventos principalmente em Salvador, mas em outras partes do nosso estado, teve e continua tendo grande impacto sobre a estabilidade da cena local. 

Sempre preocupado em aglutinar em torno de seus projetos apoiadores que fizessem de suas produções eventos construídos coletivamente, Big iniciou, talvez seu mais ambicioso projeto, ao dar início a um festival independente baiano que levasse sua marca e promovesse a interação das bandas locais com representantes de outras regiões do Brasil e de outros países. Foi nessa intenção que o Bigbands surgiu em 2008 e chega em 2018 fortalecido, com raízes bem entranhadas no calendário musical baiano e no roteiro de festivais brasileiros. 

Carlim: Big, agradecemos por nos conceder essa entrevista e por manter vivo ao longo de dez anos um festival tão importante pra música baiana em particular e brasileira em geral, quanto é o Big Bands. De onde veio a ideia para o festival? Foi algo planejado ou fruto de um impulso de movimentar a cena independente da Bahia?

Rogério Bigbross: Eu trabalhei no antigo GARAGE ROCK por cerca de 10 anos e rodei muitos festivais pelo país nos anos 90 quando tudo isso aqui ainda era mato. E nessas viagens vi a importância dos festivais em cada cidade dessa que fui. A ideia do Bigbands veio da soma de todas essas experiências que tive.

Nessas viagens eu ia com a mochila cheia de demo-tapes de bandas baianas, trocava, vendia e passava para pessoas que julgava importante conhecer o que estava sendo produzido aqui na Bahia. Montar um festival, montar um selo, montar uma loja, sempre fez parte dos planos para movimentar e divulgar uma cena. Parece que conquistei o objetivo, mas não falta muito, muito mesmo para ser chamada de cena.

Carlim: A organização de um evento desse porte demanda muito trabalho, envolvimento por parte dos organizadores e, claro, grana. Evidentemente você teve sucesso em administrar todos esses elementos para a realização do festival, a prova é a longevidade do Bigbands, que completa uma década. Gostaria que você falasse a respeito desse lado do festival, pouco repercutido, sem o qual o festival simplesmente não acontece.

Rogério Bigbross: O Bigbands é realmente um festival colaborativo. Eu costumo falar que não tenho apoio público ou privado para as edições do festival, isso não é verdade, pois tenho apoio de produtores parceiros que produzem comigo esse festival, com a ajuda dos espaços que abrem mão de pautas para o festival acontecer.

O Bigbands não aconteceria … para você ter ideia, em toda programação desse ano, tem ajuda de toda uma galera, da Estopim, da NHL Produções, da Bigbross Produtora, do Groove Bar, do Bardos Bardos Casa da Trinca, do Mercadao.CC, do Freedom Soul, do NUME – Estúdio Criativo, do Against the Media, do BahiaRock, do Coletivo Mosh Like a Girl, do Crust Or Die Collective, Distro & Label, da A FEIRA DA CIDADE. Sem o trabalho coletivo de todos esses envolvidos não haveria festival, são essas pessoas que não deixam que eu pare.

Carlim: O apoio colaborativo, feito nos moldes descritos por você, tem resultados mais satisfatórios do que os apoios convencionais, feitos através de patrocínio de grande marcas e incentivos públicos?

Rogério Bigbross: O Mais importante para o festival é que ele aconteça, com ou sem dinheiro. Quero sim inscrevê-lo em todos os editais que couber, e quem faz ele comigo também tem esse objetivo. Concorrer a editais públicos é um direito de todos, nunca fui contra eles, inclusive o próprio Bigbands já aconteceu duas vezes graças a editais, duas vezes em 10 edições.

O que não quero é ter um projeto de festival para cada edital que apareça e sim que possa inscrever o Bigbands com o perfil que ele já tem, sem interferências por contas de regras de editais e patrocinadores. Vocês viram a programação desse ano? Que edital ou patrocinador colaria comigo?

Carlim: Espero que a pergunta seja retórica, porque não faço ideia de como responde-la. (rs)  Bom você ter mencionado a programação. Ela reflete bem a natureza do Bigbands de ser um festival focado na diversidade. Podemos considerar que esse é um dos focos do festival, oferecer uma diversidade de estilos musicais e artísticas, uma vez que conta com exposição de artes plásticas e sessões de cinema?

Rogério Bigbross: Sim um pouco de retórica e uma futucada para que o leitor tenha curiosidade de ler a programação. O Bigbands tem alma livre diriam meus amigos do rap, nele passaram diversos estilos musicais e linguagens, exposições, cineclube, palestras, fomos às escolas de alta periculosidade da rede municipal com o Bigbands Vai À Escola.

No Bigbands se ouviu MPB, Heavy Metal, Hardcore, Hip Hop, Funk, por ele passou a novíssima música instrumental baiana, agora, nessa edição de 10 anos, talvez seja a mais rock de todas. Para todos, para todas, para os pequenos e para o oldskulls.. mais de 150 artistas passaram por ele entre warm up e o festival de diversas cidades da Bahia, outros estados e vários países. Até hoje faz a gente acreditar que é possível.

Carlim: Quero aproveitar o gancho sobre sua afirmação de que esta é talvez a edição mais rock do Bigbands, para falar sobre a presença dos Úteros em Fúria, da Maria Bacana, que voltou em 2017 e lançou um álbum quando seu primeiro disco completou 20 anos, mais a presença dos Honkers, que neste ano completam 20 anos de estrada. Qual a importância dessas três bandas para o festival com um todo e pra décima edição em particular? Podemos considerá-las as atrações principais do Bigbands X devido a essas peculiaridades que as bandas apresentam?

Rogério Bigbross: Úteros em Fúria foi o melhor presente que o festival ganhou! Se você pegar as bandas dos anos 90 na Bahia, Inkoma, Lisergia, Dois Sapos e Meio, Cascadura,  todas elas falariam que começaram a acreditar no rock e resolveram ter uma banda depois de um show da Úteros.

Há alguns anos em uma edição do VMB, Pitty e Cascadura se reuniram para tocar uma música da Úteros em Fúria. No mesmo grau de importância segue a Maria Bacana. Repentinamente assina contrato com gravadora, clips na Mtv e muitos elogios Brasil afora. Já a The Honkers nunca parou né, tai a 20 anos tocando nos pubs, na rua e dando bons prejuízos. Fizeram para mim a tour mais pioneira de todo rock brasileiro independente. Vão lançar clipe novo no Bigbands.

Agora quanto a serem as atrações principais, aí só o fã pode responder. O Bigbands é um festival e não o show de uma única banda, não costumo dar tratamento diferenciado a nenhuma banda do festival, isso falando em nome do festival, mais se perguntar pra mim, são as grades atrações do meu coração no festival.

Carlim: Os shows são o carro chefe de qualquer festival, contudo a edição X do Bigbands vai além das apresentações, trazendo exibição de documentários sobre bandas importantes para história do rock baiano, Úteros em Fúria, Malefector e Dead Billies. Rola ainda o Bigbands Kids, o Faça Você Mesma Vol. 01 e uma exposição sobre os 10 anos do Festival. Qual a intenção de acrescentar ao festival esses eventos? Algo nesse sentido havia sido feito em outras edições do Bigbands?

Rogério Bigbross: Sim o Bigbands ao longo desses 10 anos sempre teve ações extra musicais. Exibição de documentários, teatro, Bigbands Kids, palestras, workshops, isso sempre foi muito importante para construção do festival, sempre quisemos mostrar o máximo de linguagens possíveis, trazer o máximo de informações sobre temas que achamos importantes para formar uma cena e atingir o máximo de pessoas possíveis.

Carlim: Big, mais uma vez obrigado pela entrevista. Gostaria que terminássemos esse bate papo com uma fala sua acerca de algo sobre o festival que seja importante dizer e que nenhuma das perguntas feitas permitiu que você dissesse. 

Rogério Bigbross: Eu só quero agradecer a todos que de alguma forma ajudam a construir o Bigbands; produtores, bandas, público, técnica … o seu compartilhamento dessa matéria já é de grande ajuda, pagar o ingresso muito mais,o Bigbands é um sonho real.

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