Bigbands Edição X

Há dez anos o Bigbands segue promovendo bons momentos de diversão através dos shows, mas também reflexão, troca de experiências e vivências. A edição X condensa tudo isso e nos convida à diversão e à resistência.

O Festival Bigbands chega à sua décima edição através de muita luta ao longo desses dez anos do evento. Sempre contando com a colaboração de coletivos ligados à cena undeground, parcerias com casas de shows da cidade e demais espaços disponibilizados para que o festival possa ocorrer em toda a abrangência artística e cultural.

Essa postagem se destina exclusivamente sobre os shows que vão rolar no festival no segundo final de semana de novembro. Teremos bandas da atual cena underground e independente da Bahia, bem como convidados de outras partes do país e exterior.

Três shows a meu ver merecem destaque, The Honkers, devido aos 20 anos da banda que serão comemorados durante sua participação no festival. Maria Bacana, que em 2017 voltou à ativa para comemorar os 20 anos de lançamento de seu primeiro álbum, que resultou no retorno definitivo da banda, inclusive lançando um álbum novo; e claro, o show de um dos ícones do rock baiano,  a Úteros em Fúria, banda que se tornou referência para as baianas que lhe sucederam.

Vamos aqui dar um breve resumo de cada uma das bandas para que vocês, oganautas, saibam o que vos espera nesses três dias de intenso rock´n roll.

A casa dos shows do X Festival Bigbands, é o já tradicional reduto do rock baiano, o Groove Bar, localizado no bairro da Barra em Salvador. O primeiro dia do festival ocorre na sexta feira dia 09 de novembro. Vamos às atrações.

Shows do dia 09 de novembro 

Gigito – Salvador (BA)

A primeira noite de shows terá o metal extremo dominando a noite, mas tudo se iniciará com o bluegrass desapegado de Gigito e Daniel Iannini. Gigito e Iannini transformam em palco qualquer espaço da cidade, onde acreditem valer a pena levar um som.

Certa feita, enquanto tocavam na passarela em frente ao Shopping Barra, foram “convidados” a se retirar do local pois atrapalhavam a locomoção dos transeuntes. Felizmente, os caras tem forte influência do punk rock, resistem sempre à esse tipo de investida reaça, mantendo sua postura de fazer da rua um de seus canais de propagação musical.

Gigito tem vários Eps e faixas soltas publicadas em seu canal no youtube e também no soundcloud, além do spotfy. Destacamos seu Ep Bluegrass Desapegado, lançado em 2016 (confira nossa matéria sobre esse trabalho do Gigito) , e o álbum Faça Com o Que Tem, Não Espere por Ninguém (2017) . O conceito de bluesgrass desapegado, elaborado por Gigito pretende dar conta de toda abrangência sonora de seu estilo musical, uma adaptação do bluegrass estadunidense à diversidade sonora baiana-nordestina-brasileira.

Além disso, acrescentemos a influência de diferentes seguimentos do rock, usados como elementos constitutivos do bluegrass desapegado de Gigito e Daniel Iannini. 

Behavior – Salvador (BA)

A partir de agora entramos no universo do som extremo, quando a noite fica mais densa, agressiva e sombria. Abre essa sequencia os caras da Behavior, banda soteropolitana de death metal na estrada desde 2008, portanto, assim como o Bigbands, completando uma década de existência.

Durante o caminho percorrido até aqui a banda gravou e lançou um Ep, Walking for a Rotten Destiny (2008),  o single Rotten Destiny (2010), seu primeiro álbum The Awakening of Madness (2012) e agora em 2018 lançaram seu segundo álbum, intitulado Morbid Obsession. 

O álbum vem recebendo excelentes avaliações por parte da crítica especializada, o que torna o show no Bigbands ainda mais aguardado pelo fans do metal extremo. Abaixo a performance da banda ao vivo, executando a faixa Corpses On The Road, que faz parte do Morbid Obsession. Sinta um pouco da energia que será derramada em cima de você no dia 09 lá no Groove Bar. 

https://www.youtube.com/watch?v=HjWBcRlEfVs&feature=share

Nevercell – Dubai (E.A.U)

Fiquei sabendo da força do metal no Oriente Médio através do documentário Global Metal do sociólogo e documentarista canadense Sam Dunn. Fiquei impressionado com a força da cena de metal extremo em países como Arábia Saudita, Irã, Emirados Arábes, dentre outros.

Eis que nós baianos teremos a oportunidade de conferir ao vivo a apresentação de um desses representantes do metal extremo do Oriente Médio, trata-se da Nervecell, banda de death metal dos Emirados Árabes Unidos. Os caras param aqui para subir ao palco na primeira noite do Bigbands e fazer tremer o Groove Bar. 

A banda foi fundada em 1999 pelo guitarrista Barney Ribeiro, pelo baterista Hatem  e o vocalista Brogan Costa. Pioneira do metal extremo na cena de Dubai, a Nevercell abriu pra bandas da envergadura do Metallica, Morbid Angel, Deicide e Suffocation, cujo nome está cravado fundo na história do metal.

A moral para assumir a responsabilidade de dividir o palco com bandas desse quilate veio da consolidação da Nevercell no cenário extremo do Oriente Médio. Somado a isso vem a fama das performances poderosas da banda ao vivo, onde a mistura corrosiva de death e trash endossam a fama dos caras. Não por acaso a revista britanica Metal Hammer Magazine a incluiu na lista dos ” heróis da Nova Revolução do Metal” em 2011. 

A Nevercell se apresentou em festivais em inúmeros países do mundo, entre os quais o Wacken Open Air, considerado o maior festival de metal do mundo. Também se apresentaram em outros importantes festivais como o With Full Force e o Rock AM Rising. Essa é a segunda passagem da Nevercell pelo Brasil . Em sua primeira vinda, em 2016, a banda não passou pelo Nordeste, sendo essa a primeira vez dos caras na parte do país totalmente livre do fascismo que assaltou as demais regiões do país. 

A banda tem um Ep lançado em 2004 chamado Human Caos, e três álbuns; o primeiro deles, Preaching Venom, foi lançado em 2008. Em 2011 veio o Psychogenocide, ambos lançados pelo selo Lifeforce Records. Ano passado, 2017, lançaram seu último trabalho, o álbum Past, Presente … Torture , cujo título cai como uma luva sobre o atual contexto político brasileiro, fazendo projeção para a repetição do passado de torturas num futuro muito próximo. 

 NERVOCHAOS – São Paulo – SP

A Nervochaos completa 22 anos de estrada em 2018, nos quais produziu uma vasta discografia que pavimentou sus estrada entre os limites do metal extremo, fazendo da Nervochaos uma das principais e mais importantes bandas do metal extremo brasileiro da atualidade.

Claro que o reconhecimento da banda não se deve à quantidade de sua produção, mas pela qualidade da mesma aliada à performance de seus membros no palco. O domínio técnico de seus instrumentos garante execuções precisas, mas, certamente é o feeling o verdadeiro fio condutor da técnica , responsável por fazer da Nervochaos uma das bandas mais respeitadas no cenário underground brasileiro.

O primeiro álbum da banda saiu em 1998 pela Tumba Records, intitulado Pay Back Time.  Pela Tumba Records lançaram outros 5 álbuns, o Legion Of Spirits Infernal de 2002, o Quarrel In Hell de 2006, o Battalions Of Hate de 2010 e  o Live Rituals. Em 2012 lançam To The Death seu primeiro álbum pelo famoso selo mineiro de metal Cogumelo Records. Pela Cogumelos lançaram seus dois últimos álbuns The Art Of Vengeance de 2014 e Nyctophilia, lançado em 2017. Pela Cogumelo saiu ainda, em 2013, um fodástico box set em comemoração aos 17 anos da banda, o 17 Years Of Chaos – Box Set, contendo um documentários sobre a banda, outro sobre a tour do To The Death e um disco com faixas ao vido e todas as demo tapes lançadas pela banda. 

 

Shows do dia 10 de novembro

 

SOFT PORN – Salvador (BA) 

No sábado a Soft Porn inicia a segunda noite do Bigbands imprimindo sua atmosfera sonora intimista, permeada por sonoridade abstrata criada entre riffs de guitarra, riffs de guitarra e efeitos sonoros eletrônicos variados. A banda tem na dupla de Lucas, o Brasil (DJ) e o Spanholi (guitarra) seu centro criador, responsáveis pelo conceito estético por traz tanto das composições quanto do que rola em suas performances ao vivo. 

Em 2015 a banda lançou seu primeiro trampo de estúdio, o Soft Porn Vol. 01, que você pode ouvir clicando bem aquiEm 2017 lançaram o sinlge Bronson, enfatizando a criação de texturas sonoras por meio de recursos eletrônicos. 

https://www.youtube.com/watch?time_continue=44&v=h-5LiHKWWuM

IORIGUN – Feira de Santana (BA)

Iorigun, banda feirense formada por Iuri, Fred, Moysés e Leonel fez sua estréia nos palcos em 2017. Contudo a banda começou a se estruturar desde 2015, um processo que levou a atingir certo nível de excelência sobre o som que se propuseram a fazer.

Assim como s Soft Porn, a Iorigun busca efetuar seu processo de criação através de elementos sonoros minimalistas, focados em concepções abstratas e que gera diferentes texturas através do aumento e diminuição da intensidade e propagação dos sons. Tudo isso me parece se ancorar em influências dos anos oitenta, principalmente a new wave e o pós punk. 

Paula Holanda conversou com a banda em 2017 e extraiu informações preciosas sobre a Iorigun. Clique aqui pra conhecer mais detalhadamente a história dessa banda que possui todas as características para ocupar um lugar de destaque na cena independente em âmbito nacional. 

Em 2017 lançaram o Ep Empty.Houses//Filled.Cities e recentemente lançaram o single Figth To Forget (setembro de 2018)Confira abaixo o clipe oficial deste single. 

ROSA IDIOTA – Salvador (BA)

A Rosa Idiota é uma banda que está na ativa a pouco tempo, embora seus integrantes estejam na estrada a muito mais tempo. Fundada em 2015 a Rosa Idiota não demorou muito pra lançar seu primeiro álbum, Circle, lançado já em 2016. O álbum impressiona pela qualidade da produção, da gravação, dos arranjos, das composições e até mesmo da concepção gráfica do álbum físico. 

Fortemente influenciada pelo hardcore do final dos 80 e 90, pautados na ênfase melódica, levou a Rosa Idiota a construir uma sonoridade bastante concisa, de pegada forte e direta. Em entrevista concedida ao Oganpazan em 2017, o guitarrista Diego Dill revelou quais as principais influências da banda e como foi o processo de composição e gravação do primeiro álbum logo em seguida à fundação da banda. A entrevista completa você acessa aqui.

“Foi um tanto audacioso começar uma banda e em pouco tempo já estrear gravando um album cheio. No início de uma banda é difícil de se alcançar uma sonoridade que remete à própria identidade. Acho que dá pra sentir isso no disco, tem climas diferentes entre as músicas e no decorrer do álbum inteiro.  Por isso é um pouco difícil dizer que essa ou aquela banda influenciou diretamente no som que tentamos fazer. Ouvimos de tudo e seguramente não só bandas noventistas nortearam os climas do Circle. Mas se for pra eleger umas 5 bandas que são referência e unanimidade dentro da banda são: Hüsker Dü, Garage Fuzz, Hot Water Music, Bad Religion e Fugazi”

Dois anos se passaram e pelo jeito a banda mantém-se compondo a todo vapor. Tanto que chegam pra se apresentar no Bigbands X pouco tempo depois de lançarem seu segundo álbum Somatic. 

THE HONKERS – Salvador (BA)

Certamente a The Honkers é a banda mais insana na ativa aqui em Salvador. Lembrando que essa insanidade vem rolando há 20 anos ininterruptos, movida a muito álcool e doses homéricas de adrenalina. A performance da banda vai muito além da execução de seus instrumentos no palco. O comportamento diante do público, causado pela excitação do som que produzem, promove a dissolução de qualquer inibidor social, resultando numa apoteótica celebração bacante. 

Os Honkers quase sempre são a atração de encerramento das noites de shows. Não por serem a banda mais famosa, mais aguardada ou mais ‘badalada’. Qualquer casa de show que já tenha acolhido um show dos Honkers sempre toma o cuidado para deixá-los pro fim da noite. Apenas os contratantes desavisados os colocam no início ou meio das atrações da noite. Isso porque certamente o caos tomará conta do recinto e nunca se sabe ao certo o que vai acontecer. Sabemos apenas que podemos esperar muita selvageria, barulho, loucura, e se dermos sorte gente pelada, suada, lubrificada de cerveja e com expressões faciais psicopáticas. 

Muitas surpresas nos aguardam nesse show dos Honkers no Bigbands X. Isso porque os caras estão celebrando 20 anos de estrada e pelo que conversei com o vocalista Sputter, haverá o lançamento do novo videoclipe da banda, produzido pela Malta Cinema & Som, produtora com a qual a banda já trabalhou quando lançou o videoclipe 24 Hours From Your Heart

Não esqueçamos da expectativa para o lançamento do Nothing Will Ever Change the Way novo single dos Honkers, o qual certamente será executado pela banda nesse show alucinante que vem por aí. Vale lembrar que o single rendeu um clipe produzido pela Malta Cinema & Som e dirigido por Diego Haase e Rodrigo Araújo. O videoclipe será lançado durante o show de comemoração dos 20 anos da Honkers no Bigbands. Confira o teaser do clipe aqui

Sugiro que ouçam os Eps dos caras para prepararem-se psicologicamente para o que vos espera, são eles Between The Devil And The Deep Blue Sea  e Underground For Underground People Covered By One Overground Band ambos lançados em 2003,  Roll Up Your Sleeves And Help Us Rock Up This Honker World de 2007 e o duplo single 36 Hours lançado em 2010. 

Shows do dia 11 de novembro  

DJ BIGBROSS – BA – HAPPY HOUR

Domingo encerra os shows do Bigbands X e a noite começa com nosso anfitrião Big assumindo as pickups para fazer todo mundo agitar ao som de um set elaborado especialmente para a comemoração desses dez anos do Bigbands. 

ÚTEROS EM FÚRIA – Salvador (BA)

Sem dúvida o show da Úteros Em Fúria será um dos momentos mais importante dessa edição do Bigbands. Isso porque a banda encerrou suas atividades há 23 anos e de lá pra cá são raros os momentos de reunião para subir ao palco. Sua importância para o rock baiano pode ser medida por toda uma legião de bandas que alegam ter sofrido influência da Úteros, entre as quais podemos citar Cascadura, Inkoma, Pitty, dentre muitas outras surgidas na segunda metade dos anos 90. 

Os shows da Úteros Em Fúria se tornaram lendários devido às performances viscerais de seus integrantes, completamente dominados pela música que produziam. Essa característica foi o motor que propulsionou a fama da banda, levando os jovens soteropolitanos a comparecer em seus shows. 

Embora tenham adquirido sucesso devido aos seus shows, a Úteros lançou apenas um álbum, Wombs In Rage saiu em 1993 pelo selo Natasha Records e teve a formação clássica da banda com Evandro Botti no baixo, Mauro Pithon no vocal, Emerson Borel na guitarra, Luiz Fernando na guitarra e gaia e Mário Jorge Heine na bateria. 

Hoje em dia o álbum é uma raridade, mas pode ser conferido no youtube, basta clicar aqui para ouvi-lo. 

MARIA BACANA – Salvador (BA)

Em 1997 a Maria Bacana lançou seu álbum de estréia, que leva o nome da banda e pode ser ouvido na íntegra aqui.  Este seria o único álbum da banda pelos próximos 20 anos. Em 2017 os ex integrantes resolvem se reunir para um show comemorativo e acabam indo além, compõem, gravam e lançam o segundo álbum. O que seria uma simples reunião de celebração, torna-se um recomeço.

A Maria Bacana é dessas bandas marcadas pelo signo do trágico. Tendo o potencial para alcançar o sucesso comercial, quis o destino que não sucumbisse à efemeridade dessa circunstância. Seu álbum, lançado pelo selo Rock It! do legionário urbano Dado Villa-Lobos e do plebe rude André Muler, foi para além da inocuidade da fama, colocando-se entre os álbuns que se tornaram lendários entre os que fazem do rock um modo de vida.

O show da Maria Bacana no Bigbands será o primeiro aós o lançamento do novo disco, A Vida Boa Que Tem Os Dias Que Brincam Leves

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