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Red Garland Trio – Groovy

O Miles Davis foi um gênio, mas não foi um gênio sozinho. Todas as camadas instrumentais que formaram seus discos possuiam nomes acima da média em todas as posições, seres grandiosos, assim como o próprio norte mor. 
Chega a ser até cansativo pegar as listas de bateristas, baixistas, saxofonistas, percussionistas e guitarristas que já tocaram com o americano, era só a nata! Algo que impressiona não só pelo faro de gol do trompetista artilheiro, mas que também serve como um celeiro de aprendizado sobre as dezenas de craques com que o genioso mestre tabelava.
Sua discografia não é só uma meca imensa de criatividade e história. Todas os rolos de fita com seu nome na impressão são mais do que traços evolutivos e históricos do Jazz, nos revelam milhares de músicos brilhantes e com eles, novos caminhos são conhecidos e explorados e, quando notamos, chegamos ao cerne de todo o estilo: o lance era tocar.

Quando se fala em Jazz vemos discografias que, endossadas por apenas um nome, geraram mais de 50 gravações! A naturalidade sempre foi a base do estilo e quando os músicos se reuniam, algo sempre ia parar no rolos, a história era escrita a todo momento e nenhum fraseado ficava sem base.

E um dos grandes nomes que marcaram presença em discos fundamentais na vida de Miles foi Red Garland, um pianista brilhante e que apesar de excepcional, foi ofuscado por Bill Evans, Herbie Hancock e Chick Corea, apenas alguns nomes que também sentaram ao piano enquanto o trompete era aliciado no época clássica.

Só que hoje (depois de 31 anos de sua morte), a crítica crava seu nome como sendo um dos mais importantes, não só dentro da carreira de Miles, mas sim dentro da história do Jazz. Além de seus discos com o dono do trompete com Wah-Wah, Red ainda gravou John Coltrane, Art Pepper e deixou uma vasta carreira solo com um requintado fraseado Blueseiro.

Escola que, é válido ressaltar, foi única dentro do arsenal de pianistas que Miles teve a sua disposição. E se você não conhece seu trabalho, creio que ”Groovy” (disco lançado pela Prestige em 1957), seja uma boa porta de entrada para as drogas mais pesadas.

Line Up:
Red Garland (piano)
Paul Chambers (baixo)
Art Taylor (bateria)

Track List:
”C-Jam Blues” – Barney Bigar/Duke Ellington
”Gone Again” – Curtis Lewis/Curley Hamner/Lione Hampton
”Will You Still Be Mine” – Matt Dennis/Tom Adair
”Willow Weep For Me” – Ann Ronell
”What Can I Saw After I Saw I’m Sorry?” – Walter Donaldson/Abe Lyman
”Hey Now”

Se Garland tivesse nascido Rock ‘N’ Roll, é bem provável que hoje o cidadão seria referência para power trios, tamanha foi sua excelência nessa modalidade. E como o Jazz também possuia um bom jogo de cintura para trabalhos com esta formação, o americano deitou e rolou tocando com dezenas de grandes músicos e mantendo apenas uma unidade em todos os seus trios: a qualidade soberana de sua lírica pianistica.

Exemplo raro e refinado de feeling, que em ”Groovy”, oferece uma faceta mais ácida de seu marfim malhado. Instrumento que exuberantemente acompanhado pelo baixo sem pontos fracos de Paul Chambers e da cadenciada bateria de Art Taylor, leva o ouvinte ao delírio enquanto as notas surgem com a naturalidade de gotas na chuva.

Impressionando pelo preciosismo nas longas jams (especialidade da casa), como na abertura do disco com ”C-Jam Blues”. Levando os mais sensíveis aos prantos com o feeling de ”Gone Again” e o tenaz baixo de Chambers ao fundo e justificando o nome do disco, com os grooves intensos de ”Will You Still Be Mine”.

Esse era William Garland, um cara que conseguia manter a estirpe não importando o estilo em que se prestava a tocar. Seja na batida mais lenta ou ao som do excelente ”Goovy” que nomeia este disco, quem escuta não só esse play, mas qualquer outro que o pianista gravou, saca na hora que ele era diferente.

Ouvir o mestre com seus trios é a melhor pedida, pois o improviso é ainda mais perceptível nas bases criativas. Deixando espaços para o baixo preencher e outros para a bateria virar, sem podar a vibração ou as contribuições alheias, apenas esperando o momento certo para desconcertar os ouvintes, ”Willow Weep For Me”, senhoras e senhores.

O piano é um instrumento duro em sua concepção material e na musical. São necessário alguns meses para que algo saia dele, mas ao som deste cara parece até fácil extrair as notas certas. Característica subjetiva, ainda mais quando falamos sobre o montante de possibilidades que temas como ”What Can I Say After I Saw I’m Sorry” possuiam ao vivo.

Mas é aí que está o grande segredo, todas as composições deste gigante não geram segundas opiniões, elas surgem absolutas, tal qual seu único tema autoral para esta gravação. ”Hey Now” só não é perfeito por que o cara era humilde, de resto, ”Groovy” está quase lá.

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