O Raposa Velha é um dos grupos pioneiros do cenário Jazz da Bahia. O seu disco de estreia ganhou reimpressão em vinil, saiba mais:
O selo português “Mad About Records” relançou em 2021, depois de 40 anos, um dos poucos registros em vinil da cena do “Jazz”, música instrumental produzida em salvador na década de 80. Outro título essencial dessa produção é também o Sexteto do Beco, lançado em 1980, pelo selo da (acredite!) Fundação Cultural do Estado da Bahia, e relançado pela Três Selos/ Assustado Discos, em 2016.
Discos como o do Raposa Velha, Sexteto do Beco, Andrea Daltro, Saul Barbosa, Alcyvando Luz, Walter Smetak, Djalma Corrêa, dentre outros, estão há décadas nas “wishlist” de qualquer aficionado por música brasileira no formato vinil, ao menos os mais sagazes.
Posso falar com propriedade, pois além de colecionador, selectah, vivi por muitos anos comprando, expondo e vendendo LP´s para um nicho restrito de dj´s, produtores, donos de lojas e atravessadores de todas as partes do mundo. Lembrem-se que até 2008, pelo menos, não havia ainda essa série de relançamentos dos últimos anos, então eram as prensagens originais ou nada.
Mas vamos ao disco, enfim! Foi uma sensação muito boa receber essa notícia do relançamento em vinil e digital pela Mad About Records, sabendo que essa produção iria circular por muitos lugares, e o Raposa seguiria a clássica saga do “under the radar”, renascendo depois de 4 décadas na forma de reconhecimento merecida para esses músicos, que fizeram o melhor que podiam dentro das condições da época, e cujo resultado vibrante podemos conferir digitalmente agora.
O que mais um disco como esse pode nos dizer sobre determinado período histórico? Uma ponte que costumo fazer é a de que o Raposa Velha nos legou também a atitude do “faça você mesmo”, que viria a dialogar, de alguma forma, com o incipiente movimento afro-punk-metal baiano, que chegaria com força entre 1983 e 84, seguindo mais experimental pelo início dos anos 90.
Não é à tôa que o designer e entusiasta do grupo ( tendo produzido alguns shows, um fanzine, um filme em super-8, além de diversas peças gráficas para divulgação) foi Nicolau Rios, que um pouco mais a frente estaria envolvido na produção de shows da primeira dentição do punk rock local.
Por outro lado, o Maestro Zeca Freitas, iria se tornar uma peça fundamental da cena instrumental baiana dos anos seguintes, tendo co-produzido mais de 10 edições do “Festival de Música Instrumental da Bahia”, além de uma profícua carreira artística como regente e compositor.
Em suas primeiras edições trouxeram Hermeto Pascoal, Grupo Um, e toda uma nova geração que teve contato, diz a lenda, com o genial Victor Assis Brasil, ainda nos anos 70, nas vivências do ICBA ( Institute Goethe). Mas essa história eu conto depois…
Só pra dar uma idéia rápida, foi lá que Djalma Corrêa concebeu o Projeto BAIAFRO, foi por lá também que o GDC ( Grupo de Dança contemporânea) ocupou e performou, Jornada de Cinema da Bahia, Smetak e Novos Compositores da Bahia, Clyde Morgan, Banda do Companheiro Mágico, enfim, um espaço vital durante o período sobre a coordenação do Shaeffner.
Voltando ao Raposa, as opções de estúdio eram poucas. O disco foi gravado nos dias 6, 7 e 8 de outubro de 1981, por Nestor Madrid, em 8 canais, nos estúdios da WR, trazendo na Capa uma ilustração icônica do grande Mestre pós-tropicalista Dicinho, artista e ilustrador baiano, responsável também por capas clássicas de Gal Costa, Moraes Moreira, dentre outros.
A formação é praticamente a estreia em estúdio de grande parte dos músicos presentes, nomes que virariam referência no mercado musical das próximas décadas. Mou Brasil ( guitarra), Zeca Freitas ( Piano elétrico, Arp, Sax Alto e soprano, também assina a maioria dos temas), Fred Dantas ( trombone, colaborou com “Triunfo da Luz” e “Vinheta”), Carlinhos Marques ( baixo) e Jorge Brasil ( bateria).
Dizer o quê, né? Só agradecer por ter podido acompanhar o desenvolvimento da carreira do maestro Fred Dantas ( ex-aluno do Seminários de Música da UFBA), que dedicou-se também a regência de sua própria orquestra, além de uma colaboração importante na conservação das Filarmônicas, das bandas de frevos e dobrados, além de atuar com um método mais inclusivo de educação musical escrita. Seus filhos também são músicos e já ouvi falar que quando se juntam é para tocar sessões de livre improvisação, na garagem do Barbalho. Eu sempre quis ouvir esses encontros.
O Carlinhos Marques dedicou-se mais a ser side-man e músico de estúdio, tendo gravado com diversos artistas da Bahia. Quantos aos irmãos Brasil, já fazem parte da história da música brasileira, continuam na ativa e inspirando as novas gerações e seus contemporâneos.
Saludos, Maestros!
FICHA TÈCNICA
Grupo: Raposa Velha
Selo: Mad About Records
Gênero: Instrumental, jazz, fusion
Data de Lançamento original : 1981
Prensagem: 2021
Formato 12 polegadas, capa simples
-Raposa Velha, importante grupo do Jazz baiano, ganha reimpressão em vinil!
Por Edbrass Brasil