O flow jazzístico do Átrio encontrou as rimas poderosas dos manos Clamant e do Nelson Tobias DQuebrada em mais uma noite de muito rap & jazz
Desafiando convenções que vão desde a configuração da banda, até o Rapper/MC que será convidado para o show, o Átrio – trio de Jazz paulista de São Paulo – continua explorando as diversas possibilidades da improvisação com flow Jazzístico.
Em mais uma passagem no Baderna – simpático bar-musical localizado na R. Oscar Freire – o grupo formado por Rob Ashtoffen (baixo), Gabriel Gaiardo (teclados) e Wagner Vasconcellos (substituindo Renato Pestana na bateria) mostrou um pouco mais de seu eloquente fraseado.
Ao lado dos convidados Clamant e Nelson Tobias DQuebrada, o trio mostrou como a improvisação pode ganhar novas possibilidades graças à interessante dinâmica entre o trio e os convidados.
Na primeira entrada da noite, Clamant – poeta radicado no circuito de Slams da cidade de São Paulo – se aproveitou do rico plano de fundo melódico e rítmico do trio para encaixar sua levada. Numa versão repaginada para “Vícios” – tema composto ao lado do produtor Must – o poeta/rapper mostrou grande naturalidade e capacidade de improvisação para manter o groove no embalo.
Improvisando com tamanha facilidade, o som se confundia em vertiginosas fritações Funkeadas, sempre com aquele acabamento Jazzístico. Enquanto Gabriel Gaiardo fazia as bases numa rica cama de teclados, a sessão rítmica não alivia para quem estava com o microfone na mão. Apesar disso, tanto o Clamant quanto o Nelson Tobias DQuebrada mandaram bem e souberam interagir nesse ambiente tão orgânico.
Vale lembrar que o Nelson colou no segundo set e foi interessante ver como seu estilo influenciou a dinâmica do trio. Agitador de iniciativas socioculturais, principalmente no bairro do Butantã, Zona Oeste de São Paulo, o flow negrão chegou com uma abordagem Oldschool, mas que manteve o groove e o impacto dos beats.
Foi inviável não comparar como o instrumental foi influenciado pelos 2 diferentes perfis de rima. O estilo de lírica/métrica – algo intrínseco de cada compositor – definitivamente trouxe algo novo ao instrumental.
As vezes era um improviso que encontrou no Jazz do Átrio, um beat pra virar uma composição. Noutros momentos, foi uma nova roupagem que ofereceu outras perspectivas. É difícil determinar qual é o elemento que faz a dinâmica ficar tão orgânica e interessante, quinta-feira, após quinta-feira, mas se tem uma coisa certa é que esse projeto ainda vai muito longe.
É nítido como é interessante, não só para o grupo, mas também para o convidado. Em muitas ocasiões, até mesmo os Rappers demonstraram uma afinidade muito interessante com o trabalho da banda… Ficou claro como essa abordagem ajuda na expansão da linguagem do Rap e ver esse show – sempre com um convidado diferente – é uma bela oportunidade para observar a beleza da improvisação livre em contraponto com um espetáculo bem roteirizado.
Coisa fina, pra variar.
Rap & Jazz: Clamant e Nelson Tobias DQuebrada no flow do Átrio
Fotos e Texto por: Guilherme Espir (Macrocefalia Musical)