O Rap Brasileiro hoje, possui na diversidade de propostas seu maior ganho musical, selecionamos 4 clipes que mostram deixam isso muito claro
Num país de dimensões continentais como o Brasil, a integração cultural é algo muito difícil e por vezes até artificial, dada a sua diversidade de costumes e heranças culturais. Temos insistido ao longo de alguns textos aqui no Oganpazan sobre a importância da valorização das manifestações do rap nordestino, justamente pela necessidade de integração de uma cultura que é muito forte. E que como sua própria essência prega, deve ser inclusiva, absorvendo as diferenças como sua força motriz.
A divisão que o mercado impõe deve ser combatida, pois coloca a sombra tudo aquilo que divergir do que seja então produto vendável. Hoje certos padrões estéticos e posicionamentos éticos vão sendo aos poucos e com muita luta senão aceitos, pelo menos debatidos com mais constância. Atualmente o Rap se encontra dentro desse movimento e vem crescendo dentro da cultura pop, ampliando os seus horizontes estéticos ao mesmo tempo que segue conquistando parte da classe média. Conseguindo se fazer passar, menos por uma aceitação do corpo social do que por uma visão mercadológica da coisa.
E a beleza, a força de sua mensagem em termos estéticos encontra tanto no sudeste quanto no nordeste seus equivalentes. Periferia é periferia em qualquer lugar e sendo assim seus cronistas brotam em todo o nosso “continente”, como forças da natureza. Vendo e narrando com sua artes os mais diferentes problemas e temas, com diferentes sotaques, sonoridades e visões próprias de seus lugares de origem e de suas singularidades artísticas.
Selecionamos 4 clipes de “nov@s ator@s” do Rap Brasil e os integramos no mesmo texto. Esperamos que suscitem uma reflexão sobre a importância da troca de informações, do intercâmbio entre as diferenças, e sobretudo no respeito a alteridade. Algo que hoje se faz mais relevante do que nunca. Pega aí!
O mano Djonga lançou no ano passado seu EP, Fechando o Corpo 2015 e que vale muito apena ser conferido. Nesse vídeo clipe, o rapper, que é mineiro das “margens de Belzonte” conta com a parceria de sua conterrânea, a mc BrisaFlow. A música nos fala de solidariedade, e da luta pra conquistarmos aquilo que sonhamos. Djonga desfila um flow muito forte auxiliado por BrisaFlow e sua independência guerreira. A canção consegue trazer uma mistura muito salutar e bem feita entre o rap e o funk, em algumas passagens, numa perspectiva que nos lembra as possibilidades daquele já saudoso Rap Brasil vol. 1 , sendo atualizadas com maestria pelo GIVNT. Com acuidade visual e sonora o mano de BH, Minas Gerais, faz um rap que comunica fácil com qualquer público. Pega a visão.
Letra: BrisaFlow e Djonga
Produção: Givnt
Imagens: Tropa Filmes
Edição e Cor: Tropa Filmes
Correria, luta, auto estima, são conceitos que parecem gravadas no espirito de Helibrown e a sua arte é apenas uma expressão lapidada deles. Mais uma cria da batalha da Santa Cruz, o mano chega muito forte nesse clipe, cantando exatamente os conceitos acima citados. Um dos poucos casos onde podemos ver que rimar rápido não significa meramente encadear palavras soltas e vazias.
A velocidade aqui esta a serviço da inteligência e não mero recurso técnico para deslumbrar a plateia. O clipe mostra um homem negro e a cidade, vazia, na batalha diária pra viver de arte. A batalha de rimas como apenas um nível pra se alcançar a real batalha da vida. Helibrown lançou no ano passado (2015) sua mixtape Das Batalhas Pra Guerra. E ao que parece o mano absorveu essa frase como motor pra sua arte. Sonzeira!
Direção e Filmagem / Edição e Cor: AleMenezes
Direção de Fotografia: Luan Batista
Mixagem e Áudio FX: Nego e (Artefato Produções) e Pé Beat
Masterização: Rafael Zeferino (Audiofusion: Bureau)
Artefato Produções
Afrika Kidz Crew
Se Jesus vai voltar nós não sabemos, mas temos certeza que esse clipe é uma excelente tradução da sua mensagem para os tempos atuais. Um candomblecista e cristãos evangélicos lado a lado em prol da melhora da população negra e periférica. E dentro dessa perspectiva o caráter pedagógico presente no vídeo é o que mais salta aos olhos. Colocando o papel de ator principal em cima da criança que aparece no clipe perpassando todas as cenas para no fim nos dar a afirmação: “Salve salve Xarope Mc, Ministério Clanmor, Nois Por Nois, é nós que tá!”. A consciência de que são elas – as nossas crianças – que precisam ser educadas para enfrentar essa realidade cruel, se torna explicita, não só pelas imagens, mas também pelo subtexto acima citado.
Três trabalhos musicais, 4 artistas que se unem aqui para uma produção que ficou muito bonita, nas imagens e no som. União do gueto buscando salvar vidas das mãos dos nossos predadores históricos, derrubando pseudos obstáculos, em prol de uma mensagem, que por isso mesmo se faz mais forte. É rap baiano no que de melhor ele tem a oferecer. A resistência resisti…
Música: Nois que tá
Artista: Xarope MC part. Ministério Clanmor, Nois por nois
Gravadora: CBX Rec
Filmagem/Edição/Direção/Roteiro: Reis Filmes
A pequena Aracaju, parece guardar um segredo, um mistério, que é pouco compreendido pelo resto do país, pois sua cultura é de uma força absurda. E o rap não fica de fora, Rakavi é prova disso, e um dos pontas de lança dessa cidade maravilhosa. Mais um trabalho da gangue Alive Records soltando um vídeo sinistro com essa Nordeste Criminal. Sergipe tem nos apresentado uma geração que esta trabalhando muito forte e produzindo obras muito fortes, visando arrombar a porta da cena. Com uma visão profissional muito consistente e obviamente muito talento.
O Rakavi é um excelente espécime desse nordeste capaz de absorver e reenviar com muita originalidade a cultura hip hop, produzindo sonoridades e ideias. Eles estão com o disco Origens na praça e se eu fosse você corria atrás!
Produção: Alive Beats
Mix/Master: Alive Records
Filmagem/Edição: Alive Records