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Lester Bangs, Relatos

Psicografando Lester Bangs

Lester Bangs foi uma mente contraditória. Um registro do espaço/tempo que queria ser tudo com o mesmo desespero de um Junkie que não quer nada, apenas sua dose. Com seu notório conteúdo linguístico, sempre era hora de delírios filosóficos, insights de ficção científica ao som do Funk do Trapeze, experimentações tarja preta com os clássicos de Burroughs e detalhes étnicos-econômicos.
Escrever nunca foi um ato insólito para este cidadão que viveu nas sombras do mundo depois de uma mal calculada overdose de quitutes farmacêuticos. As conexões gramaticais eram feitas em hiperlink quando o computador nem sonhava em existir.
O texto deste ácido senhor era um campo minado. Cada linha era valorizada e o americano marcou, justamente por gerar todos seus caracteres com a mesma importância. Não existiam cortes, trechos desnecessários ou sem significado, sua literatura era fina também por isso, a malha de fatos era codependente.
Sua opinião era um como um forte armado, surgia impondo respeito e desqualificando músicos que no fim do dia eram apenas pessoas comuns. Sua intolerância era o que igualava o ser social e o músico, que na sua frente, não era um deus grego e sim um mero imbecil por muitas das vezes.
Acredito que em termos práticos o texano foi kamikase demais, só que essa coragem rebelde foi necessária. O posto de crítico sempre teve essa imagem sem credibilidade, algo que numa geração repleta de mimimi e completamente construída dentro de ideias politicamente corretas (mesmo com pessoas completamente racistas e individualistas), recicla mentes sem senso crítico como se fosse normal, algo que Lester jamais nutriu.
As drogas foram um combustível para revelar a verdade. A paixão de se sentar e espancar a máquina era um ato sagrado. Chapado ou não suas conclusões eram sóbrias e isso incomodava os conservadores que viviam de brisas terrenas. O freelancer nunca teve medo de criar algo seu, fugir da chuva no molhado e ser reconhecido por isso, algo que infelizmente não aconteceu da maneira que merecia.

O Messias das críticas escreveu nos principais polos sonoros e viu os nomes mais importantes de vários movimentos relevantes dentro do ramo musical. Só que apesar de tanto know how, no fim do texto a bibliografia chegava com um soco na boca do status quo.
Se o mundo tivesse mais Lester Bangs, acredito que todo o ramo de escritos seria mais pulsante. Quando passamos os olhos por um texto desse cara nós sabemos que ele estava vivo e, por mais estúpido que isso possa parecer, é justamente esse fator que diferencia um ser com sangue quente de um corpo que escreve como se a mente já estivesse fazendo hora extra neste plano cósmico.
É triste ver ideias sem feeling, teses sem essência e improvisos poéticos sem a tenacidade de um cara que escrevia como se o conjunto de caracteres fosse um solo de guitarra. Sua lirica era como o juizo final, simplesmente sabia diferenciar uma remessa diluída de um som que era verdadeiro.

Algo que mudasse nossa percepção, alterando primeiro a sua para aí sim procurar meios de chegar até a do próprio Talking Bluesman. Não gostou? Foda-se! A ideia é não ter medo de sentir, é tudo tão explicável como um solo do Ginger Barker.

Os Beats corromperam o meio de Rosseau, Lester foi mais um que queria ir além das linhas, sua ascenção foi como um pico, a queda como uma crise de abstinência, mas ele não foi pra cruz e foi capaz de desfrutar das insanidades cotidianas em todas as páscoas, mesmo dividindo os holofotes com os 33 anos de Cristo.

A escritar é um vetor realista, o americano sabia disso, mas não queria traçar linhas fixas, seu caminho partiu de um ponto estável, só que as justificativas caminhavam sem destino. Bêbadas como um gambá. Era tudo parte de uma contraversão espiritual com os vinis da IMPULSE! & a força de 10 Dalai Lama’s.

Rolling Stone, Creem, NME, Village Voice… Os mullets de Bangs eram undergrounds antes mesmo do termo existir. Heavy Metal antes mesmo do Sabbath sentar na janela do bonde e delirantes como um vinil rodopiando em seu próprio eixo. Hoje não temos mais reflexão quando falamos sobre música, hoje as letras surgem automáticas, parece uma mensagem padrão do maldito aparalho celular que tira o mundo de órbita e nos faz viver onde não existe teia de relação humana.

Vai entender toda essa merda! Pois Lester entendia! ele não só entendia como vivia isso, sua vida foi um combate aos caras que existiam em preto e branco quando tudo já estava psicodélico. A tarefa de qualquer conteúdo é procurar o pré-sal da informação, levar o leitor até o inferno e depois trazê-lo de volta.

O transgressor Leslie Conway Bangs viveu isso. Ele não habita o globo ha mais de 33 anos e não possui o respeito que deveria, mas quem o carrega de forma merecida? O cara está apenas tomando uns drinks no inferno para passar o tempo, o purgatório é um ótimo remédio quando habitamos o mesmo mundo do Coldplay.

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