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Por Um Nordeste Forte, Guerra Ainda Não Acabou…

Por Um Nordeste Forte, Guerra Ainda Não Acabou… Muito pelo contrário, o mercado eleva alguns ao estrelato, e coloca centenas na geladeira!!

 

Quando falamos em centenas na geladeira, não é uma força de expressão, é que realmente o rap como expressão da força de uma juventude negra e periférica, encontra centenas de excelentes iniciativas no nordeste brasileiro. Restando no entanto, para essas centenas de iniciativas, uma barreira imensa para conseguir sobreviver com sua arte.

Enquanto mercado musical, o rap nacional depois do estouro de Sulicídio começou timidamente a incorporar outros atores de fora do eixo Rio-São Paulo. E obviamente isso é bom e é uma conquista que hoje já meio que se tornou ponto pacífico.

No entanto, é importante ter em mente que não é possível dentro da industria cultural termos centenas de astros ao mesmo tempo, principalmente aqui no Brasil que ainda tem sérios problemas para absolver o rap. Mas sobretudo, porque a história de que existe espaço para todo mundo, é uma contradição em termos, afinal vivemos sob o capitalismo, e a competição e a exploração são motores intrínsecos ao sistema. Ora, dentro de uma competição sempre teremos perdedores. 

Ao mesmo tempo, o mainstream da música brasileira, vem se apropriando do rap e pasteurizando seu conteúdo, porque sim, podemos trazer o rap pra junto de nós, mas só se tiver um violãozinho e um cajón ou se a “sauna hype do Caetano aprovar”. Ora, o mercado mainstream consegue absolver qualquer coisa mas no caso do rap no Brasil, sempre esvaziando-o quanto mais o eleva para o topo, geralmente “Gadulizando” mc’s como rimou com maestria, o mestre Don L.

O fato do próprio Don L ser considerado um dos melhores mc’s de todos os tempos e não ter feito uma turnê nacional de peso com seu último disco Roteiro para Ainouz Vol. 3 (2017), deveria ser já uma evidência disso que aqui abordamos. Do mesmo modo, Nego Gallo, que recentemente lançou uma pedrada com Veterano (2019), e vem aparecendo em diversos veículos de mídia do pais inteiro, ainda pelo que nos consta, não está em turnê nacional divulgando sua música.

Em 2016 pré Sulicidio, lançamos aqui uma reflexão sobre a necessidade das cenas locais do nordeste brasileiro, criarem um mercado interno capaz de absorver o máximo da produção regional. Não se trata de reivindicar qualquer espécie de regionalismo, que de resto é uma construção um tanto quanto artificial. Mas sim, de pensarmos o local e a região em que vivemos, em suas particularidades, nas suas possibilidades.

Aqui no nordeste nós temos marcas de roupa por exemplo, voltadas para a cultura hip hop e ou a um lifestyle rua, A exemplo dos pioneiros piauienses Mucambo Nuspano, as soteropolitanas Arte Bastarda e Freemode, que deveriam ser megastores e vestir geral, e assim alimentar um mercado de vestuário que poderia investir mais nas cenas locais. Sempre me perguntei por exemplo, porque nunca houve um desfile com coleções dentro de festivais de hip hop, de ordem local ou regional.

Somos uma região de dimensões continentais, e certamente turnês regionais seriam mais fáceis de organizar. Será possível que uma rede de produtores e coletivos não consigam colocar de 500 a mil pessoas em cada capital agora, numa turnês pelas capitais nordestinas. Com o apoio das midias independentes locais? Não se trata de jogar pedra em quem alcançou nível nacional, ou de achar que outros não podem, mas de entender como tem funcionado o jogo, como funciona a relação entre a industria cultural e o rap no Brasil.

E principalmente quanto tempo mais levará para termos outro artista da região explodindo em cadeia nacional, ou melhor ainda, se voltaremos a ter. Vão aqui abaixo alguns bons exemplos, de como existe uma riqueza proeminente de expressões locais por todo o nordeste, que precisa ser melhor aproveitada. O fortalecimento das cenas locais, levaria em grande medida a um inevitável fortalecimento regional, apoie o rap da sua cidade, escute os manos de seu estado, curta preferencialmente rappers nordestino, minas e manos. 

Trapzeira direto de Fortal, Doiston vem apresentando trabalhos sólidos, a exemplo do EP lançado no ano passado Filosofia do Crush (2018). O mano já chega pesado em 2019 apresentando o single Deuses Negros com a parceria do veterano Nego Gallo,(Que lançou um puta disco esse ano), num audiovisual bem bacana. As filmagens ficaram por conta de Artur Luz e Txai Nunes, e você precisa ver isso.

Vindo do interior de Cruz das Almas na Bahia, Dois As aka Rato Nato nos chegou com os feirenses do Sincronia Primordial, após sua saída do grupo, iniciou sua carreira solo, e de lá pra cá vem soltando muitos singles de evidente qualidade (saca o canal do mano). Na condição de lobo solitário, soltou o clipe de “Chuva de Tinta”, com beat de Leo, e as imagens de  Iury Tailan. Saca aí e assina o canal dele no youtube. 

Membro do grupo Cuzcuz Clan de Pernambuco, o mano Tai Mc é um exemplo magnífico do que falei acima, o Mc já possui uma história muito sólida no cenário pernambucano, mas não só, pois já representou duas vezes o seu estado no Duelo Nacional de Mc’s em BH. Em menos de dois meses Tai já lançou três excelentes trabalhos, abrindo os trabalhos com os dois singles “Quebrei os Dentes de Algum Youtuber” e “Freeverse do Ano de Guerra“. Chegou agora com outro peso em “Cobra Criada“, num trap do Sativo Beats e num audiovisual da Marques Audiovisual. 

Como eu não conheci isso antes? Enfim, acredito que muitos de vocês também não, então, a hora é agora. 

Uma das boas revelações que a cena de Salvador vem produzindo nos últimos anos, Áurea Maria aka Áurea Semiséria, é dona não apenas de boas rimas e de um flow seguro, ela também é dona de um vozeirão de verdade. Depois do lançamento do bastante elogiado EP de estréia Roxo GG (2017), lançamento que a fez ser conhecida e começar a tocar fora do estado, Áurea atravessou um sério problema de saúde. Recuperada, ela começa o ano lançando “Autoestima em Versos“, num clipe produzido por @edvaldoraw, e em cima de um beat de André LA. Flagra aí!

Em 2016, fizemos em parceria com Tarcísio Galvão aka Teagacê, um Dossiê do Rap Potiguar, apresentando um pouco da história da cena local e alguns bons artistas. Passados pouco mais de dois anos e alguns meses, eis que Teagacê nos apresenta outro bom valor local, e vem na ponga. Frente Fria, é um daqueles grupos que se formam em batalhas, formado por Noise, Playmobil, JV, Alb, Theo e LV, os caras soltaram um EP chamado Hipotermia e depois de uma sequência de singles, estão preparando seu primeito disco. Em “Macau“, um trap cortesia do Bremer, os caras chegam num audiovisual produzido pela KaliYugaMob, junto ao Teagacê, que esse ano vai dar muito o que falar. Bota o capacete. 

 

 

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