O projeto Jam no Mam sobrevive há décadas em Salvador, amanhã, 02 de maio, enfrenta a dor de ser interrompido mais uma vez por falta de patrocínio.
Vim de Ponte Nova para Salvador em 2000. Eufórico por conhecer o clima musical da cidade saí à caça de informações sobre eventos musicais tão logo consegui me familiarizar com a geografia local. Alguém comentou (não me lembro bem quem) a respeito de uma jam session gratuita, ou muito barata, que acontecia num lugar chamado Solar do Unhão. Naquela ocasião eu estava completamente quebrado e o fato de ser baixo – ou zero – o custo para assistir as apresentações me levou a pé do Barbalho até o Solar do Unhão pra conferir aquilo tudo de bem perto.
Foi fantástico aquele primeiro momento! Como sou fissurado em jazz passei a bater ponto por lá todos os sábados. Lembro que o projeto foi interrompido e logo depois transferido para outro local, no caso o Goethe Institut, que aqui em Salvador fica localizado no bairro Corredor da Vitória. Não sei quanto tempo o projeto ficou por lá, mas foi durante um período considerável.
Anos depois houve outra interrupção e o projeto ficou suspenso durante um tempo. Em 2007 voltou ao Solar do Unhão agora com o nome JAM no MAM. Anteriormente os músicos ficavam de frente pra igreja, agora o palco passou a ser no estacionamento, que diga-se de passagem tem uma vista maravilhosa da Baia de Todos os Santos. As pessoas foram conquistadas por mais esse ingrediente.
Vivi momentos incríveis nas jams! Conheci músicos fantásticos dos quais nunca ouvira falar, tanto os que se apresentam frequentemente, quanto os que estavam apenas de passagem pela cidade e por lá apareciam para dar uma canja. Isso sempre acontece na jam e é uma de suas características mais positivas. Os caras realmente levam a sério o lance daquele ser um momento de interação dos músicos.
Como em seus primórdios no final dos anos 30 e início dos 40 quando os músicos das big bands se reuniam em algum lugar depois de suas apresentações oficiais pra tocar as músicas que realmente tinham interesse em tocar.
A JAM no MAM é esse lugar onde os músicos de Salvador, ou que nela estão de passagem, podem interagir, relaxar e se divertir. Foi lá que conheci o Grupo Garagem, Latieres Leite, Gabi Guedes, Dom Lula Nascimento, Mou Brasil, só pra ficar nos que a memória me permite lembrar no momento. Se tivesse mais tempo lembraria muitos outros nomes.
Essa vida longa das jams aos sábados deve-se muito pela luta dos músicos, principalmente do baterista e hoje diretor artístico do projeto JAM no MAM Ivan Huol. Desde 1993 à frente das jams Ivan, junto com demais músicos e apoiadores culturais, batalharam constantemente para que os shows continuassem. Eles sempre conseguiram manter o projeto de pé apesar das dificuldades e mais uma vez terão um novo desafio pela frente.
O começo modesto aos poucos foi se transformando graças ao sucesso dos encontros. Hoje a estrutura por trás das jams é muito grande, exigindo maiores investimentos.
Infelizmente amanhã, 02 de maio, teremos uma interrupção das apresentações por falta de patrocínio. Temos diante de nós mais uma situação daquelas difíceis de entender. Como um projeto consolidado, já tradicional na cidade, que leva cerca de mil e quinhentas pessoas por sábado ao MAM pode ficar sem patrocínio?!
Na última jam no dia 25 de abril deu pra sentir que a coisa era séria. Na fila vinha uma funcionária solicitar aos interessados pagar R$ 20,00 pelo ingresso. Claro que antes do pedido vinha a justificativa, a possibilidade de acabar o projeto por falta de patrocínio. No meio da apresentação a produtora artística do evento Cacilda Póvoas se dirigiu ao público para informar a situação tal como fora feito pelas funcionárias que vendiam ingressos na fila.
Para quem conhece o projeto, sabe da sua relevância, da sua qualidade e principalmente da sua constância, certamente esperavam que Ivan Huol daria um jeito. Não foi o que ocorreu e a JAM no MAM fará uma pausa, esperamos que breve.
No site do projeto JAM no MAM Huol fala sobre o projeto.