Pinturas Rupestres É Um EP Com Dois Pés No Futuro!

Pinturas Rupestres propõem uma poesia que não se prende a tempos e batidas, mas que encontram sua razão de ser na mais pura subversão lirica

Pinturas Rupestres Capa

Hype é a promoção extrema de uma pessoa, ideia, produto. É o assunto que está “dando o que falar” ou algo que todos falam e comentam. Geralmente é algo passageiro, como o assunto da moda. A palavra deriva de hipérbole, figura de linguagem que representa o exagero de algo ou uma estratégia para enfatizar alguma coisa.”

 

Muito se falou e ainda muito se falará do D.D.H. (Direto Do Hospício), a junção entre Mobb e Baco que lançaram – com exclusividade – aqui mesmo neste sitio, seu primeiro disco. No entanto, o que poucos sabiam, ou buscaram saber, era de onde vinham esses dois loucos. Quais antecedentes que os levaram a internação e a consequente união, para a formação da dupla? Pois, os dois já possuíam trabalhos e é na Demotape (2015) do Mobb que talvez esteja o ponto focal de onde gostaríamos de partir aqui.

Ali, já nos surpreendíamos pela inventividade temática, chamava-nos a atenção o apuro conceitual, a diversidade de referências, a busca de encaixe do flow em beats diferentes dos que normalmente escutamos. Head-B, Drunk Sinatra e Nagô Beats já estavam por lá, sendo as caras metades desta pequena obra que negava já ali, qualquer noção de hype. Para começar a trilhar com suas qualidades inegaveis, um caminho que esse Pinturas Rupestres continua. Ali, com certeza Mobb já poderia ter alcançado a mesma repercussão que as cenas dos próximos capítulos nos levaram a ver.

O fato é que em bem pouco tempo o talento de Mobb vem se afirmando e se expandindo. Dando-nos aquela sensação de estarmos acompanhando o desenvolvimento de um ator que em breve começará – já começou? – a ditar o nível da cena. Sua poesia se mostra complexa nos encaixes imagéticos de que dispõem, embrulhada em humor caustico, sem perder contudo a contundência nas linhas engajadas. Tudo isso desfilando numa atmosfera punk lisérgica.  

Esse processo mal resumido acima desaguou agora em seu primeiro EP, Pinturas Rupestres (2016) e as expectativas que alguém poderia ter criado tendo-o acompanhado foram a nosso ver plenamente satisfeitas. Mobb nos entrega uma pequena obra que por um lado afirmam seu estilo fragmentário capaz de rimar em beats e velocidades distintas e por outro, a força de suas letras alucinatórias com uma politica que transcende as narrativas mais convencionais.

De Hendrix a Jards Macalé, da Bahia até o Distrito Federal, passando por Aracaju, a pegada é parecida a do Reaja ou Será Morto. E o revide que Mobb nos apresenta é um emaranhado de palavras e sons, gravados em pedra, Pinturas Rupestres através dos ouvidos para nos levar a sujeira das grandes metropoles retirando daí sua matéria prima, como bom poeta.

Sinceramente, a nossa intenção ao resenhar um disco é sempre mandar um faixa a faixa, porém utilizarei de uma prudência da qual não gosto. E simplesmente mencionarei que o Ep conta com participações de Galf A.C. (BA), Saulo Darthayan (SE), Saho (BA), Rafael Pereira (DF) e 16 Beats (BA), que aos seus modos trazem linhas muito fortes em cada faixa onde atuam.

Não farei um faixa a faixa pois o texto ficaria gigante, dado a quantidade de ideias que me atormentam a cada faixa, seja pelos beats loucos de HeadB, Nagô Beats, Hansô, Mangue, Douglas de Paula e Scooby e suas atmosferas construídas de modo singular. Espaços alucinatórios por onde os mc’s e o mc desfilam suas poesias, de climas orientais até trap loucos, como no caso das duas produções do Han$o. Seja pelas letras e conceitos trabalhados em todas as nove faixas.

E nem vou falar que existem dois modos de escutar esse disco. Um é você jogar no celular ou no som e curtir e o outro é você ouvir e assistir pelo youtube, e aí meus amigos, com aqueles videozinhos toscos, as percepções e associações possíveis são infinitas. V de Vingança mesclado com videos de celular onde o Seen aparece grafitando, prensado com cenas de animes. Em tempos onde as grandes produções començam a abundar o Rap nacional é deliciosamente subversivo ver o que Mobb pode fazer com ideias e edições simples de imagens já conhecidas. DesGRAçA. 

O melhor mesmo é você se ligar e ouvir essa pedrada sensacional que o menino largou:

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