Pete Shelley Obrigado por tudo!

Pete Shelley, sua partida desse plano físico não nos impedirá de seguirmos daqui, com toda sua fúria melodiosa juvenil em nossos corações!!!

'Metro Weekender' Music Festival, Clapham Common, London, Britain - 27 Aug 2006

Ainda sentindo os efeitos do show de Morrissey na minha memória, ouvindo Alma Matters pela milionésima vez – ao vivo é bem mais poderosa – recebo a notícia, rolando as páginas do UOL na minha solidão temporária, da morte de Pete Shelley dos Buzzcocks. Pausa. Lembro-me da única pessoa do meu círculo pessoal que realmente saberá o quanto me impactou tal fato e solto no whatsup o link da notícia. A resposta vem mais ou menos assim: “Só lembrei de você, amigo. Pete é um gênio. Aproveite para desabafar. Escreva algo. Cronista de ocasião. Deixe a preguiça de lado!”. Sou preguiçoso mesmo. Ele tem razão. 

A procura e o encontro com todas aquelas maravilhas da música que eu lia na revista Bizz no final dos anos 1980, começo dos 1990, era literalmente “osso”. Amar o rock em Salvador, Bahia, era simplesmente desanimador. Você rodava o dial das rádios e era axé, pop mofado e mpb de barzinho sem piedade. Sei, não mudou muito, mas a caçada inglória aos seus desejos mais ordinários era revestida de desafios que a juventude atual não faz ideia.

Os Buzzcocks, entre outros desejos, só foram a mim materializados pelo amor de Adson e Edson, na distante loja de música Sound + Vision escondida em um bairro classe média de Salvador. Para os pobretas de plantão – eu, neste caso – eles diziam ao chegar os cds importados por encomenda: “Te gravo o cd na fita cassete antes do dono aparecer. De preferência, dê uma olhada logo aqui na lista do que vai chegar e já vai escolhendo os discos, deixe as fitas virgens que facilita pra gente. Passa daqui a alguns uns dias para ver o que consegui gravar”.

Eles cobravam uma merreca para fazer isso. Como eu juntava a grana que podia para comprar as fitas primeiro e largar lá para gravar – pagar a gravação era uma ansiedade posterior -, o objetivo era fazer a coleção mais ampla possível daquela Vahalla musical antes inalcançável.

O excelente The Peel Sessions do Buzzcocks veio em uma dessas levas. E hoje, após a triste notícia da morte de Pete, vejo que aquele disco mostra a efetiva importância de Pete para potência melódica referencial que virou a banda. “Fast Cars”, “Noise Annoys”, “What Do I Get?”, “Promisses”, “Sixteen Again”, “E.S.P.” e a explosiva “I Don´t Know What to Do With My Life” me deixaram de tímpano felizmente doído por um bom tempo (essas e outras pérolas aqui).

Muitas pilhas de walkman foram pro lixo eterno para eu ouvir aquelas canções cantadas, em sua maioria, em um delicioso falsete fanho que minha esposa esculhamba dizendo que cantor de rock não tem voz… eu penso que eles só não podem ser mudos. O resto tá liberado! -, algumas explodindo em um punk melódico, outras já apontando o pós-punk e talvez a new wave. Não importa o rótulo. São, na sua grande maioria, ótimas canções! A alta qualidade da gravação ressalta a coesão da banda e que no momento “ao vivo” é que a banda prova seu tamanho e competência. Shelley e Devoto – sorry Diggle você não entrou no panteão apesar de sua contribuição em “Fast Cars” – provam isso na Peel Session.

As músicas foram gravadas em sessões entre 1977 e 1979 onde estão os albúns essenciais da banda que Pete conduziu de maneira primorosa. Depois disso foram idas e vindas onde a retomada efetiva aconteceu quase vinte anos após a primeira aposentadoria e que não teve aquela receptividade dos saudosos. Confesso que comprei e ouvi o albúm de 2003 e não gostei. Voltei para meu casulo chamado 1977-1978.

 Pete, obrigado! Ainda o ouço com frequência. Não para tirar onda e posar de “cult”, mas para que aquela fúria juvenil que você escreveu e musicou volte a me envolver de tempos em tempos. Sinto essa necessidade nostálgica e não a renego. Seguir indo e voltando no pequeno tempo no qual fomos contemporâneos que foram marcados pelo respeito e amor infelizmente distantes em alguns aspectos e também muito, muito próximos em muitos outros.

Falei após o final do show de Morrissey que assistir Neil Young seria um dos meus novos desejos para realizar nos próximos anos. Desculpe-me. Esqueci de você. Perdoe-me e entenda que tal lapso não deve comprometer o orgulho e a reverência em conhecer seu trabalho e, quem sabe, era te ver, agora não mais, aos sessenta e poucos anos esporrar aquela fúria juvenil, doce e incompreendida em todos nós.

Por Alexandre Reis

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