Ouça o que diz o Rasta!

Conversamos com O Rasta, Prince Áddamo, sobre seu novo projeto musical, o Ep Original Camacã.

Ser músico independente garante liberdade irrestrita em termos de composição e construção tanto da carreira, quanto dos projetos dos artistas. Contudo gera problema indelével, a necessidade de obter os recursos financeiros para concretizar projetos e satisfazer, concomitantemente, as necessidades materiais da vida. 

Prince Áddamo lançou recentemente uma campanha de financiamento coletivo através da plataforma de crowdfunding Kickante. O objetivo é captar os recursos necessários para a gravação e produção de seu novo trabalho, o EP Original Camacã. Essa expressão compõe a identidade artística de Prince, mostrando a forte ligação existente entre o músico e sua terra, a cidade de Camacã, localizada ao sul da Bahia. 

Acolhido por Salvado desde 2009, Prince atua na cena musical baiana como arranjador, cantor, guitarrista e compositor, sempre na correria fomentando seu trabalho, ampliando seus limites de atuação. No transcorrer desse processo constante, parcerias foram estabelecidas com os mais diversos artistas de diferentes estilos musicais. Graças ao seu jeito simples e acolhedor, pautado na construção coletiva, Prince conquistou o respeito e admiração de todos com quem trabalha e trabalhou.

Isso reflete no som que faz e está presente no projeto de Original Camacã. Prince tem a colaboração de inúmeros músicos, companheiros na luta diária por ganhar a vida fazendo música. Nessa entrevista Prince fala sobre as parcerias estabelecidas nesse projeto, os planos ligados ao processo de criação do Ep, as expectativas diante do desafio de botar nas ruas, palcos e plataformas digitais a força do Original Camacã. 

Se liguem no que diz O Rasta. 

 

Carlim (Oganpazan): Seu novo projeto musical recebeu o nome de ‘Original Camacã’, frase sempre usada como referência para o seu som. Podemos dizer que, de alguma maneira, ela representa a sua identidade musical? 

Prince Addamo: Quando digo Original Camacã afirmo e exalto a  base que me preparou pra encarar a vida em Salvador. Lembro que Gil, Caetano, Edson, Ivete, Serginho do Adão são do interior e o mundo conhece esses artistas. Vejo a potência que Salvador se tornou ao receber esses artistas, dando aos mesmos uma grande aula de diversidade e oportunidade de grandes encontros. Salvador pulsa música, isso causa uma grande fervura em quem chega aqui querendo mostrar sua arte. Original Camacã é uma expressão que convida as pessoas a conhecer o sul da Bahia, a história dos índios Camacã, a Mata Atlântica, o cacau, as roças, as pessoas humildes… tudo isso influência na construção da minha identidade.

Carlim (Oganpazan): De que maneira o tempo em que viveu em Camacã, permitindo assim a construção de sua identidade cultural e regional, influencia e aparece em sua música?

Prince Addamo: Quando eu digo ” ter uma vida simples, não é sinônimo de pobreza “, lembro dos senhores de idade tocando violão, se divertindo em casas de tábua, fazendo blues com copo de vidro entre os dedos. Aquilo pra mim era mágico, ver gente tão simples fazendo música com tanta alegria e verdade. A visão do que acontece ao meu redor é o que me faz compor de uma forma direta. Minha infância e juventude foi muito proveitosa. Tocava na igreja, fazia paródias no colégio, formei  banda de reggae. Tudo isso aparece na minha música, só que agora de forma mais madura com a vivência em Salvador.

Carlim (Oganpazan): Seu primeiro registro saiu em 2014, o álbum Viva o Natural. O arco de temas abordados pelas letras é bem amplo. Há crítica social, canções de amor, a relação com a música … Acredito que isso mostra que sua relação com a música vai muito além de satisfazer exigências de mercado e ter no sucesso o foco principal ao compor suas canções. Gostaria que você falasse sobre sua relação com a música a partir do primeiro desafio imposto pela gravação de seu primeiro álbum.

 Prince Addamo: Man, eu acredito que a música tem o tempo dela, se estamos prontos pro abraço, ela abraça. Essa coisa de mercado, tendência, de movimento criado por banda tal, muitas vezes faz o artista pensar se ele tá no caminho certo pra alcançar seus objetivos. Isso acaba pressionando um pouco o artista, mas quem acredita no que faz, segue a caminhada. Quando eu gravei Viva o Natural, eu respeitei todas as minhas influências, arranjei, compus, dirigi, e senti que minha relação com a música tava ficando cada vez mais forte, sem pensar em agradar, mas com a responsabilidade de fazer um disco bem feito e que dissesse algo relevante para as pessoas. 

Carlim (Oganpazan): Influência Nefasta faz parte do Viva o Natural e é uma música que seduz de imediato pela atmosfera que ela cria, pela melodia e letra, que são extremamente ricas em vibração e imagens, estabelecendo uma conexão imediata com o ouvinte, comunicando ideias… O que essa música em particular representa pra você na sua trajetória até aqui?

Prince Addámo: Influência Nefasta representa meu lugar no reggae, é meu recado pro mundo, é aquela canção que simplesmente flui. Certa vez uma moça de São Paulo me relatou que um amigo desistiu de tirar a própria vida depois que ouviu essa música. Isso me tocou profundamente. Assim como todo o álbum, essa música não teve nenhum investimento de divulgação, ela se espalhou pelas redes sociais e acredito que pode se espalhar mais ainda. Ela foi composta em meia hora, por mim e por Zezão Castro num fim de tarde. Acho que Influência Nefasta pode se tornar um clássico do reggae baiano.

Carlim (Oganpazan): Em termos de sonoridade e temática, o que há de diferente em Original Camacã se comparado aos seus trabalhos anteriores?

Prince Addamo:  O Ep Original Camacã tem mais abertura, os temas continuam amplos nas letras, porém, as pesquisas nas vertentes do reggae se revelam mais fortes. Jodil Sobral é o principal parceiro de composições nesse trabalho, e todas as vezes que nos falamos, falamos de arranjos, do formato que as músicas podem ter, e etc. Nesse projeto, Israel Lima assina comigo a produção musical. As linhas de baixo estão por conta dele, juntamente com a gravação das faixas. Fizemos algumas prés, e traçamos o caminho de cada música. Alguns arranjos de sopro já estão prontos, e se juntarão aos arranjos de João Teoria e Vinícius Freitas. Isso se deve a parceria que tivemos no single Gente Maldosa, lançado no começo do ano. A fidelidade dos timbres, as texturas, a sonoridade que queremos chegar, serão resultado desse grande encontro de músicos. Fazer música pro mundo, dialogando, aplicando o que aprendemos a cada dia nessa cidade, tocar nossas experiências.  Essa será minha forma de agradecer a SSA por me receber e me oferecer todas as ferramentas que precisava pra estabelecer meu caminho na música, durante esses  10 anos que aqui estou.

Carlim (Oganpazan): O projeto por trás do Original Camacã é mais ousado em termos técnicos, ligados a produção e gravação do que o projeto de Viva o Natural?

Prince Addámo: Man, eu acredito que temos tudo pra gravar um grande Ep. De Viva o Natural pra cá, muita coisa boa surgiu. Arranjos, composições, tudo evoluindo com a vontade de fazer um trabalho que mostre identidade e amadurecimento. Trabalhar com grandes músicos é a vontade de qualquer artista. Com Sidnei e Israel, é certo que o groove vai bater. Um naipe com João Teoria e Vinícius Freitas é uma pérola sonora que por onde passa, emociona e balança qualquer pessoa. Explorar as vertentes do reggae sem medo, abre caminho pra nossa musica dialogar com o mundo. Uma coisa que sempre acontece em nossas apresentações, é o dub wise. Queremos gravar as bases ao vivo e poder registrar o que fazemos nos shows. Particularmente, não curto muito essa onda de edição, valorizo a execução dos músicos, gosto de ter cuidado na escolha dos timbres. Israel, que é um técnico super competente, é muito cuidadoso com a captação, e alia isso à uma boa execução na hora de gravar. Original Camacã tem dendê baiano, com riddim jamaicano.

Carlim (Oganpazan): A captação de recursos para gravação e produção do Ep está sendo feita através de financiamento coletivo (crowdfunding). Quais os motivos levaram a optar por esse método? Porque não foi possível realizar o projeto como feito com Viva o Natural?

Prince Addámo: Esse método está sendo usado por muitos artistas, de vários seguimentos. É uma forma de estar mais próximo dos admiradores do trabalho. Eu sou correria e também acredito no coletivo. Nesse momento em que a cultura está sendo bombardeada, é necessário se fortalecer em uma corrente forte. Cada apoio recebido é entendido por mim como um manifesto de liberdade, sinto que as pessoas querem ouvir o que diz o rasta mais uma vez. Na época do Viva o Natural, eu tinha feito uns shows pelo interior, daí juntei uma grana, contei com a colaboração dos músicos, pagando a moçada de forma bem modesta. Foi na batalha mesmo. Espero conseguir o apoio da galera. Queremos muito gravar esse Ep.

Clique aqui e conheça melhor a Campanha de Financiamento Coletivo para gravação do Ep Oringinal Camacã e saiba como contribuir para a realização desse projeto. 

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