Elder: peso e prog para tirar o Rock do lugar comum

Resenha do terceiro disco de estúdio do Elder, grupo de Sludge/Doom americano dono de um som que mescla o peso com o Prog de forma eloquente.

A música pesada é uma ramificação que sofre de estigmas muito retrógrados. É óbvio que desde que o Heavy Metal começou a ideia foi se alterando. Teve um pessoal que acelerou a brisa, outros optaram por deixar mais pesada, alguns fritadores acrescentaram ácido, muitos hardeiros fizeram a cozinha soar mais crua e certas frentes optaram por ideias ocultista, satanistas e ritualísticas.

Dentro de toda essa seara, é notável como alguns grupos migram em busca de sua própria cozinha, se afastando do som das grandes matrizes que ocupam considerável espaço no mainstream. O que ninguém entende na música é que tudo é absolutamente provisório em termos estéticos e sonoros, tudo muda, e o faz o tempo todo. É um fenômeno que alguns pesquisadores do groove chamam de ”mobilidade sonora”.

Notem que toda quebradeira atinge um ponto de saturação e que por mais louco que parece, isso é ótimo. Além desse movimento provar que existe muita concorrência, várias bandas se mantém em plena mobilidade para  ocupar um lugar único não só no mercado, mas também na cabeça dos ouvintes.

Primeiro é necessário um conceito. Depois que este foi encontrado, o trabalho é iniciado e assimilado disco a disco, misturando vertentes diversas, conseguindo fazer isso de forma homogênea e, finalmente, colocando o DNA da banda em questão de forma pioneira e marcante com algo difícil de encontrar hoje em dia: moderação.

Essa equação foi montada com relativa facilidade, mas é bem óbvio perceber o nível de dificuldade exigido para poder isolar as incógnitas deste teorema. Só que a moral da história é uma só: se alguma instituição sonora consegue colocar tudo que foi dito em prática, a música de maneira geral agradece, e muito, por que a cada novo disco concebido desta forma, o som se expande e cria novos caminhos, conseguindo algo que diferencia uma banda comum de um som realmente inventivo: a capacidade de ser único. Um fator que para colocar em miúdos poderia ser substituído por dois valores:

1) O Power Trio americano Elder.
2) O terceiro disco dos americanos, o competente”Lore”.

Muitos grupos pecam por exagero e excesso de polimento na produção. O maior desafio é conseguir trazer a atmosfera do show ao vivo para o estúdio e na música pesada isso não é diferente, mas definitivamente não é o caso do Elder. Ao vivo ou em estúdio, o grupo norte americano encontrou sua linguagem e vem expandindo o groove de maneira prolífica desde 2011.

Line Up:
Nicholas DiSalvo (bateria/guitarra/vocal/teclado)
Matthew Couto (bateria)
Jack Donovan (baixo)

Track List:
”Compendium”
”Legend”
”Lore”
”Deadweight”
”Spirit At Aphelion”

Se existe uma banda que está aumentando o campo de visão da música pesada hoje em dia, essa banda é o Elder. Esses caras conseguiram chegar em ”Lore” (terceiro disco de estúdio do trio, lançado em 2015), com excelentes referências estilísticas nos dois trabalhos anteriores, passando por um approach mais Stoner com o debutante autointitulado de 2008, misturando a densidade com Doom em ”Dead Roots Stirring” de 201 e concretizando a abordagem neste que é a obra prima dos caras na opinião deste que vos resenha. 

Nesse CD a banda chega com uma proposta que leva todos os pontos citados anteriormente para outro patamar. A única coisa que fica é a abordagem pesada de sempre e um lado Progressivo que faz desse disco o mais rico e inesperado que o combo já produziu. A primeira faixa começa com a habitual base de composição por riffs, sendo que nesse quesito ”Compendium” já dá a tônica desse registro: temas longos e que não são cansativos em momento algum.
O tempo é um detalhe importante, pois os arranjos do Elder promovem passeios musicais muito interessantes e que amarram Doom, Sludge, psicodelia e Rock Progressivo com uma roupagem que é o puro gostinho do underground.  São doze minutos de mapas de calor em ”Legend”, quinze com a mistura de todos os elementos listados na faixa título e, como resultado, um trabalho tão rico que muitos ficam em dúvida se definem o Elder como um grupo instrumental ou não.
Minha única crítica é o volume dos vocais que me pareceram baixos em alguns momentos, com o peso do instrumental, creio que a voz tenha sido abafada, mas não é nada que compromete a experiência do registro. Não tem jeito, o grupo de Massachusetts veio pra ficar, papai. EUA na cena.

Em vários momentos você não sabe para onde o som vai e isso é óbvio, ainda mais num cenário repleto de grupos absolutamente previsíveis.

E o som tem swing… O trio (á época, hoje é um quarteto) mostra um domínio de repertório fantástico, Nicholas DiSalvo segue chefiando guitarra e voz com ares de multi instrumentista, Matthew Couto  se mostrou um marreteiro de feeling maior e Jack Donovan mostrou muita lucidez com a densidade de seus graves.

São praticamente uma hora de disco e cinco suítes ótimas para apreciação, fator que inicialmente pode passar a sensação de um trabalho maçante, o que realmente não é caso e existe muita sensibilidade por parte do grupo para não gravar um disco que soe como um emaranhado de riffs embolados em fuzz.

O Elder deixa claro que a música pode pesar uma tonelada e ainda conter momentos onde o volume perde para o sentimento. Você vê que por trás da distorção existe também muita pesquisa.

O resultado é um compilado que passeia até por influências do Kraut Rock alemão.  Em deadweight e em “Spirit At Aphelion” o grupo mostra sua acentuada capacidade de criar ambientes musicais imersivos.

A introdução de “Deadweight” funciona como uma espécie de interlúdio e o mais interessante em cada uma das faixas é perceber os caminhos de cada composição, conforme as ideias vão se metamorfoseando nos fones. É mais do que só tocar um som pesado, é variar timbres, trazer opções e criar um enredo para justificar as investidas criativas. É importante enaltecer a sensibilidade desses senhores.

E por último porém jamais menos importante, esta arte chapada saiu da mente de Adrian Dexter… Acho que rolou alguma coisa com as camadas de cores, algo que pode demonstrar as várias ramificações da música que o trio misturou nesse disco, todas condensadas num bloco maciço, talvez explorando a unidade do grupo, com improvisação e composição caminhando lado a lado.

Sei lá, pode ter sido apenas  uma brisa aleatória também.

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