Oruã lançou seu mais recente álbum, Passe, em julho de 2024, revelando a criatividade e sensibilidade de Lê Almeida e sua turma!
Conheci a Oruã quando acessei o canal da KEXP (acesse o canal aqui) na esperança de conhecer uma nova banda. O palco da KEXP sempre recebe bandas interessantes, portanto, converte-se num bom veio para garimpar novas bandas. Quis o acaso, naquele momento, que eu me deparasse com a banda carioca.
Abaixo a apresentação da banda no KEXP:
Chamou atenção a suavidade da sonoridade construída pela banda neste álbum. Uma atmosfera de tranquilidade vai se estabelecendo desde o acionamento do botão play. Essa brisa leva o ouvinte a se conectar com as músicas do álbum. Dar uma “envenenada” na percepção pode auxiliar no estabelecimento dessa conexão!
Um elemento que contribui de modo decisivo para o espraiamento do som e sua volatilidade é o sintetizador. João Casares é a mente por trás das texturas sonoras emitidas pelo sintetizador. Essa sensação onírica causada no ouvinte ao ouvir as faixas é muito estimulada pelo modo como João elabora o pano de fundo sonoro de cada música.
Interessante o uso da guitarra por Lê Almeida, sempre buscando as notas certas, que se encaixam nesse arranjo atmosférico das faixas. Essa economia dos sons estabelecida pela Oruã mostra a preocupação da banda aos detalhes, na busca do encaixe, quase que único, de cada elemento sonoro em seu lugar específico. Temos a sensação, em alguns trechos, que uma única nota tocada a mais faria ruir toda arquitetura sonora das faixas! Tamanha é a precisão no uso desses elementos musicais.
Podemos identificar ao longo da execução de Passe, que as referências responsáveis por emprestar suas características estéticas para a Oruã passa pelo krautrock, com suas experiências com sons eletrônicos, noise e reestruturação da música. As referências passam também pelo que se convencionou chamar de rock alternativo, gênero musical também afeito às experimentações sonoras.
Passe foi sendo composto na medida que a banda transitava entre as cidades destinos dos shows de sua turnê na gringa entre 2022 e 2024. Turnê essa possível graças ao convite, em 2019, da Built to Spill paraque Lê Almeida e João Casaes integrar a banda durante sua turnê em terras brasileiras e gringas. Desse convite surgiu a colaboração para o álbum When the Wind Forgets Your Name, lançado pela banda estadunidense em 2022. Essa parceria levou ao impulsionamento da banda na gringa, abrindo portas para apresentações em mais de 15 países.
Não é exagero afirmar que o grande atrativo da banda, e que podemos perceber a presença em Passe, está no modo cuidadoso e sensível como a banda consegue manipular os elementos colhidos das variadas influências sonoras da banda. Sempre se desviando de fórmulas musicais prontas, mirando abordagens originais em suas composições.
Essa originalidade se materializa na sutileza dos vocais de Lê Andrade, as linhas de baixo marcantes e a guitarra vibrante e “ruidosa”, tendo o aporte de efeitos sonoros do sintetizador. Músicas como Real Grandeza e Caboclo sintetizam a “personalidade” do álbum. Isso porque condensa essas características, além de jogar luz em temas políticos e sociais do Brasil atual.
Passe é um álbum que gera links com diferentes gerações musicais ao buscar em diferentes períodos, porém, evitando repetir ou apenas repaginar essas referências em suas composições. Sua música, embora, tenha nessas referências musicais do passado, sua principal matéria-prima, conseguem soar atual, com os dois pés bem apoiados na contemporaneidade.
Nesse sentido, Passe é um álbum que deve ser ouvido por todos e todas interessados em trabalhos originais e impactantes. Neste álbum encontramos compositores preocupados em produzir uma música genuína.
Beijo nocês e atá o próximo texto!
Oruã é:
Lê Almeida: Vocais e Guitarra
João Casaes: sintetizadores
Bigu Medine: baixo
Phill Fernandes: bateria.