Impossível encontrar essa figura e não alongar a conversa. Elvis Kazpa faz parte do time que atualmente produz Hip Hop em Salvador. E como sabemos tentar dar conta dos cinco elementos não é fácil. Mas o cara não se dobra diante do desafio e tem feito acontecer a cena em nossa cidade. Oganpazan colou no último show do Inglês e Síntese e batemos um papo com Elvis após sua apresentação. O resultado foi uma conversa daquelas em que não sentimos o tempo passar.
Em pouco tempo muito assuntos foram abordados, produção, festas (Trap Crew SSA), estilos musicais, estilos de dança (Twerk Battle), são alguns dos temas. Elvis também comentou sobre seus planos de lançamento para esse último semestre de 2015. Enfim, foi muita ideia, leiam e prestigiem esse artista que preza pelo binômio TRABALHO e QUALIDADE.
Oganpazan – Então Elvis, gostaria de começar essa entrevista lhe perguntando sobre uma das suas funções: a de produtor de eventos que vem trazendo nomes importantes do cenário nacional para Salvador. Comente um pouco como isso é importante e dialoga com sua carreira artística.
Elvis Kazpa – Hoje em dia isso para mim virou mais do que uma forma de divulgação artística, quando eu comecei a produzir as festas foi por necessidade mesmo de que tivessem festas na cidade, necessidade de tocar. Hoje já se transformou em algo a mais, virou uma forma de emprego, de movimentar a cena mantendo todo mundo no jogo, podendo fortalecer o caché de alguns irmãos, trazendo grupos de fora. Dessa forma eu ajudo a manter o rap nacional vivo, a cena baiana em constante movimentação e crescendo cada vez mais. Penso que o rap é a bola da vez em termos de música em Salvador, o estilo vem se expandindo bastante e se juntando com outras vertentes musicais, com isso alcançando ainda mais público. A ideia é continuar promovendo as festas que estão sempre cheias e enquanto as três partes – público, artistas e produção – estiverem satisfeitas e for viável vamos continuar a contribuir para manter a cultura viva.
Oganpazan – Outro aspecto interessante das festas que você produz é que além de trazer artistas relevantes de fora de Salvador, você agora começou a abrir espaço para o Twerk (estilo de dança do Hip Hop), como você vê isso com relação a diversidade de expressões, você falava a pouco sobre a importância de fortalecer caché para os artistas, dj, mc’s e agora dançarinas.
Elvis Kazpa – Muita gente pode até vê como ponto negativo, como a gente esta acostumando a encarar dessa forma qualquer dança mais sensual e o Twerk é uma dança sensual. Eu gosto de ver dança sensual, não vou ser hipócrita e dizer que eu não gosto. Agora eu gosto mais ainda quando se tem um respeito pela pessoa que esta dançando ali saca irmão? E é isso que as meninas querem, nossa festa esta abrindo esse espaço, é uma festa onde elas vão dançar e ninguém vai mexer com elas, ninguém vai fazer nada que elas não gostem. E elas vão continuar sendo sensuais, nós vamos educar o público para saber apreciar a arte delas, pois muitas vezes em um evento, a mulher esta dançando e o cara quer chegar atrás da mulher e se esfregar. E na maioria das vezes ela não convidou aquele homem para dançar com ela. É muito importante saber diferenciar uma mulher dançando sensualmente dela estar se insinuando, se oferecendo para um homem, como muitos machistas pensam. E eu penso que independente do estilo da dança isso não diminui nenhum ser, não vai ser a dança que vai diminuir um ser humano.
O que você é por dentro é mais importante, e nosso espaço esta aí, fizemos a Trap Crew com a primeira batalha de Twerk da Bahia e ficamos muito satisfeitos com o resultado, em estar proporcionando essa oportunidade profissional para as meninas, pois essa exposição pode abrir um primeiro passo para suas carreiras, pois são excelentes dançarinas e logo mais elas podem estar aparecendo por ai em clipes e em outras apresentações. Hoje faz uma semana desde a batalha e elas estão aqui na festa sendo vistas como artistas, que elas são, e é isso que elas merecem, respeito com sua arte.
Oganpazan – Eu tenho notado que o Trap é uma vertente do rap que você tem privilegiado muito em seu trabalho, vi isso hoje nas músicas novas que não estão no seu primeiro disco. Fale um pouco para os nossos leitores como você vê essa emergência do Trap na sua música e de modo geral na cultura hip-hop.
Elvis Kazpa – O Trap também é minha música hoje em dia. E o Trap nada mais é do que o Rap, sempre foi o rap, Cultura de Rua, Vivência, ritmo e poesia. Porém as músicas mais pesadas com um bumbo 808, frequência de sub- grave do som com um simbal acelerado e alguns elementos que vieram da música eletrônica que se juntaram a música rap. Talvez essas sejam algumas das grandes características e diferenciais do Trap. Eu gosto muito por essa questão de ser pesado, pelo agito que proporciona e já percebi que o compasso do Trap é igual ao do pagode baiano e do funk carioca e até de alguns reggaes e acredito que a Bahia se identifica muito por conta disso. Fica fácil da galera daqui gostar, inclusive o sucesso do meu single do último disco bate certo por conta disso. Rola uma identificação muito grande quando eu toco essa música minha e a galera canta junto e agita muito. Pretendo continuar produzindo nessa linha, tem uma música nova para uma mixtape do Essiele que é um Mc do Rio de Janeiro e que vai gravar com alguns outros Mc’s da Bahia e que por saber que eu me identifico com esse estilo já separou um beat Trap onde vamos escrever juntos uma música. E já tá virando característica de muitos mc’s daqui.
Pois como eu disse, nada mais é do que o rap e casa muito bem com a nossa voz, rola uma excelente combinação e acho totalmente válido continuarmos.
Oganpazan – Existe sobre o Trap algumas acusações de que seja apenas uma moda passageira e que de certa forma aja uma diluição da mensagem, hoje eu notei em suas músicas novas, o mesmo conteúdo de contestação e de luta por igualdade, como você vê essas criticas?
Elvis Kazpa – Eu penso que muitas vezes o ritmo do Trap leva algumas pessoas a fazer e a buscar produzir hits vazios, mais dançantes e com menos letra. E eu acho que isso empobrece sim, pois eu penso que a letra deve servir para além de quem escreveu. E o que vemos é muita coisa que fala simplesmente de Ego, e isso não apenas no Trap, em qualquer estilo. O conteúdo tem que ser rico e que sirva para ajudar ao máximo de pessoas que ele possa alcançar. Pois para mim o maior retorno, o melhor pagamento da minha música ainda é quando rola a real identificação com ela. Quando a minha música ajuda, quando minha escrita ajuda, quando alguém chega e me fala: – “Caralho, aquilo me mostrou uma saída para o meu problema, eu tava pensando errado, realmente a gente tem que levantar a cabeça e seguir. “
Meu amigo Jeanderson Castro usa minha música antes de entrar no ringue pra lutar, ele esta lutando MMA na Irlanda e minha música esta rodando o mundo, pois ele coloca antes de suas lutas para se concentrar antes de entrar no octógono. Se fosse uma música pobre não inspiraria as pessoas, e é sempre no que eu foco, produzir um conteúdo relevante em qualquer formato musical em que produza. A mensagem é o mais importante, como diz uma passagem no disco do MC Spock: “Você tem que escolher bem as palavras, mas não pode se deixar levar pela música das palavras que pela música das ideias.” Tem palavra que é bonita e soa bem, mas existem outras que não rimam tão bem, porem trazem ideias mais fortes. Eu rimo solução, se pudesse resumir meu som, seria isso, rimar soluções.
Oganpazan – E o que podemos esperar de novos lançamentos seus?
Elvis Kazpa – Podem esperar meu primeiro vídeo clipe, que é no que estou trabalhando agora firme pois é minha prioridade no momento. Em julho agora faz um ano que lancei meu primeiro disco e estou também planejando já o segundo. Tomando também como prioridade lançar esse segundo disco no segundo semestre de 2015 e no mais tardar no começo de 2016. Já tenho umas músicas separadas, numa quantidade boa para gravar, mas o que tá faltando é entrar em estúdio. A produção das festas tem tomando muito meu tempo e eu tenho que tirar um tempo para começar a produção do meu disco. A galera tá merecendo, estão cantando tudo nos shows, onde eles só ouvem ali ao vivo e estão cantando. Então eles estão merecendo escutar em casa e perceber aquilo que falávamos da mensagem.
Oganpazan – Se ficou algo que não foi perguntado e você gostaria de perguntar ou se você quiser mandar um salve, o momento é esse.
Elvis Kazpa – Salve aos reais apoiadores do Rap na Bahia a galera que vem fazendo de verdade por nossa cena e lotando nossas festas, comprando nossos bonés, camisetas, cds e ingressos.
Muito obrigado, Vocês são foda!
Continuem comparecendo aos eventos e fortalecendo a cena local, todo mundo só tem a ganhar!
Se você não conhece o trabalho, a hora é essa:
Gostou ? Amanhã tem Trap Crew SSA + Twerk Battle